Quando pensamos na revista Vanity Fair,
muitas coisas vêm à mente. Celebridades, moda, glamour. Tirando a primeira
entrevista do campião olímpico Bruce
Jenner que recentemente se tornou Caitlin Jenner seus artigos não são
controversos ou provocativos. Por isso, foi com surpresa que nesta edição de
agosto, vimos um artigo extenso sobre o anti-semitismo na França.
O artigo começa recontando os
acontecimentos de uma manifestação pró-palestina num dos bairros mais chiques
de Paris em Julho de 2014 fazendo a pergunta: "Como pode alguém pintar uma
suástica na estátua de Marianne, a deusa da liberdade francesa, no centro da Praça
da Republica?” Bandeiras palestinas, do Hamas e até do ISIS brandidas por
manifestantes fora de controle que gritavam “Morte aos Judeus”, “Morte aos
Judeus”!
Hoje
anti-semitas racionalizam seu sentimento dizendo-se ser anti-sionistas ou anti-
as politicas de Israel. Mas a verdade fica sobressaindo na pele. E é por isso
que centenas de manifestantes invadiram o bairro judaico de Paris, o Marais,
procurando com barras de ferro, machados e paus o seu destino final: não a
embaixada israelense, mas uma sinagoga.
Fora dos
portões da sinagoga, os manifestantes gritavam: "Hitler estava certo!
Judeus, saiam da França! "Assim, uma manifestação de protesto contra
Israel foi caçar a comunidade judaica para puni-la.
O governo
francês, naturalmente, também aproveita a racionalização e suas declarações ao
final querem dizer que se somente Israel capitulasse e parasse de se defender,
os judeus na França não teriam este tipo de problema. Aí eles centram a
discussão no fato das ações de Israel provocarem o antisemitismo quando está
claro que o anti-sionismo é apenas uma fachada para seu anti-semitismo arraigado.
Fica
também dificil explicar as estatísticas do Ministério do Interior francês.
Segundo seu relato, embora a população judaica ser menos do que 1% da
população, 51% de todos os ataques racistas foram cometidos contra judeus.
Mesmo se "vestir como judeu", como ter uma estrela de david ou uma
kipa é visto como provocador.
Será por
isso que esta revista de moda tenha dedicado tanto espaço para esta materia? A
crise na França não é uma série de ataques aleatorios e individuais. O grande problema é que hoje ser anti-semita
na França é popular.
Você não
pode portar uma estrela de david mas desenhar uma suástica num monumento à
liberdade da França, se tornou aceitável, compreensível.
Esporadicamente,
e especialmente após uma chacina, ouvimos pronunciamentos apaixonados como o do
Primeiro-Ministro Manuel Valls que disse que "para entender o que é a
ideia da república francesa, você tem que entender o papel central desempenhado
pela emancipação dos judeus. É um princípio fundamental." E falando sobre
o êxodo corrente dos judeus franceses para Israel, Canadá e outros países, ele
disse que“se 100.000 judeus forem embora, a França não será mais a França".
A França
é a capital liberal do mundo. O bastião da tolerância. Mas sendo incapaz de
aceitar sua minoria judaica, a França recua em seus próprios princípios, os
valores que ela estabeleceu para si própria três séculos passados. Nas palavras
do primeiro-ministro se isso acontecer: "A República Francesa será
considerada um fracasso."
Como
resultado dos últimos horrendos atentados, a França aumentou significativamente
a segurança nas escolas judaicas, centros culturais, e sinagogas que hoje estão
sendo guardadas por forças do exército francês. Shimon Samuels, Diretor de
Relações Internacionais do Centro Simon Wiesenthal conta que "os soldados
jogam futebol no quintal com as crianças". "Três soldados com
metralhadoras na entrada. Dois na porta dos fundos. Cinco olhando para dentro.
É quase um estado de guerra ".
Bem longe
do glamour que era uma vez o liberalismo francês.
Mas as medidas
de segurança não são suficientes e dão a impressão de que os poucos os judeus
estão sendo colocados em guetos. Instituições cercadas, pessoas escoltadas. Mas
o governo não consegue proteger todos os locais. Ela, por exemplo, não controla
ataques anti-semitas nos cemitérios – diariamente lápides são vandalizadas com suásticas,
destruidas. O governo nem mesmo mantém uma contagem. Apesar da reação do
público aos massacres do Charlie Hebdo e do Super Cacher, ataques antisemitas no
primeiro semestre de 2015 aumentaram em 84 por cento. A quantidade de
manifestantes violentos tem deixado policiais franceses e as autoridades
impotentes para responder, paralisados pela sua própria dimensão.
Em 26 de
julho último, o dia marcado para manifestações anti-Israel-que virou demonstrações
"! MORTE AOS JUDEUS", contou com milhares de manifestantes – muito
superiores aos 2.000 policiais franceses enviados para manter a ordem.
Como dito
pela Vanity Fair:
O
presidente de uma linha de roupas de luxo que estava assistindo horrorizado à
manifestação se tornar numa quebradeira, disse a um policial: “Faça alguma
coisa! Você vê o que está acontecendo aqui? " A resposta do policial foi:
"O que você espera que façamos?"e em seguida, o policial desviou o
olhar impotente.
Homens e mulheres da polícia francesa
não conseguem para proteger a população judaica por uma razão fundamental: eles
não deveriam ter que faze-lo. A França deveria ser um bastião da liberdade,
aonde todas as minorias se sentissem seguros, especialmente uma minoria que é
parte do tecido da sociedade desde o começo da história do país.
Mas há algo intuitivamente antinatural
sobre forças do governo irem contra a vontade do povo. Se os civis vão para a
rua em massa, em busca de sangue judaico, o problema ultrapassou as questões de
policiamento. É uma questão mais profunda, vinda do público, da população. É
uma questão de o que é popular hoje. A mídia tradicional se recusa a falar
sobre o problema e minimiza a natureza e a violência dos ataques para não ser
chamada de “ofensiva” para com os muçulmanos e seus simpatizantes franceses. E
enquanto o governo e a mídia não decidirem atacar o problema em sua raíz,
ficará para a Vanity Fair nos avisar quando o anti-semitismo deixar de ser moda.
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