Sunday, September 13, 2015

Shanah Tovah! - 13/09/2015

Em algumas horas o ano judaico de 5775 irá terminar e celebraremos o novo ano que começa com o por do sol. Amanhã na sinagoga perguntaremos quem irá viver, quem irá morrer, quem por fogo e quem pela água.

Este verão que termina no hemisfério norte começou com a chegada de algumas centenas de migrantes da África procurando melhores condições de trabalho na Europa. Mas a indecisão do ocidente em bater de frente com o Estado Islâmico no Iraque e na Síria transformou esta onda num tsunami. Hoje milhares de refugiados vindos principalmente da Síria tomam um caminho perigosíssimo para chegar à costa europeia. Só ontem foram 10 mil refugiados.

As centenas de milhares que se encontram em campos na Jordânia estão procurando também ir para a Europa e não enfrentarem mais um inverno nestes campos miseráveis. Assim, atrás dos milhares que conseguiram chegar na Alemanha, Suécia e outros países, existem milhões que logo irão bater nas portas da Europa.

O Presidente do Conselho Europeu Donald Tusk disse esta semana que a “onda de imigração não é um incidente isolado mas o começo de um verdadeiro êxodo” notando que a Europa terá que lidar com isso por muitos anos vindouros”.

Esta massa de refugiados vindos do Oriente Médio para a Europa é certamente o evento do ano não só pela quantidade astronômica de individuos mas também por sua qualidade. Como demonstrado por Tusk, não é preciso ser um teólogo para ver a similaridade de povos inteiros enfrentando o mar para a liberdade. 

Também não é preciso ser um historiador  para fazer analogias entre este drama e as grandes migrações da Asia que precederam o saque de Roma.

A pressão destes migrantes está se formando e ainda não chegou ao seu ápice. Muitos governos europeus têm razão para temer que tal invasão irá de fato causar fissuras na Europa.

A busca da Europa por coesão politica, apesar das tribulações econômicas, hoje está sendo colocada em questão por vários governos que querem soluções diferentes para esta crise. Foi o que fez o primeiro ministro da Hungria Viktor Orbans se colocar contra a Chanceler alemã Angela Merkel.

De fato, não fiquem surpresos se Merkel for a ganhadora do premio nobel da paz. O evento do ano foi sem dúvida impactado por sua visão, compaixão e determinação, tudo em contraste com a maioria dos outros líderes do mundo que até há duas semanas atrás ainda se diziam surpresos pela massa humana procurando refugio.  

Nos últimos anos, vimos a crescente radicalização e fragmentação das sociedades no Oriente Médio. Sunnis que lutam contra Shiitas e entre si. Minorias exterminadas, escravizadas e oprimidas. Regimes caem, se levantam e caem de novo. Hoje, cada sociedade árabe está em guerra ou em perigo de entrar em guerra. E em cada caso não se trata do bem lutando contra o mal mas são vários graus de barbarismo lutando entre si.

Da OLP ao Estado Islâmico, passando pelo Hamas, a Irmandade Muçulmana, o regime de Bashar al-Assad na Siria, os aiatolás no Irã, a Hezbollah, o regime de Erdogan na Turquia , a Arábia Saudita, todos usam algum grau de tortura e opressão regularmente. E todos o fazem enquanto quotam o al-Corão.

Israel até que tem respondido racionalmente para o massacre em suas fronteiras. Ela ajuda aonde pode. Por exemplo, Israel está dando assistencia ao governo egípcio em sua guerra contra os jihadistas no Sinai. Também está dando suporte ao regime da Jordânia. E finalmente Israel dá ajuda humanitária para as vítimas do banho de sangue na Síria. Os hospitais no norte do país estão cheios de feridos sírios.

Mas ainda é cedo para dizermos se a humanidade de Merkel não só impactou a história mas também a moldou. No topo, sua inclusão tem que ser aceita por outros líderes mas no final, o impacto social, religioso, cultural, economico, e politico deste influxo migratorio pode ter um resultado totalmente diferente do que ela tinha em mente.

Os vulcões politicos, os terremotos sociais, os tsunamis migratórios que o mundo árabe causou irão dominar não só esta década mas todo este século que começou com os ataques de 11 de setembro de 2001.

A linha entre impactar a história e moldá-la às vezes é muito fina. Este é o caso de Mohamed Bouazizi, o pobre vendedor de legumes que ateou fogo a si próprio em Tunis e assim deflagrou e simbolizou um movimento que começou com fogo na África do Norte antes de chegar às praias do sul da Europa.

A atual corrente migratoria, por sua vez, não pode ser atribuida a um indivíduo, seja ele um membro da elite, como Assad ou um homem do povo como Bouazizi. Mas ela tem um símbolo.

Alan Kurdi tinha três anos quando seu corpo foi engolido pelas águas do Mediterrâneo entre a Turquia e a Grecia. Mesmo assim, em sua breve vida, ele foi vitimado por quatro doenças que assolam o mundo árabe: o tribalismo, o fundamentalismo, o racismo e a tirania.

O tribalismo dos líderes alawitas da Siria os fizeram odiar a minoria kurda na qual ele nasceu. O fundamentalismo das tropas do Estado Islamico que invadiram sua cidade de Kobani, forçaram seus pais a fugirem para salvarem sua vida. E a tirania síria privou a familia do menino de passaportes que lhes dariam a oportunidade de emigrarem de modo seguro, uma violação dos direitos humanos que é parte da perseguição do regime de Assad de sua minoria Kurda.

O pequeno menino de short azul e camisa vermelha que parecia dormir na praia foi vítima das elites árabes que alimentam as massas no Oriente Médio com uma dieta diária de ódio, violência, ignorancia, fanatismo, destituição e desespero. 

Isto em parte responde à pergunta do porque países árabes ricos como a Arabia Saudita, Kuwait, Bahrain, Qatar não abrirem suas portas. Mesmo o fazendo, estes refugiados sabem do tratamento que irão receber e preferem a Europa. Alan Kurdi está morto, mas na sua morte ele escancarou os regimes politicamente decadentes, socialmente despedaçados e moralmente falidos do Oriente Médio e fez o mundo livre ouvir o grito de socorro dos indefesos.

Apesar de todas as condenações do ocidente que continua a pressionar Israel para mais concessões para estes bárbaros para supostamente trazer uma paz ilusória, Israel continua a ser um oasis de estabilidade nesta região.


É verdade, Israel está só. Mas estar só não é sempre a pior coisa. Hoje, com certeza não é a pior opção.   

Assim, na prece de amanhã quando perguntarmos nas sinagogas “quem por fogo e quem pela água?” muitos de nós irá pensar no que começou com um feirante queimado na Tunisia e continuou com um bebê afogado nas praias da Turquia.


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