Há
exatamente 40 anos, no dia 19 de novembro de 1977, o então presidente do Egito,
Anwar Sadat, voou do Cairo para Israel e fez um dos discursos mais impactantes
da história da Knesset, o parlamento israelense. A visita tinha sido organizada
rapidamente na semana anterior e foi o ponto de partida para o primeiro tratado
de paz entre Israel e um estado Árabe.
A estrondosa
recepção de Sadat seguida da assinatura do tratado de paz na Casa Branca criou
uma onda de protestos através do mundo islâmico, tornando-se um espinho no pé
da Liga Árabe. Apenas 10 anos antes, seus membros haviam aprovado a resolução de
Khartum que ficou conhecida como a dos três nãos: não à paz com Israel, não a
negociações com Israel e não ao reconhecimento de Israel.
Passaram-se
outros 17 anos para que a Jordânia assinasse o seu tratado de paz e ela só o
fez depois de Israel e os palestinos terem assinado os Acordos de Oslo. Acordos
que até hoje não se converteram em qualquer paz.
Desde
1994 governos árabes e muçulmanos adotaram uma agenda de radicalização islâmica
que muito contribuiu em promover o antissemitismo e anti-israelismo entre suas
populações. Hoje, este ânimo contra Israel e judeus está arraigado na cultura destes
países. Uma política que na conjuntura atual lhes é contraproducente, e dificílima
de reverter de uma hora para outra.
Mas isto
não quer dizer que não estão tentando. E não mais de um modo sutil e secreto. A
última evidência veio esta semana de uma fonte surpreendente: uma entrevista
num jornal oficial saudita. O entrevistado não foi outro que o Chefe das Forças
Armadas de Israel, General Gadi Eisenkot.
Se
recentemente sentíamos novos ventos soprando na região, isto foi uma tempestade
de areia! É a primeira vez que um oficial israelense dá uma entrevista para a
mídia saudita. Mas o que mais impressionou foi a conclusão da entrevista: que a
Arábia Saudita e o Irã estão cada vez mais próximos de um conflito armado e que
há uma convergência de interesses que levaram os sauditas a abrirem suas portas
para Israel.
O General
Eisenkot disse que “Israel está pronta a dividir inteligência com os sauditas,
se necessário, e que hoje não há como negar os interesses mútuos”. E que “o Irã
quer controlar o Oriente Médio criando um corredor xiita que se estende de
Teerã ao Líbano e do Golfo pérsico ao Mar Vermelho e é imperioso impedir que
isto aconteça”.
A
abertura dos sauditas é tão extraordinária que rumores têm se espalhado na
mídia árabe sobre uma visita secreta que o príncipe herdeiro do trono saudita
Mohamed Bin Salman teria feito a Israel em setembro.
Neste
contexto, a entrevista publica de Eisenkot a um jornal oficial, é uma admissão aberta
da aliança dos antigos inimigos.
O príncipe
herdeiro saudita, apesar de muito jovem, sabe muito bem como navegar na
política de seu país. Para eliminar qualquer oposição, ele está fazendo uma
limpeza na família real, tendo mandado prender vários membros fabulosamente
ricos, acusando-os de corrupção. Mas o príncipe também está indo contra os clérigos
da velha guarda, os defensores do wahabismo, da irmandade muçulmana e outros
movimentos islâmicos radicais, algo que ninguém teve a coragem de fazer no
passado. Ao mesmo tempo, ele tem promovido clérigos que pregam a abertura, a tolerância,
especialmente com o cristianismo e judaísmo, e tem avançado o direito das
mulheres que finalmente terão o direito de dirigir automóveis, de votarem e
serem votadas e de participarem de eventos nacionais. Uma prova que ele quer
fazer seu reinado se aproximar do ocidente.
Mas ainda
melhor que a entrevista de Eisenkot, foi o fato de a Arábia Saudita ter
intimado Mahmud Abbas na semana passada para uma reunião no reinado. No
encontro, os sauditas teriam exigido que o líder palestino aceite o plano de
paz com Israel que será proposto pelo presidente Trump ou então que renuncie.
Um plano que, de acordo com o Canal 10 da tevê israelense, não contempla a
retirada de assentamentos judeus da Judeia ou Samaria, não lida com Jerusalem ou
com o direito de retorno de palestinos para Israel própria. Em troca, os
Estados Unidos reconheceriam a Palestina como Estado e dariam um pacote de
ajuda financeira.
Parece
que a avenida que os palestinos tomaram para ir empurrando com a barriga as
negociações com Israel chegou ao fim. Mas como sua liderança nunca perde a
oportunidade de perder uma oportunidade, Abbas pediu na semana passada que a
Corte Internacional de Justiça processasse israelenses por supostos crimes contra
os palestinos.
No dia
seguinte a administração Trump devolveu a bofetada. Invocando uma provisão
obscura da lei americana, o secretário de estado Rex Tillerson declarou que se
os palestinos não entrassem em negociações diretas e substantivas com Israel em
90 dias, iria ordenar o fechamento da missão da OLP em Washington.
O
porta-voz da Autoridade Palestina, Saeb Erekat, disse que se os Estados Unidos
fechassem a missão, eles não mais retornariam à mesa de negociações. Quer dizer,
vão continuar na mesma.
Por seu
lado, para colocar panos quentes, o ministro das relações exteriores palestino,
Riad al-Maliki, declarou que a Arábia Saudita havia garantido que não
normalizaria as relações com Israel antes de ela chegar a uma solução de paz
com os palestinos.
A declaração
de Maliki pode também ter sido uma resposta à um artigo circulado no jornal da
Hezbollah Al-Akhbar sobre um documento secreto, alegadamente escrito pelo
ministro do exterior saudita sobre um plano de paz regional que isolaria o Irã.
Recentemente,
várias figuras importantes do aparato palestino foram pegas se aproximando do
Irã. Entre elas, o vice chefe político do Hamas, Saleh Al-Arouri que visitou
Teerã no mês passado, escandalizando os sauditas. Isto não seria importante se
a Autoridade Palestina não tivesse assinado um acordo de reconciliação com o
Hamas. Os sauditas querem ver o Hamas desarmado e dissolvido e tem apoiado
Abbas para tanto. E junto com a Arábia Saudita, estão os outros países do Golfo
Árabe que fornecem ajuda econômica vital a Abbas.
Toda esta
virada geopolítica está muito interessante. Israel tem que aproveitar a
aproximação saudita e a claridade da administração Trump e alavancar sua
posição ao negociar com Abbas, se o líder palestino se dobrar às ameaças e
finalmente sentar na mesa de negociações. Mas ele é um osso duro de roer.
Ele não
cumpriu nenhuma promessa feita ao seu povo, especialmente o de conseguir o direito
de retorno de refugiados para dentro de Israel própria. Mas nem mesmo uma
melhora no padrão econômico dos palestinos, apesar de todos os bilhões de
dólares que ele já recebeu.
Israel
sabe que chegou o momento de conseguir um acordo favorável com os palestinos.
Com os sauditas, as crescentes aberturas a Israel seriam ótimas noticias, não
fosse o Irã estar à espreita. Elas podem ser na verdade, um sinal agourento de
que uma guerra com os aiatolás está cada vez mais próxima.
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