O presidente da Turquia, Recep Tayyip
Erdogan, colocou ontem a pedra fundamental para a primeira igreja a ser
construída na Turquia desde 1923, com a fundação da república moderna. Quer
dizer, em quase 100 anos, nenhuma igreja nova foi construída na Turquia.
Em meio a sorridentes fotos, calorosos
apertos de mão e tapinhas nas costas de Erdogan com o Patriarca da comunidade siríaca,
Yussuf Cetin, os mais de 560 anos de opressão dos cristãos na Turquia pareceu
nunca terem ocorrido. Esta nova igreja em Istambul servirá os 15.000 cristãos siríacos
da cidade, que batalharam pela licença de construção por mais de 10 anos.
A hipocrisia deste homem não conhece
limites. Há apenas alguns meses, Erdogan declarou que o local mais famoso de
Istambul, a Hagia Sophia, uma basílica bizantina magnífica, era uma mesquita e nunca
voltaria a ser uma igreja enquanto houvesse um povo turco.
Esta basílica foi um local de culto
cristão por quase mil anos. Ela foi construída na antiga Constantinopla, que
hoje é Istambul, em 537 por Justiniano I, imperador bizantino. Depois da
conquista otomana de 1453, o sultão Mehmet II converteu a basilica em mesquita.
Minaretes foram adicionados no exterior, e o caráter cristão destruído no
interior.
Em 1935, o presidente Kemal Ataturk
decidiu fazer da Hagia Sophia um museu. Algo que Erdogan quer reverter. Ele
permitiu que preces islâmicas fossem feitas no local e para insultar mesmo, ele
leu uma prece em tributo ao conquistador Mehmet II de dentro da basílica. Além
disso, em 2015, pela primeira vez em 85 anos, um clérigo muçulmano recitou o alcorão
do santuário e desde 2016, o governo autorizou leituras islâmicas a serem
transmitidas pela rádio e tevê, direto da basílica durante todo o mês de
Ramadã.
Com a aproximação da Turquia ao Irã e à Rússia,
a democracia turca está sendo seriamente questionada pelo ocidente pondo em
risco até sua filiação na OTAN. Neste mês os Estados Unidos suspenderam a transferência
dos aviões F-35 para a Turquia ato que ela disse ter sido “injusto”. A foto com
o patriarca é um golpe de marketing. Nem há qualquer garantia que a igreja será
mesmo construída.
Erdogan resolveu mostrar a verdadeira
face do que se passa na Turquia. A face que ela tem tentado esconder e enganar o
mundo desde o genocídio dos armênios. Mas hoje não há mais porque esconder a
perseguição das minorias que vivem no país há milênios.
De acordo com o relatório anual da
Comissão de Liberdade Religiosa Internacional Americana de 2019, a Turquia é uma
das “nações em que as violações cometidas ou toleradas pelo governo durante
2018 são sérias, sistemáticas, contínuas e notórias de acordo com a Lei de
Liberdade Religiosa Internacional. A prisão de pastores, inclusive americanos,
jornalistas, ativistas e acadêmicos sob acusações falsas são rotina.
Apesar dos cristãos representarem menos
de meio por cento da população da Turquia, Erdoğan os representa como uma grave
ameaça à estabilidade do país. Com sua retórica jihadista, Erdoğan declara que
os turcos cristãos não são verdadeiros turcos, mas colaboradores ocidentais. O
lançamento de um serviço oficial de genealogia on-line permitindo aos turcos
traçarem sua ancestralidade estimulou uma onda xenofóbica por expor o que eles
chamam de "cripto-armênios, gregos e judeus". Isto lembra a vocês algo como as
leis de pureza racial dos nazistas?
Mas a perseguição da minoria cristã na
Turquia antecede Erdoğan. O Império Otomano deportou e massacrou cristãos em
massa, culminando no genocídio armênio. O fim da Primeira Guerra Mundial viu a
expulsão de mais de um milhão de gregos. Ataturk e seu programa de igualdade social
não impediu que os islamistas dominassem as instituições nacionais e
preparassem o terreno para o que está acontecendo agora.
