Desde ontem os noticiários têm se concentrado no que ocorreu na votação do Conselho de Segurança da ONU que queria condenar o regime de Bashar Assad pela carnificina em massa que está ocorrendo na Síria.
Depois de semanas de negociações, a Rússia e a China vetaram a resolução dizendo que era parcial e não conduziria à restauração da ordem no país.
A embaixadora americana na ONU, Susan Rice, disse que os Estados Unidos estavam enojados com o veto e os outros membros permanentes do Conselho, a França e o Reino Unido – disseram estar furiosos. 13 membros do Conselho votaram a favor da resolução.
Sem dúvida, o veto foi a maior derrota dos países que esperavam enviar uma mensagem unida à Assad e também aos grupos de oposição que esperam contar com o apoio da ONU para sua causa.
Rice ainda disse que “aqueles que bloquearam a resolução terão o futuro sangue derramado em suas mãos. O povo sírio foi mais uma vez abandonado por este Conselho e pela comunidade internacional”. Ela continuou dizendo sobre a Russia que “esta intransigência é ainda mais vergonhosa quando consideramos que estes membros continuam a entregar armas a Assad”.
E não é que a resolução chamava por uma intervenção armada ou algo do tipo. Ela seguiu a resolução da Liga Árabe, pedindo a resignação de Bashar Assad para acalmar os ânimos e a violência no país.
Sírios que moram no exterior têm pedido uma ação internacional para por fim aos ataques a civis e vários protestos se tornaram violentos nas embaixadas sírias no Kuwait, Cairo, Washington, Berlin e Londres.
Somente neste final de semana 321 civis foram mortos na cidade de Homs. Estes números não podem ser verificados pois a imprensa internacional foi em sua grande maioria expulsa do país. Prédios residenciais foram bombardeados e fogos ateados. A oposição decretou uma greve de dois dias em protesto.
Sírios acusam a comunidade internacional de não fazer nada enquanto os corpos se empilham nas ruas. E depois destes vetos o regime de Assad se sentirá ainda mais fortalecido para continuar os massacres.
O absurdo é que o ministro do exterior russo disse que as vendas de armas para a Síria não afetam o equilíbrio de forças na região. Talvez, se você falar em relação a Israel. Mas não quando estas armas estão sendo voltadas contra civis desarmados.
Esta votação nos ensina que a Russia e a China efetivamente suportam a tirania no lugar das aspirações legítimas do povo sírio e não é a primeira vez. Em outubro do ano passado eles vetaram outra resolução que pedia pela imediada cessação das retaliações do governo. De lá para cá, mais de 6 mil pessoas morreram. ONGs estimam que o número ultrapasse 7,340 pessoas.
Mas os vetos nos ensinam ainda outra coisa: antigas alianças não morrem fácil e não podemos confiar na ONU para prevenir guerra ou fazer a paz. Por isso Israel está olhando para a situação na Síria com apreensão.
Um oficial israelense disse que esta não é uma situação de “melhor o diabo que você conhece que um que você não conhece. O que você conhece já é bem ruim”, se referindo à aliança da Síria com o Irã e a ajuda material, financeira, logística e militar para a Hezbollah e o Hamas.
Mas uma maneira para a situação se tornar pior, é se a Síria cair num tipo de anarquia que vemos na Somália, desatando uma violência que direta ou indiretamente poderá derramar para dentro de Israel.
Convenhamos que a Russia nunca foi uma campeã da democracia e paz ao redor do mundo. Isto não é algo que “computa” na elite russa. Basta tomar as táticas eleitorais de Vladimir Putin que não sai do poder há anos. Em 2008 ele não pode concorrer para o cargo de presidente pela terceira vez, e foi nomeado Primeiro Ministro. Agora está novamente no páreo e grandes protestos contra sua candidatura já acontecem em Moscow.
A Russia pode ver a Siria como seu único real aliado na região. Ela mantém um porto militar no Mediterrâneo em Tartus e os Assad sempre foram fiéis compradores das armas russas.
E isso não foi uma decisão de apenas Hafez Assad ou seu filho mas do aparato governamental sírio. Bashar foi colocado no poder para manter este aparato da minoria alawita que controla o governo, os militares, a inteligência e a polícia. Esta minoria vai lutar até o fim para se manter no poder pois sabe que após anos de opressão, haverá um sangrento acerto de contas com a maioria sunnita do país.
Mas o que a Russia está fazendo agora é um erro estratégico se posicionando do lado de um ditador que está massacrando seu povo. A realidade histórica do momento não pode ser simplesmente negada. Depois da própria Liga Árabe decidir que ele precisa deixar o poder, não haverá como Assad restaurar sua legitimidade como líder, tanto interna como externamente.
As potências como a Russia e China têm que se adaptar às mudanças dos tempos e entender que manter velhas alianças tem um custo muito alto. Hoje os massacres são televisados em tempo real e não há muito estômago para crianças torturadas e mortas com armas russas. O erro é ainda maior se levarmos em conta o suporte russo ao Irã shiita que está tentando dominar os árabes sunnitas.
Assad já era. Agora é hora de enviarmos uma mensagem histórica à Russia e à China: há um limite para o uso da força para manter velhas ditaduras. Reformas econômicas não são suficientes para a geração facebook, twitter e google. Os jovens querem viver em democracias com completa liberdade de expressão. E esta onda não vai demorar a bater à suas portas.
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