Todos nós já
ouvimos a frase: Não custa tentar.
Mas às vezes
custa. E muito.
Há 20 anos
nesta semana, o Presidente Americano Bill Clinton recebia o primeiro ministro
de Israel Ehud Barak e o presidente da Autoridade Palestina Yasser Arafat em
Camp David para tentar resolver o conflito entre Israel e os Arabes.
Não é preciso
prova mais contundente do total fracasso daquela iniciativa do que a completa
falta de interesse da mídia e do mundo acadêmico em comemorar a data. E a razão
é obvia: quem quer marcar o aniversário de um fracasso?
Mas eventos
históricos não se resumem a sucessos. Fracassos também podem ser históricos quando
marcam uma virada ou um marco divisório. E isso foi Camp David.
Este encontro
deveria ter sido o ápice das esperanças dos Acordos de Oslo, assinados 7 anos
antes. O pensamento era que se Israelenses e Palestinos pudessem sentar à mesa
e tentar longa e duramente, com um mediador imparcial e engajado como Bill
Clinton, eles poderiam negociar o fim do conflito centenário, com raízes em
religião, identidade e história.
Mas a lição que
este encontro nos deixou foi um aviso de como não proceder no futuro.
Aprendemos que o que o primeiro-ministro de Israel mais esquerdista de sua
história pôde oferecer – e ele ofereceu mais que qualquer outro antes dele –
ficou a quilômetros de distância do mínimo que Arafat exigia, especialmente
sobre Jerusalem e os refugiados.
Barak
ofereceu 94% da Judeia e Samaria, e outros 6% de território de Israel própria
como compensação e concordou em dividir Jerusalem para não mencionar bilhões em
investimentos internacionais em um novo estado palestino. Os palestinos só tinham
que desistir do direito de retorno para Israel própria e assinar um acordo de
"fim de conflito e de reivindicações" por perpetuidade. A resposta deles foi um sonoro “não” .
Arafat então
decidiu que o que ele não pode conseguir negociando, ele ia conseguir
derramando sangue. E assim, dois meses depois dos tapinhas nas costas de Camp
David, começou a segunda intifada. Quatro anos de terrorismo diário com mais de
mil mortos para Israel.
O que ouvimos
incessantemente dos negociadores internacionais e da mídia é que todos sabem
como resolver o conflito. Simples: tudo o que Israel tem que fazer é se
retirar para as linhas de 1948 com pequenos ajustes, e fazer de Jerusalém oriental a capital do novo estado palestino. Se apenas Israel oferecesse isso, a paz
reinaria.
Não foi exatamente
isso o que Barak ofereceu em 2000?
E é aí que este
pessoal se enrosca. Quando tentam racionalizar a intransigência palestina, e
explicar porque todas essas concessões, que já foram oferecidas em 2001 e 2008, foram
totalmente rejeitadas.
Se o objetivo
dos palestinos é realmente constituir dois estados para dois povos, criar um
estado palestino independente vivendo lado a lado com um estado judeu, por que
esse conflito ainda não foi resolvido?
Não foi
resolvido porque não se trata de uma disputa sobre território. É preciso
entender que o termo "solução de dois estados" significa algo completamente diferente para os palestinos. Para eles, dois estados significam
um estado árabe na Cisjordânia e um estado binacional em Israel. A exigência
palestina é que todos os refugiados palestinos e seus descendentes
perpetuamente tenham o direito de se mudar para Israel a qualquer momento que
escolherem. Em outras palavras, a destruição demográfica de Israel como
um estado judeu.
Os
negociadores ocidentais e os políticos de ambos os partidos políticos
americanos nunca entenderam completamente o que os palestinos estão realmente dizendo. Como todos bons diplomatas eles escreveram documentos gerais e ambíguos para
que tanto os árabes como Israel pudesse declarar vitória!
O que
aprendemos com o fracasso de Camp David é que temos que ser bem específicos colocando no papel exatamente o que é esperado dos palestinos e em troca do quê. Mas isso vai ficar para a próxima geração.
Por quê?
Porque os
árabes não podem, no momento, assinar um acordo que encerre todas as
reivindicações e ponha uma resolução final ao conflito. Que reconheça o direito
de um Estado judeu de existir e viver sem ser molestado em terras que já foram
muçulmanas. Israel sempre exigiu isso e foi rejeitada. Este é o eterno ponto
cego dos negociadores e presidentes americanos que parecem querer apenas um papel
assinado, achando que a ambiguidade criará confiança. Essa também foi a razão do
fracasso dos Acordos de Oslo, pelos quais Israel trocou terras por promessas
não cumpridas.
Eu vou agora
esclarecer um outro ponto. Não há direito internacional para o retorno de
refugiados, certamente não para descendentes de refugiados. De fato, todos os
outros refugiados no mundo auxiliados pelo Alto Comissariado da ONU para
Refugiados devem ser reabilitados no país onde receberam refúgio. E isto foi especialmente
verdade para os refugiados judeus que fugiram dos países árabes depois da
Declaração do Estado de Israel.
Os palestinos
dizem “que continuarão a buscar uma paz justa que proporcionará às gerações
futuras seu direito de primogenitura; suas terras serão devolvidas, de um jeito
ou de outro.” Os ocidentais ingênuos só ouvem as palavras "paz justa"
e assumem que isso significa dois estados para dois povos. Na verdade, o que
isso significa é o direito ilimitado de todos os palestinos e seus descendentes
de se instalarem em Israel em perpetuidade.
O debate da
anexação obscureceu o verdadeiro paradigma do conflito. A questão a ser feita não é se
Israel anexar 30% da Judeia e Samaria, se isso acabaria com o sonho de um
estado palestino. A pergunta é: os palestinos estão prontos a aceitar a Judeia e Samaria com
trocas de terras que garantam a segurança de Israel? eles assinariam uma resolução
de fim de conflito e aceitariam um estado judeu? A resposta hoje é não. Então
como disse, este não é um conflito territorial, ou isso teria terminado há
muito tempo.
Se os
obstáculos para um acordo final são intransponíveis nesse momento, que assim
seja. O que é necessário é não aceitarmos um suposto acordo de paz de apenas
concessões infrutíferas por Israel.
Camp David e
a Segunda Intifada fundamentalmente mudaram o cenário político de Israel. Nunca
mais um partido de esquerda foi eleito para liderar o país e a esquerda vem
perdendo cada vez mais apoio.
E tudo isso começou há 20 anos atrás quando
tentar custou muito para Israel.
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