A primeira indicação sinistra do que
estava reservado para os cristãos ocorreu em dezembro de 1998, quando Erdoğan, ainda
prefeito de Istambul, anunciou que as "mesquitas são nossas barracas, as
cúpulas nossos capacetes, os minaretes nossas baionetas, e os fiéis nossos
soldados", ressaltando a fundação
islâmica da identidade turca. Assim que assumiu o comando do país, Erdogan implementou
essa visão, sistematicamente desfazendo o legado secularista de Atatürk e
islamizando o espaço público da Turquia.
As coisas vieram à tona durante o suposto
“golpe” de 2016 (entre aspas porque para mim foi tudo orquestrado por Erdogan
para se livrar da oposição). Naquela ocasião o regime ordenou que os imãs
fossem para suas mesquitas e incitou os fiéis a tomar as ruas. O resultado foi
um sem número de ataques a cristãos e a igrejas em todo o país.
Na época, o pastor
de Istambul Yüce Kabakçı lamentou dizendo que “hoje há uma atmosfera na Turquia
que qualquer um que não seja muçulmano sunita é uma ameaça à estabilidade da
nação. Mesmo as classes educadas procuram não se associar com judeus ou
cristãos. Eles querem se livrar de qualquer um que não seja sunita.
Várias igrejas foram desapropriadas
incluindo a histórica igreja armênia Surp Giragos de 1700 anos. O governo turco
também tomou várias propriedades dos cristãos assírios e as transferiu para
instituições públicas.
O incitamento anti-cristão continuou em
ritmo acelerado. Em fevereiro de 2017, a Associação de Igrejas Protestantes da
Turquia divulgou um relatório dizendo que o discurso de ódio anti-cristão havia
aumentado de tal modo que haviam sérias ameaças terroristas, e um governo não
disposto a impedir ou proteger estas comunidades.
O que está acontecendo é um
verdadeiro genocídio de cristãos na Turquia e no resto do Oriente Médio e Norte
da África – com exceção de Israel, e o mundo está calado. Há uma ameaça
existencial a uma das religiões mais antigas da região e não se ouve sequer um murmúrio dos líderes do cristianismo mundial.
O ministro de Relações
Exteriores do Reino Unido, Jeremy Hunt, declarou que “há evidências de que "o
cristianismo é de longe a religião mais perseguida no Oriente Médio", e que
“atos de violência e outras intimidações contra cristãos estão se tornando a
norma.”
Sem surpresa, ele disse que “algumas das
comunidades cristãs mais antigas do mundo estão desaparecendo, incluindo na
Síria, no Iraque e nos territórios palestinos, considerado o local de
nascimento de Jesus.
Nos territórios palestinos, os cristãos foram
de 10% da população, para menos de 1,5%; na Síria, a população cristã caiu de
1,7 milhões em 2011 para menos de 450 mil; e no Iraque, o número de cristãos foi
de 1,5 milhões antes de 2003 para menos de 120 mil. No total, os cristãos caíram
de 20% para 4% no Oriente Médio, precisamente por causa das leis islâmicas discriminatórias
e opressivas, normas sociais repressivas, violência sancionada pelo Estado e
atos de terror contra cristãos.
Esta situação deveria ser denunciada diariamente
pelos governos ocidentais, pelas igrejas, pelos pastores, pelas pessoas em
geral. Os muçulmanos são recebidos de braços abertos em nossos países e eles
não veem isso como uma bondade, mas uma fraqueza. A Europa já está pagando o
preço desta “bondade” e os clérigos muçulmanos estão se gabando que finalmente estão
completando a conquista islâmica da Europa.
A destruição, o fanatismo e a intolerância
que o Ocidente conseguiu evitar com as vitorias europeias contra os invasores islâmicos em
732 na batalha de Tours e nos dois cercos de Viena em 1529 e 1683, está hoje
convidando através de suas próprias mãos por conta de um descontrolado
politicamente correto.
A lição de Churchill fica: aqueles que deixam
de aprender com a história estão fadados a repeti-la.
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