Sunday, November 26, 2017

A Prematura Comemoração do Fim do Estado Islâmico - 26/11/2017

Mais uma vez começamos a semana com um total escandaloso e inaceitável de perdas de vidas ao redor do mundo. Cortesia do jihadismo islâmico.  Do domingo passado a hoje foram 538 mortos em 12 países. Em um só ataque no Egito na sexta-feira, 305 pessoas foram brutalmente assassinadas, entre elas 30 crianças.

Este ataque não foi só o mais mortífero da história do Egito, mas o mais coordenado. No auge das preces de sexta-feira, os terroristas detonaram bombas dentro da mesquita em Arish no Sinai. Quando os devotos tentaram sair pelas portas e janelas, de 20 a 30 terroristas estavam esperando em cada uma delas e os metralharam impiedosamente. Os terroristas também queimaram os carros que estavam próximos para evitar a evacuação e atacaram as ambulâncias que começaram a chegar. Testemunhas contaram que os atacantes carregavam bandeiras do Estado Islâmico.

É, o que começa com os judeus nunca acaba com os judeus.

Nas décadas de 70 e 80, na esteira de vários sequestros de aviões, o mundo resolveu desinfetar o terrorismo e transformá-lo em um aceitável “combate pela libertação”. Isto porque se tratava da OLP contra Israel e judeus. Para “comprar” o sossego e evitar ataques contra si, o mundo reconheceu o chefe dos terroristas, Yasser Arafat, como líder palestino, apesar dele ser egípcio, e milhões de dólares jorraram para seus bolsos e os de seus comparsas.

Vendo que o terrorismo compensa, todos os outros grupos de desafetos começaram a usar as mesmas táticas. Do Japão, com o exército vermelho, ao Baader Meinhof na Alemanha, ao exército de libertação nacional irlandês, os Tupamaros no Uruguai e os Montoneros na Argentina, todos copiaram a OLP, usando sequestros, bombardeamentos e intimidação para supostamente alcançarem seus objetivos políticos e ideológicos.

E devido a este mal pensado apaziguamento de criminosos, o terrorismo hoje está fora de controle.

Na última terça-feira líderes iranianos declararam triunfantes, o fim da retenção territorial do Estado Islâmico. O presidente do Irã Hassan Rouhani deu a noticia ao vivo no canal de tevê oficial do estado. O líder da força de elite do Irã - que nunca se manifesta, disse que o califado do Iraque e Síria estava acabado. Pode ser que o grupo tenha sofrido uma derrota territorial. Mas para quem seguiu toda a carnificina da semana, que incluiu o achado de uma vala com 75 corpos de Yazidis chacinados no Iraque, qualquer comemoração da derrota deste grupo é mais do que prematura. E talvez este ataque no Sinai tenha sido uma resposta a Teerã que o Estado Islâmico existe e continua forte.
O Irã, sendo um país xiita, é alvo natural para o estado Islâmico que quer impor uma visão sunita salafista e para eles os xiitas são heréticos. Salafistas, para quem precisa refrescar a memória, são os que querem retornar o mundo aos dias do profeta e assim rejeitam qualquer modernismo ou influência ocidental.  Exceto quando se trata de armas.
Os aiatolás conseguiram até agora evitar ataques substanciais, mas não estão imunes. Em junho deste ano, houve dois ataques simultâneos no parlamento e no túmulo de Khomeini que mataram 18 pessoas em Teerã.
Mas o que todos estão perguntando é porque islamistas sunitas alvejaram uma mesquita sunita na sexta-feira?
Simples. Esta mesquita é frequentada por sufistas. Os sufistas são sunitas como os outros. Eles seguem a sharia e os cinco pilares do Islão. Mas eles têm rituais um pouco diferentes e os mais conhecidos são os dervixes que dançam girando sem parar - que podem ser vistos na Turquia. Os sufistas professam uma versão mística do Islão e sua filosofia é a de olhar para a fagulha iluminada de Deus em cada ser humano e não suas falhas. Os sufistas produziram as peças literárias e poemas de amor mais conhecidos do Islão, como os do jurista iraniano Rumi que viveu no século 13.
Realmente algo que os separa dos que praticam a decapitação e a decepação como os outros ramos do Islão.
Este ataque também foi singular porque o Egito não conseguiu apreender nenhum dos terroristas que fugiram para o deserto do Sinai. O presidente Abdel Fatah al-Sissi não consegue fazer muito além de declarar três dias de luto e mostrar filmes de sua aviação destruindo depósitos de armas dos jihadistas. Se o exército egípcio sabia dos depósitos, porque não os destruiu antes?? O Sinai é um deserto inóspito, mas como no Afeganistão, está cheio de cavernas aonde os jihadistas podem se esconder.
O grande revés da estratégia de Al-Sissi é a falta de inteligência vinda do Sinai colocando seu governo à mercê destes animais.
E assim, Erdogan e Rouhani foram para Sochi nesta semana para se encontrarem com Vladimir Putin. Os três tiraram fotos sorridentes de celebração de sua suposta vitória na Síria contra o Estado Islâmico. Um dia antes, Putin recebeu a visita de Assad que veio lhe lamber as botas. Uma vitória para os mauzinhos da estória.
O comentarista israelense Ehud Yaari declarou que a capital do Oriente Médio agora é Sochi! E ele tem razão. Mas a coisa não para aí.
O que acontece com as tropas americanas na Síria? Há quatro mil soldados estacionados no país que foram enviados para ajudar na guerra contra o Estado Islâmico. Mas mesmo com esta declaração de vitória sobre o grupo, o jornal Washington Post noticiou que a administração Trump não tem qualquer intenção de retirar as tropas da Síria que estão concentradas nas áreas curdas do país. Se isto for verdade, será uma perda para a Turquia que quer erradicar qualquer aspiração curda de independência.
E aí temos a Arábia Saudita e seus aliados. Apesar de não serem tão fortes como o Irã ou a Hezbollah, os sauditas estão bem armados e continuam a receber tecnologia e apoio americanos.  
O que não pode acontecer agora são os Estados Unidos caírem na mesma armadilha do passado: investir na reconstrução de um país que se virará contra eles como o Afeganistão e o Iraque. Hoje a Síria está destruída e manter a ordem é a desculpa que o Irã e a Hezbollah usam para manter suas forças no país. Trump tem que saber que nem um nem outro sairão da Síria mesmo se os Estados Unidos oferecerem pagar pela reconstrução.
O grande vitorioso deste episódio foi sem dúvida Vladimir Putin porque hoje ele tem o domínio da Síria e, a Turquia e o Irã estão se dobrando a ele.
Isto muda a realidade estratégica de Israel, com forças iranianas a poucos quilómetros de sua fronteira norte.
Logo Donald Trump terá que tomar uma decisão sobre o papel que a América pretende assumir no Oriente Médio. E ele tem que saber que ao salvar a Síria estará também salvando estes tiranos. Ele tem que deixar o Irã, a Hezbollah e Putin se virarem para reconstruir a Síria.
Isto dará mais tempo de preparação para o exercito de Israel; mais tempo para consolidar sua aproximação com os países árabes do Golfo e mais para frente teremos uma visão mais clara de como caminhará o impasse entre a Arábia Saudita e o Irã.

Só aí veremos quem poderá realmente comemorar o fim do Estado Islâmico. 

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