Sunday, March 8, 2015

Obama versus Netanyahu - 08/03/2015

O grande evento da semana foi o discurso do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Por dias, sua poderosa mensagem foi dissecada pelos peritos, comentaristas e a mídia.

Apesar de o presidente Obama ter dito que não assistiu o discurso, ele conseguiu falar sobre ele por 11 minutos.  E suas palavras não foram nada amáveis para com o primeiro ministro de Israel.

Netanyahu conseguiu não só fazer uma contabilidade precisa dos fatos, inclusive de todas as instâncias em que o regime iraniano ameaçou apagar Israel do mapa, mas ele também expôs o aiatolá Rouhani como um verdadeiro tirano e opressor, longe da imagem de moderado, tão festejada pela mídia. Tudo o que o presidente não queria para convencer o Congresso a aprovar seu acordo com o Irã.

Obama, repetindo as palavras de Nancy Pelosi e outros democratas, disse que Netanyahu não havia apresentado qualquer alternativa viável. Depois de ouvir isso, acredito que ele não tenha assistido mesmo o discurso.

Na verdade, Netanyahu não disse nada de muito novo. Mas ele estressou alguns pontos que precisavam ser ditos por um líder com claridade moral. Primeiro, que não há nada mais perigoso para o futuro da humanidade do que o casamento do islamismo radical com a bomba atômica; segundo, que o regime iraniano chamado de Republica Islâmica não é diferente do Estado Islâmico, tirando o fato que o primeiro é xiita e o segundo sunita. Ambos querem a liderança do mundo islâmico e ambos querem aplicar a sua versão literal do Alcorão. O regime iraniano enforca pessoas em praças públicas, o Estado islâmico as degola. Mas Netanyahu foi ao Congresso por outra razão: ele foi avisar que se os Estados Unidos entrarem num mau acordo, o Estado judeu reserva o direito de se defender sozinho.

E é claro que Netanyahu apontou para uma solução. A única solução e a que estava dando resultados: a imposição de sanções econômicas ao Irã. Nas duas vezes que o povo iraniano saiu às ruas para exigir reformas, primeiro na revolução de 1979 e depois em 2009, a causa foi a economia e os mulás sabem disso. A única coisa que pode causar sua queda é a pressão econômica.

Mas de repente, aí está Obama, para lhes salvar a situação. O levantamento parcial das sanções já levou a economia iraniana a uma recuperação robusta. Esta melhora encorajou os Aiatolás a expandirem seus tentáculos. Para todos os efeitos, os iranianos hoje dominam quatro capitais árabes: Damasco, Beirute, Sana’a e Bagdá. Desde o império persa, há mais de 2.500 anos, que o Irã não tinha tanto impacto e influência no Oriente Médio.

Além de arrastarem as negociações para avançarem seu programa nuclear os iranianos estão também mostrando seus músculos ao ocidente. Não só eles explodiram uma maquete em tamanho natural do maior porta-aviões americano há duas semanas, enquanto seu ministro do exterior se reunia com John Kerry, mas agora eles tomaram a liderança das forças do Iraque na guerra contra o Estado Islâmico. Foi sob o comando da guarda revolucionária iraniana que o exército iraquiano retomou a cidade de Tikrit. Um verdadeiro tapa na cara das tropas americanas que deixaram bilhões de dólares e incontáveis vidas no Iraque.

Hoje as tropas do Iraque estão sendo treinadas, supervisionadas, armadas e comandadas pelo Irã. O Irã já domina o Líbano através da Hezbollah, os Houthis tomaram o poder no Yemen e a Síria continua a ser um satélite do Irã.

Com os inspetores, a situação não é melhor. A Agência Internacional de Energia Atômica submeteu um questionário de 12 questões ao Irã, que parcialmente respondeu a primeira pergunta e se recusou a responder as outras. A Agência denunciou informações falsas que o Irã lhe tinha fornecido sobre a capacidade das centrifugas e quanto urânio estava sendo enriquecido.

Os mulás querem ressuscitar o império persa, trazerem o seu messias, o Mahdi, e o final dos tempos. E para alcançarem este objetivo eles precisam da bomba.

Não é preciso ser profeta para ver o que está acontecendo. O Irã está literalmente repetindo a tática usada pela Coreia do Norte. O acordo será assinado, o Irã esconderá e mentirá; centrífugas subterrâneas continuarão a enriquecer urânio, inspetores serão enganados até a hora de testar a primeira bomba. Aí os aiatolás denunciarão o acordo, expulsarão os inspetores e anunciarão ao mundo que já é tarde demais.

E não há qualquer dúvida que eles usarão a bomba.

O Irã ganhou e nós perdemos. O que eles queriam era um alívio das sanções e tempo para prosseguirem com seu programa nuclear. Este objetivo foi alcançado. Só por concordar em negociar, o Irã recebeu carta branca para continuar a financiar o Hamas, a Hezbollah, o governo de Bashar Assad na Síria, a colocar seus generais na fronteira com Israel, a enviar “conselheiros” para a Venezuela e outros governos da América do Sul, e a continuar a humilhar os Estados Unidos.

O triste é que estávamos quase lá. Se tivéssemos mantido as sanções, e a economia do Irã em rédeas curtas, poderíamos até sonhar com uma mudança de regime, talvez até alguma democratização. Poderíamos ter exigido o desmantelamento das centrífugas e quem sabe, até uma melhora nos direitos humanos.

Mas hoje não podemos mais ter este tipo de esperança. Entregamos numa bandeja a única coisa que forçaria o regime iraniano a capitular.

Depois do discurso de Netanyahu, democratas o acusaram de seguir o roteiro de guerra de Dick Cheney ou de fazer um teatro com um problema que não existe. Eles estão errados. O terrorismo islâmico está se espalhando e os grupos estão se alinhando com o Estado Islâmico ou com o Irã. Exatamente como ocorreu na guerra fria.

Hoje mesmo, o grupo Boko Haram, que já matou mais de 17 mil pessoas na África, declarou se unir ao Estado Islâmico.  

Estamos aproximando o momento de verdade. Um momento muito similar ao de Chamberlain e Hitler. O discurso de Netanyahu foi um momento Churchill para trazer clareza e nos apontar o norte neste descompasso histórico. Foi um diagnóstico da marcha desta ideologia patológica para dominar o mundo.

Não podemos confiar nos iranianos. As sanções precisam continuar até eles desmontarem suas centrífugas. Ponto final. Não é quanto urânio o Irã pode enriquecer. Ele não precisa enriquecer nenhum. O Irã é o país mais rico do globo em petróleo e gás natural. Só existe uma razão para eles terem um programa nuclear. E a nós cabe a obrigação de negarmos a eles a bomba.




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