Na última sexta feira, uma barragem de 20 mísseis caiu no norte de Israel. Esta barragem veio dois dias depois de três mísseis terem sido lançados do Líbano sobre Kyriat Shemona. A diferença é que os mísseis da quarta-feira teriam supostamente sido lançados por um grupo palestino fora da lei. Mas na sexta, a Hezbollah tomou a responsabilidade diretamente.
O
interessante é que a Hezbollah enviou mísseis para campos abertos e ninguém foi
ferido. A pergunta é, por que agora?
A primeira
coisa que veio à mente é que o Irã tem um novo presidente. Na quinta-feira,
Ebrahim Raisi, o Açougueiro de Teerã, assumiu o cargo, prometendo uma
radicalização e uma beligerância ainda maior do Irã.
Como com a
Coreia do Norte, que precisa mostrar seus músculos a cada mudança de líder, o
Irã, através de seu filhote a Hezbollah, está tentando mandar uma mensagem para
Israel, que chegou um novo líder. Uma atitude muito adulta.
Se por um
lado Raisi deu preferência a se encontrar com líderes de grupos terroristas
logo depois de sua inauguração, como o Hamas e a Hezbollah, por outro, ele
declarou em inglês que está disposto a negociar diplomaticamente a suspensão
das sanções contra seu país.
Não há nada
de novo sobre um líder do Irã falar pelos dois lados da boca, especialmente
quando muda para o inglês. Mas houve uma razão para Raisi ter sido escolhido pelo
Supremo Líder Ali Khamenei, para substitui-lo. E isso tem a ver com os milhares
de protestos em todo o país contra a situação econômica e a ruina da infraestrutura
pelo mal gerenciamento dos aiatolás.
É esperado
que Raisi, "o Açougueiro", para seguir a linha dos aiatolás, irá
governar com punho de ferro, fechar as comunicações com o exterior, reprimir violentamente
os protestos em todo o país e mentir sobre tudo para a comunidade
internacional.
E não há dúvidas
que ele continuará a tradição de culpar os Estados Unidos e Israel pelas
terríveis dificuldades econômicas – a América pelas "sanções
paralisantes" e Israel por agressão (seja lá o que isso for).
A diferença é
que hoje o povo iraniano está tão farto de situação nas mãos deste regime que
não acredita mais nesta propaganda. Eles querem comida no prato e água na
torneira, ambos os quais estão tão em falta quanto a eletricidade. Uma
vergonha! um dos dez maiores produtores de petróleo e gás do mundo, ter que
racionar eletricidade, água e comida.
O fato de que
as manifestações contra o governo incluam slogans pedindo a morte de Khamenei
significa que o povo não tem mais medo das penas de morte e tortura que recaem
sobre os dissidentes iranianos. O povo está dizendo que não tem mais nada a
perder e sai nas ruas para denunciar o financiamento da Hezbollah no Líbano, as
milicias no Iraque, os Houthis no Iêmen, o terrorismo palestino do Hamas, sem
falar do dinheiro gasto com mísseis balísticos e ogivas nucleares.
O problema é
que o que eles têm a ganhar (a mudança de governo) pode ser facilmente
frustrado pelas fantasias de Washington. Sim, o governo Biden incrivelmente se
recusa a abandonar o desejo de retornar os Estados Unidos a alguma forma do Acordo
Nuclear de 2015 como a única maneira de conter a ameaça de Teerã.
A idiotice e
ingenuidade da ilusão da equipe Biden é tanta, que eles acreditam firmemente que
um acordo com o regime liderado pelo açougueiro de Teerã (e numa outra
oportunidade vamos falar do porquê do título tão elogiador) garantirá maior
"transparência" de suas atividades nucleares e, portanto, uma melhor
capacidade de mantê-lo sob controle. Raisi, sem dúvida, deve ter dado altas gargalhadas
quando leu isso.
É como se
esta administração americana tivesse resolvido esquecer o monstruoso arquivo
que o Mossad retirou do Irã, e que deu provas concretas da violação do Acordo
Nuclear por Teerã e prontificou Donald Trump a sair dele.
