Sunday, July 24, 2016

O Enganoso Golpe de Erdogan - 24/7/2016

A tentativa de golpe na Turquia há duas semanas teve todos os sintomas de uma fraude. A chamada do povo às ruas através da mídia social e a simultânea prisão de milhares de militares, juízes e acadêmicos em apenas dois dias, apontam para um planejamento avançado e coordenado que não poderia ser apenas resultado da eficiência de alguns partidários de Erdogan enquanto o presidente estava supostamente de férias, longe da capital.

Primeiro, as forças atrás do suposto golpe aparentemente se enganaram com o dia e hora que ele deveria acontecer. Sua suposta tentativa de cortar a comunicação entre Erdogan e suas forças de segurança e a população e de tomar os principais centros do poder simplesmente falharam; e, de acordo com Erdogan, estas forças também falharam em mata-lo por diversas vezes. Isto não faz qualquer sentido!  

Em seu discurso na última quarta-feira, Erdogan declarou que 99 generais estavam envolvidos na tentativa de golpe. Que exército incompetente! 99 generais juntos não conseguiram alcançar um só objetivo planejado?

Segundo, com tanta gente envolvida em tantos departamentos do governo e da vida civil, absolutamente ninguém vazou a informação? De acordo com Erdogan, nove mil policiais, seis mil soldados, 30 governadores regionais e 50 servidores públicos de alto escalão, junto com estes 99 generais, estariam envolvidos no golpe. Já pensaram esconder a reunião de todos eles para planejar o golpe? Erdogan quer mesmo que acreditemos que ele foi pego de surpresa enquanto estava de férias?

O terceiro ponto é ao que já me referi. Em 48 horas, pelo menos 36 mil pessoas foram presas ou demitidas de seus cargos incluindo 1.500 servidores do ministério das finanças, 15 mil do ministério da educação, 15 mil reitores de universidades e uns três mil juízes e promotores, incluindo dois juízes do Supremo da Turquia. Isto aconteceu no momento? Levou o quê? Um minuto para compilar esta lista de milhares de traidores?? Não há como negar que Erdogan vem planejando esta farsa há tempo, com o único propósito de eliminar qualquer oposição.

Mesmo antes destes últimos acontecimentos Erdogan já tinha restrito substancialmente as liberdades democráticas na Turquia. Hoje há mais generais e jornalistas nas prisões turcas do que em qualquer outro país do mundo. Ao acabar com o resquício do liberalismo e debate democrático, a Turquia está a caminho de se tornar uma completa autocracia islâmica.

As implicações disto para o Ocidente e para Israel em particular são astronômicas. Um país não democrático não pode fazer parte da OTAN; mas a Turquia está planejando ampliar sua participação na organização.

Outro sinal que este “golpe” fora calculado é o fato de ter acontecido alguns dias após a assinatura de um acordo de reconciliação com Israel. Por este acordo, a Turquia não só assegurou o fornecimento de milhões de metros cúbicos de gás, mas a permissão de financiar a reconstrução de Gaza.  Do lado de Israel, isto deveria facilitar sua integração na OTAN removendo a objeção da Turquia e colocar rédeas no Hamas trocando projetos militares por civis. Mas agora que Erdogan destruiu qualquer resto de oposição, ele deverá voltar a apoiar a agenda islâmica do Hamas com quem ele se identifica ideológica e religiosamente.

A reação da Europa e dos Estados Unidos ao suposto “golpe” foi de apoio a Erdogan em uníssono. Temos agora um regime islâmico altamente tóxico, firmemente plantado às portas da Europa.

Nem a Europa, nem os Estados Unidos parecem preocupados com o aumento do autoritarismo e ações antidemocráticas do presidente turco. Eles esqueceram que Erdogan apoiou o Estado Islâmico contra Bashar Assad na Síria até o grupo se virar contra ele.

E é aí que entra o lado maior desta loucura. O ex-embaixador de Israel nos Estados Unidos, Michael Oren, contou que o presidente do comitê para assuntos exteriores do parlamento holandês lhe disse recentemente que os piores debates entre os legisladores são sobre Israel. Oren, surpreso, então perguntou: “me deixe entender direito, seu país está em crise econômica, dezenas de milhares de refugiados estão entrando por suas fronteiras, a União Europeia pode estar se desfazendo, e ainda assim, o assunto que está no topo da lista é Israel?”

Pois é. E só para confirmar, um dia antes do suposto “golpe” na Turquia, o Secretario de Estado americano John Kerry, que estava na Rússia para discutir a situação na Síria, declarou que a primeira fonte de instabilidade na região era o impasse entre Israel e os palestinos.

É brincadeira?? Com tudo o que está acontecendo na Turquia, Síria, Líbano e Iraque, a desintegração do Iêmen a da Líbia, o Irã testando mísseis intercontinentais em violação ao acordo nuclear, ataques terroristas quase que diários na Europa e uma onda de refugiados que não estanca, e a maior instabilidade vem de Israel??

É. E é por isso que François Hollande decidiu organizar uma conferência de paz sobre Israel e os palestinos em meio a seu estado de emergência e no meio da saída da Inglaterra da União Europeia.

Kerry, Hollande e outros europeus ainda promovem a antiquada ideia que o conflito entre Israel e os palestinos é o pivô de toda a violência envolvendo o mundo muçulmano e árabe. Eles teriam que saber mas nunca reconhecerão que se não houvesse Israel, o ódio entre xiitas e sunitas, o terrorismo internacional, massacres e genocídios ainda ocorreriam.

A verdade é que a declaração de Kerry não foi um deslize. Ele já concedeu que haverá o reconhecimento do Estado Palestino frente a uma audiência internacional que só está esperando a legitimidade americana perante as Nações Unidas em setembro.


Este é o legado que o presidente Obama quer deixar. Ele sai da presidência este ano traindo Israel e jogando a sorte da América com a Rússia, o Irã, a Hezbollah e todos os regimes alinhados com a Irmandade Muçulmana. Ele deixa a América enfraquecida e o mundo substancialmente mais perigoso. Caberá ao povo americano eleger alguém que consiga desfazer este caos ou uma incompetente que continue a perpetuar esta política.


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