Como disse Clare Booth Luce, dramaturga americana e a primeira
mulher embaixadora dos Estados Unidos, não há boa ação que fique impune. E é o
que vimos esta semana tanto em Israel como nos Estados Unidos.
Há meses que o Hamas, o grupo terrorista que governa a
Faixa de Gaza, tormenta os moradores do sul de Israel. Túneis, pipas em fogo,
coquetéis molotov e centenas de mísseis lançados diariamente sobre a população
civil.
E a cada sexta-feira a violência redobra após as
supostas preces. Preces invariavelmente seguidas de sermões antissemitas e
venenosos incitando a população a se dirigir à cerca de separação para corta-la
e invadir Israel. E a falta de uma retaliação israelense séria tem sido objeto
de muito debate entre a população do sul do país.
A comunidade internacional, como sempre, se atém na
suposta crise humanitária de Gaza. Uma crise gerada por limites de energia
elétrica, água potável e total abandono da infraestrutura deixada por Israel em
2005. Mas uma crise que surpreendentemente não diminui a capacidade do Hamas de
produzir mísseis, de cavar túneis ou de chantagear Israel.
No final de outubro, já em meio à suposta crise, o
Hamas exigiu que Israel transferisse 15 milhões de dólares em dinheiro a cada
mês, pagos por Catar. Isto seria para contornar o controle e supervisão de
Mahmoud Abbas sobre quanto e quem é pago na Faixa de Gaza.
Desde 2014, dezenas de milhares de funcionários
públicos do Hamas têm sido pagos esporadicamente. Naquele ano a Autoridade
Palestina bloqueou de sua folha de pagamento 40 mil funcionários do setor
público do Hamas, contratados depois que os islamistas assumiram o controle de
Gaza. Vamos lembrar que este bloqueio é parte de uma estratégia de sanções
extremas adotadas por Abbas contra o Hamas que afetam a população da Faixa, mas
são totalmente ignoradas pela mídia.
Assim, depois
que o Hamas prometeu deter a violência ao longo da fronteira e o lançamento de
mísseis e dispositivos incendiários de Gaza, na quinta-feira passada, numa cena
que lembrou filmes da máfia, Netanyahu transferiu três malas recheadas de
dinheiro para o Hamas.
E
imediatamente vimos o resultado. O carro que levou o dinheiro, junto com o
enviado de Catar Mohamed Al-Emadi, foi apedrejado por dezenas de jovens na
saída, de volta a Israel aonde ele está estacionado. E quem achou que o Hamas
iria cumprir sua palavra na sexta-feira, ficou desapontado.
Depois das
preces, mais violência na fronteira irrompeu e um palestino conseguiu se
infiltrar colocando fogo nas estufas da comunidade de Netiv Há’asara, causando
um dano de milhões de shekels. Não só as plantações foram destruídas, mas
equipamentos, sementes, as estufas, os insumos, as vendas e o trabalho de anos
desta comunidade perdidas. Fora a
preocupação de como este árabe de Gaza conseguiu entrar em Israel e chegar numa
comunidade civil.
É claro que
isto gerou uma tremenda crítica a Netanyahu. Sua maior inimiga, Tzipi Livni,
acusou o primeiro ministro de Israel de tentar subornar o Hamas e de vender a segurança
do país. Sim, para os que pensam linearmente isto pode até parecer plausível.
Mas vejamos o
que está acontecendo em outra fronteira de Israel. No Líbano e na Síria.
Sabemos que o Irã está comandando as ações do governo Bashar al-Assad e de seu exército
que retornou à fronteira em setembro. No Líbano, a Hezbollah, o grupo xiita
apoiado pelo Irã está em total controle do país. Como os mulás não conseguiram
transferir armamentos de precisão para a região por causa do trabalho de
inteligência de Israel, eles instalaram uma fábrica bem no meio da capital do
país, Beirute.
Ontem mesmo, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah,
condenou a normalização de Catar com Israel e disse que "a fonte de sua
força são os mísseis porque o exército libanês não pode adquirir mísseis
avançados", Ele continuou dizendo que Israel está cometendo um erro pois é
o Hezbollah que tem o poder. E que ele irá responder a qualquer ataque
israelense ao Líbano.
Está claro que Israel sabe algo que não sabemos. Na
minha estimativa, o Irã está incitando os ataques de Gaza para provocar uma
resposta de Israel. E assim que ela vier e o exercito estiver engajado contra o
Hamas, a Síria e o Líbano atacarão ao norte, colocando Israel na posição
difícil de ter que defender duas fronteiras ao mesmo tempo.
De qualquer maneira, os árabes continuam a não perder
oportunidades de perderem oportunidades. Com esta recepção da quinta-feira e a
violência da sexta, é pouco provável que Catar ou Netanyahu concordem em mais
transferências de dinheiro.
Nos Estados Unidos, todo o progresso econômico, o
menor desemprego em décadas, foi retribuído a Donald Trump com uma vitória dos
democratas na Camara dos Deputados. Mas esta vitória ficou muito aquém da onda
azul que a mídia e os institutos de pesquisa previram. Na câmara dos deputados
os democratas ganharam 27 assentos o que lhes deu a maioria de apenas 2 votos.
Mas perderam três assentos no Senado que tem muito mais peso.
Outro fato interessante destas eleições é que todos os
candidatos para governador apoiados por Barack Obama perderam assim como outros
apoiados por celebridades como Oprah, Beyonce, J-Zee e outros.
Os resultados desta eleição naturalmente colocará
empecilhos para Trump cumprir a agenda prometida. Mas até Ronald Reagan, na
eleição de 1982 perdeu 26 assentos na Câmara dos Deputados e ganhou apenas um
no senado. Ele também teve que lidar com um Congresso dividido. Mas em 1984
Reagan foi reeleito por uma maioria esmagadora.
Vamos ver o que acontecerá daqui a dois anos.
E para finalizar, hoje os líderes do mundo comemoram os
100 anos da assinatura do armistício e o fim da Primeira Grande Guerra. A Guerra
que na época foi definida como aquela que iria acabar com todas as guerras,
tamanha a devastação causada.
Entre civis e militares foram entre 15 e 19
milhões de mortos. Mas em vez de ter sido uma guerra para acabar com todas as
guerras, o armistício foi uma paz que acabou com toda a paz, até hoje. A
ganancia dos vencedores disputando os despojos em territórios e possessões
levou o mundo à outra guerra mundial em apenas duas décadas.
E hoje, 100 anos
do fim da primeira e 80 anos do começo da segunda, infelizmente não estamos
mais perto de qualquer paz duradoura.
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