Raisi, também
está ciente de que foi o conteúdo destes arquivos que levou à assinatura no ano
passado dos Acordos Abraão entre Israel e os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein,
e a aproximação com outros vizinhos árabes. Esses países não estavam apenas
interessados em se alinhar com os durões do pedaço – Trump nos Estados Unidos
e Benjamin Netanyahu em Israel. Seu maior interesse era e continua a ser, de
impedir que o Irã obtenha armas nucleares armas e exporte sua revolução terrorista
para seus países.
Raisi sabe
que precisará exercer força bruta sobre um público furioso e flexionar seus
músculos para o Ocidente mas apenas o suficiente para ser apaziguado e
conseguir mais concessões.
E isso nos
traz a Israel. Durante uma reunião em Jerusalém na quarta-feira com
embaixadores de países membros do Conselho de Segurança da ONU, o ministro da
Defesa israelense, Benny Gantz, afirmou inequivocamente que a Força Aérea do
Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica estava por trás de “dezenas de ataques
terroristas no Golfo Persico empregando drones e mísseis”, inclusive o último a
um navio gerenciado por uma companhia israelense aonde o Irã matou um cidadão
britânico e um da Romênia.
Yair Lapid,
ministro das Relações Exteriores de Israel foi mais além dizendo que “este foi
um crime internacional”, e perguntou “o que a comunidade internacional vai
fazer a respeito? O direito internacional ainda existe? O mundo tem a capacidade
e a vontade de aplicá-la? Se a resposta for sim, então o mundo precisa agir
agora.” Caso contrário, "será cada um por si".
O Irã conta
com isso, e com razão - especialmente tendo em vista a decisão da União
Europeia de enviar o diplomata Enrique Mora à cerimônia de posse de Raisi. E
uma vez que Raisi anunciou que "certamente negociará para suspender as
sanções", a presença de Mora, mesmo tendo sido relegado a um banco de trás
da cerimônia de posse, significa que a UE está tão ansiosa para voltar ao Acordo
Nuclear como os Estados Unidos. E ataques letais de drones a navios comerciais para
a UE são questões menores.
A imagem do
representante europeu sentado atrás do Hamas e da Hezbollah, mostra que a
liderança iraniana quer reforçar a ilusão americana de que só um acordo que irá
suspender as sanções poderá trazer o Irã para a mesa de negociações e a ilusão
de que os aiatolás continuam firmes e fortes dentro de casa.
No dia 26 de
julho, o Comandante da Guarda Revolucionária iraniana, Hossein Salami declarou
que "todo o mundo muçulmano se tornou uma arena de jihad e os arrogantes
[americanos] estão fugindo". Ele disse que “o Líbano e a Hezbollah agora
estão fortes e capazes contra os sionistas, e toda vez que o inimigo se mover, a
Hezbollah o cortará pela raiz.” Salami continuou dizendo que os inimigos “devem
saber que a nação iraniana não desistirá do Islã e da revolução por causa de
cortes de energia ou falta de água ... O povo do Irã tem mostrado nestes dias
que é leal aos ideais do Islã e dos da revolução."
Salami
parecia não entender que as imagens das pessoas protestando contra o regime
corrupto e repressivo conseguiram chegar ao Twitter e mostrar a discrepância entre
suas palavras e o que se passava na rua de baixo. Mesmo assim ele disse algo que
acredita ser verdade: que “hoje, o Irã está ditando os termos sobre os quais
uma superpotência como a América retornará ao acordo nuclear, e isso indica a autoridade
exercida pelo Irã islâmico.”
Biden e seus
companheiros europeus não devem provar que esta corja está correta. Chegou a
hora de tirar proveito das rachaduras na armadura deste regime.
Mas se
conhecemos Biden, isso não vai acontecer num futuro próximo. E neste caso,
Israel terá que agir sozinha. Esperemos que o primeiro-ministro Naftali Bennett
e seu novo governo esteja à altura da tarefa e que a oposição se una a ele nesta
empreitada.
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