Nas últimas horas o Secretário do Exterior da Inglaterra Philip Hammond
pessoalmente reabriu a embaixada do Reino Unido em Teerã. Há 4 anos, a embaixada
foi invadida e destruida a mando da milicia basij do governo. A entrevista que Hammond
deu para a BBC mostrou o estado de espírito em que se encontram os líderes do
mundo em relação ao Irã. De acordo com ele, já é excelente o fato deles poderem
“falar” com os mulás. Para a Inglaterra, pegar o telefone e encontrar alguém do
outro lado da linha parece já ser um sucesso sem precedentes especialmente
quando tantos britanicos estão correndo para concluirem acordos milionários na
terra dos aiatolás.
Parece que tudo está caminhando para a reintrodução do Irã na comunidade
internacional e como uma potência nuclear reconhecida. Mas uma nova pesquisa de
opinião da CNN neste final de semana, mostrou que a maioria dos americanos se
opõe à aprovação do acordo pelo Congresso. E a com a revelação de outros detalhes sobre o
acordo incluindo a existência de tratos paralelos e secretos, esta oposição só
tende a aumentar.
Os americanos desaprovam especialmente a maneira pela qual o Presidente
Obama conduz seu relacionamento com o Irã. 60% dos americanos desaprovam o
acordo e as açoes do presidente em relação à Republica islâmica. O Congresso
tem até o meio de setembro para rever o acordo e passar uma resolução para
desaprová-lo. Se pelo menos 2/3 dos votos no Congresso forem contra o acordo,
eles poderão anular qualquer veto de Obama.
Nesta semana um destes tratos paralelos veio à tona, indicando que serão
os próprios iranianos que conduzirão inspeções na usina nuclear de Parchin.
Esta é a usina aonde o Irã conduz pesquisas em armamento nuclear.
Independentemente do Congresso aceitar ou rejeitar ofertas Irã há outro
aspecto deste acordo que está sendo esquecido pela mídia internacional. O Irã,
ou melhor, o Supremo Líder do Irã, Ali Khamenei, ainda não aprovou o acordo que
ele próprio ajudou a negociar. É ele quem tem a palavra final e até agora suas
declarações têm sido apenas de animosidade aos Estados Unidos e ao ocidente.
Este aspecto tem sido negligenciado por que para nós nos Estados Unidos
e Europa, uma rejeição pelo Supremo Líder não faz sentido. Este acordo é
extremamente favorável para a República Islâmica do Irã, legitimando sua
pesquisa nuclear, garantindo o seu futuro programa de armas nucleares, ajudando
a economia e principalmente impulsionando seus objetivos internacionais de
hegemonia. Estas vantagens faria parecer absurdo para Khamenei não aceitar o
acordo. Além disso, a maioria dos iranianos estão comemorando o acordo.
Mas na visão islâmica, rejeitar o acordo faz sentido se não levarmos em
conta estas vantagens imediatas e
olharmos para os perigos que a abertura do país traria para a sobrevivência do
regime iraniano. Líderes de governos fanáticos e brutais como o de Khamenei,
invariavelmente, fazem da pureza ideológica e poder pessoal as suas maiores
prioridades, e ele não é exceção. E este acordo apresenta para ele pelo menos
dois problemas em seu impacto na longevidade do regime.
Primeiro, o acordo trai a visão do aiatolá Ruhollah Khomeini de
inimizade inflexível para com os Estados Unidos, um princípio fundamental que
tem orientado a república islâmica desde seu golpe em 1979. Uma grande parte da
liderança, incluindo o proprio Khamenei segue a uma visão purista que vê
quaisquer relações com os Estados Unidos inaceitável e beirando a traição. Por
esta razão, Teerã tem sido a única capital do mundo a não procurar melhores relações
com Washington. Estes líderes rejeicionistas desdenham os benefícios do acordo
e o fazem por razões de princípio.
Sua posição não é única. Da mesma forma, os palestinos se opõem aos
tratados com Israel, independentemente de seus benefícios econômicos e sociais,
não querendo de modo algum mudar o status quo com o inimigo. (Pense nos acordos
de Oslo de 1993, que trouxe terra, dinheiro, legitimidade e armas.) Princípio triunfam
sobre a praticidade.
Em segundo lugar, os oponentes iranianos se preocupam muito com a erosão
dos valores islâmicos da revolução de Khomeini. Eles temem que os empresários,
turistas, estudantes, artistas, e assim por diante, que chegarão ao Irã irão
tentar ainda mais a população local para longe do caminho difícil de
resistência e martírio em favor do consumismo, o individualismo, o feminismo e o
multiculturalismo . Eles desprezam e têm pavor da roupa americana, da música, dos
vídeos e da educação. Nesta semana Khamenei acusou os Estados Unidos de
tentarem “penetrar no país." Do seu ponto de vista, o isolamento e a
pobreza têm suas virtudes como meios para manter a revolução iraniana viva.
Assim, o debate iraniano sobre o acordo é genuíno, colocando aqueles que
argumentam em favor de benefícios a curto prazo contra aqueles com medo de seus
perigos a longo prazo. Khamenei deve fazer uma escolha difícil.
De volta ao Ocidente, os adversários do acordo se alegrarão se ao final,
o impensável ocorrer e Khamenei rejeitar o acordo. Mas isto também apresentará um
problema. Obama tem afirmado repetidamente que rejeitar o acordo coloca estes
congressistas do mesmo lado que a linha dura e radical do Irã. O
primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, atualmente ostracizado por
Obama está especialmente em risco de ser colocado nesta categoria.
Para evitar esse destino, os oponentes do acordo devem se preparar
imediatamente para a possibilidade de um improvável "não" iraniano.
Isso significa que devemos nos antecipar a Khamenei prevendo e até mesmo
esperando sua rejeição do acordo. Deve haver um esforço substancial para
explicar para a mídia que as razões da rejeição do Irã nada têm a ver com a sua
substância e vantagens do acordo e tudo com a pureza da ideologia e da
manutenção de um espírito revolucionário. Desenvolver uma familiaridade e
aprender os meandros da ideologia do Irã. Anticipar as desculpas que Obama irá
apresentar e lembrar ao público da ilusão de parceria que ele queria apresentar
quando ela não existir.
Trabalhar numa nova política para com Teerã para renovar as sanções
econômicas e impor outras penalidades. Tentar encontrar aliados para ajudar a
implementar este regime de sanções, apesar da imensa dificuldade hoje pois já
há renovações de relações comerciais com o Irã. E finalmente, preparar o mundo
para a real possibilidade de uma ação para destruir a infra-estrutura nuclear
do Irã.
A rejeição do acordo de Viena seria uma grande notícia para todos,
especialmente para os que se opõem a ele – mas precisamos urgentemente nos
prepararmos para esta eventualidade.
Ao final das negociações de Munique, Winston Churchill disse a
Chamberlain que ele teve duas opções: a desonra ou a guerra. Que ele escolhera
a desonra e de qualquer forma teria a guerra. Churchil estava correto. E neste
caso, a história se repetirá sem que nossos líderes tenham aprendido com as
lições do passado.
No comments:
Post a Comment