Wednesday, May 20, 2015

O Jogo Sujo do Irã - 03/05/2015

Em maio de 2010, o secretário geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, disse na Conferência de Revisão das Partes do Tratado de Não Proliferação Nuclear, que “temos que lembrar que estamos aqui não simplesmente para evitar um pesadelo nuclear, mas para construir um mundo mais seguro para todos.”

Cinco anos mais tarde, o mundo não está mais seguro. Isto é devido em grande parte à politica americana de Obama de estender a mão a tiranos mas também porque na ONU a voz de ditadores e corruptos do terceiro mundo hoje têm o mesmo peso que as nações desenvolvidas.

Assim, na Conferência deste ano, o Irã, representando todos os 120 países do Movimento Não-Alinhado, do qual o Brasil é observador, exigiu que os países que tenham armas nucleares desistam de modernizar ou estender a validade de seus arsenais nucleares. Seu ministro do exterior Mohamed Javad Zarif, especialmente designou Israel como a maior ameaça para a região devido ao seu suposto arsenal nuclear.

A cara-de-pau de Zarif e dos mulás que ele representa é inacreditável. Além de usar seu discurso para chamar Israel de pária do mundo e o maior obstáculo para a paz do planeta, Zarif também exigiu que a tecnologia nuclear seja trocada entre os signatários deste tratado. Assim, Zarif está pedindo para os Estados Unidos e outras potências nucleares para dividirem com o Irã sua tecnologia nuclear. Para quem reivindica ter um programa nuclear pacífico, porque não?

O fato do Irã não permitir inspeções e ter mentido recentemente sobre suas centrífugas e usinas nucleares, parece passar despercebido para o resto da humanidade. O fato de o Irã promover e financiar atos terroristas nos cinco continentes - inclusive na América do Sul - parece não preocupar nossos líderes. O fato de o Irã ser o pivô patrocinador dos maiores conflitos no Oriente Médio, não é o suficiente para impedi-lo de representar os 120 países não alinhados.

Não importa que a Inglaterra diga ter evidências de uma sofisticada rede de fornecedores de partes e tecnologia nuclear para o Irã que aponta para um programa nuclear armamentista. Quando se trata do Irã e outras tiranias, os ouvidos dos membros da ONU estão selados.

E os mulás sabem disso. Por isso vemos o Irã habilmente se posicionar em todos os campos para abocanhar o Oriente Médio e de lá, o mundo.

O Irã está usando sua liderança nesta conferência para fazer a ONU pressionar Israel a revelar se tem ou não um arsenal nuclear e se tiver, desarmá-la. Ao fazê-lo, o Irã poderá então cumprir sua velha promessa de apagar o Estado judeu do mapa sem temer uma retaliação nuclear.

Por outro lado, o Irã continua a financiar o Hamas no sul, a Hezbollah no norte, além de ter enviado generais de seu exército para a fronteira síria com Israel para continuar a guerra de atrito.

Com relação aos países sunitas como a Arábia Saudita e os países do Golfo que são seus maiores obstáculos para uma hegemonia xiita, o Irã há décadas está se posicionando para estrangula-los social e economicamente. Milhares de xiitas tomaram residência nestes países formando hoje uma oposição preocupante. Em 2011, Bahrain teve que pedir ajuda do exército saudita para esmagar uma revolta destes xiitas. Protestos de xiitas se espalharam pela Arabia Saudita, Kuwait, Qatar e Emirados numa tentativa de desestabilizar estes países.  Economicamente, a recente tomada do Yemen pelos Houthis xiitas dará ao Irã controle do estreito de Aden e também do de Ormuz que são as únicas vias de escoamento de petróleo dos países sunitas.

Além disso, o Irã está ativamente enviando missionários para os quatro cantos do mundo, com a missão de converter populações inteiras ao islamismo xiita. O falecido Hugo Chavez deu carta branca aos mulás e eles já converteram milhares de índios Wayuu Guajira através da organização Hezbollah Venezuela.  A Hezbollah também está presente em Cuba e vários artigos apontam para o grande interesse do Irã em fazer o mesmo proselitismo no Brasil.

O Irã quer desviar a atenção do mundo para toda esta atividade para algo que a maioria está sempre pronta a fazer: condenar Israel. Zarif disse que os “estados não-alinhados veem as supostas armas nucleares que Israel teria desenvolvido como uma séria  ameaça para a segurança dos estados vizinhos e para outros estados e condenou Israel por continuar a desenvolver e amealhar um arsenal nuclear”.

Israel nunca confirmou nem negou ter capacidade nuclear e nunca assinou o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. O mundo assume que o Estado judeu seja o único país o Oriente Médio com um arsenal nuclear. Mas outros países, inclusive os declaradamente nucleares como a Índia e o Paquistão também nunca assinaram o Tratado e a Coréia do Norte que o havia assinado, voltou atrás depois que o ex-presidente Clinton eliminou as sanções econômicas contra o país.

Esta ação calculada por parte do Irã é clara. Numa postura cínica de santo protetor da humanidade, o Irã aponta o dedo acusador para Israel e para a capacidade nuclear da OTAN.

Se 5 anos atrás o Irã era apenas mais um membro da Conferência, este ano, ele se fortaleceu a ponto de castigar outros. E ao pressionar para o mundo gastar suas energias com Israel, o Irã continua a desenvolver mísseis e a enriquecer urânio para sua preciosa bomba.

E é isso o mais irritante. Enquanto Teerã se apega a uma posição moral anti-armas nucleares, o mundo sabe que Israel é a única democracia sólida e prudente da região. Se Israel tem realmente a bomba, não é agora que a desenvolveu. Ela deve tê-la há pelo menos 50 anos! E nunca ameaçou ou fez qualquer uso indevido dela. Certamente, Israel nunca ameaçou apagar nenhum outro país do mapa, inimigo ou não.

O Irã é exatamente o oposto. O país tem um regime que professa um islamismo radical apocalíptico que pode ser definido com palavras como volátil e imprevisível. Não há equivalência moral ou qualquer outra entre uma democracia que se defende de constantes ataques e uma tirania apocalíptica e expansionista.

O mundo tem que deixar de ser cínico e hipócrita e parar de ignorar os milhares de massacres cometidos por muçulmanos na região inclusive contra suas próprias populações como vimos na Síria. A implicação aqui é ter a democrática Israel pressionada enquanto o tirânico o Irã escapará o escrutínio. O cowboy será desarmado e o bandido armado até os dentes.

A pergunta é como as democracias europeias e os Estados Unidos podem se prestar a jogar este jogo sujo do Irã? Como podem eles continuar a condenar e jogar suas frustrações em Israel? Parece que só a história poderá responder a estas questões.


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