Sunday, August 11, 2019

O Nono Dia de Av - 11/8/2019


Tudo começou em 1313 antes da Era Comum. Moisés enviou doze espiões, um de cada tribo, para explorar a Terra de Canaã. A Terra que D-us havia prometido a Abraão e para a qual Moisés estava levando o povo depois do milagroso êxodo do Egito. Dez dos espiões, no entanto, voltaram com impressões negativas da terra. Eles contaram que apesar dela ser boa e farta, sua conquista seria impossível, pois “seus habitantes eram muito poderosos e suas cidades fortificadas e grandes”. Os outros dois espiões, Caleb e Yoshuah tentaram desfazer esta impressão afirmando que a conquista era sim possível. Mas o povo acreditou nos outros. Naquela noite choraram e chegaram a pedir a Moisés para voltar para a escravidão no Egito. Era a noite do 9 de Av. Por causa da falta de fé, aquela geração foi punida, condenada a errar durante 40 anos no deserto.

Daí por diante, o 9 de Av sempre foi marcado por grandes tragédias do povo judeu. Poucos exemplos são: as destruições do Primeiro e do Segundo Templo, o edito de expulsão dos judeus da Inglaterra em 1290, a expulsão dos judeus da Espanha em 1492, o começo da Primeira Guerra Mundial - precursora da maior onda de antissemitismo e genocídio da história moderna; as deportações do Gueto de Varsóvia para Treblinka que levaram 870 mil judeus para a morte e mais recentemente em 2005, a expulsão dos 8 mil judeus da Faixa de Gaza.

Ontem à noite em Jerusalém, milhares de judeus se reuniram para a marcha anual de Tisha Be'Av em volta dos muros da Cidade Velha carregando bandeiras israelenses. Um silêncio sagrado e reflexão pairaram no ar enquanto um chazan recitava a Megilat Eichah (Lamentações do profeta Jeremias escritas durante a destruição do primeiro Templo). Em Nova Iorque, o local mais procurado pelos judeus é a sinagoga Espanhola e Portuguesa. Sua tradição marcante de ler as lamentações completamente no escuro, todos sentados no chão segurando apenas uma pequena vela, atraem centenas, mas ontem a atmosfera solene foi quebrada pela quantidade de segurança nas portas e a dificuldade de entrar na sinagoga. Devagar, estamos vivendo no limite.

Também em Jerusalém a marcha não foi aquela brisa. A incitação dos últimos dias vinda dos imãs agitou os muçulmanos que foram seguindo os judeus, jogando insultos, cuspes e os costumeiros Allah Uakbar.

Ouvir xingamentos e ver os olhos dos inimigos cheios de ódio evocam as cenas que nossos ancestrais devem ter testemunhado durante o cerco de Jerusalém e sua destruição. Imagens que estão profundamente gravadas em nossa consciência. Não porque não queremos esquecer mas porque os que nos odeiam não nos deixam esquecer.

Achamos que depois da vergonha do Holocausto o mundo tinha colocado um fim ao antissemitismo. Mas não. Milhares de judeus foram mutilados e assassinados nos últimos anos por terroristas árabes, apesar dos acordos de Oslo que deveriam ter trazido a paz.

O último episodio ocorrido há menos de uma semana. A vítima, um garoto de 18 anos, Dvir Sorek, voltava de Jerusalém para seu seminário com livros de presente para seus mestres. A 50 metros da porta da escola ele foi esfaqueado nas costas múltiplas vezes. Ele nunca viu o rosto de seus assassinos.

Seus amigos, todos ainda meninos, estavam inconsoláveis em seu enterro. Na Autoridade Palestina e em Gaza comemorações irromperam celebrando os terroristas. A pergunta é: o que causa um ódio tão grande para dois irmãos de 24 e 30 anos de idade, marmanjos, adultos, decidirem sair de casa numa manhã e assassinar impiedosamente um menino, só por ele ser judeu? Em menos de três dias os dois foram presos mas agora são elegíveis para receber salários milionários da Autoridade Palestina.  

Este programa de pagamentos a terroristas é tão importante para manter Mahmoud Abbas e sua corriola no poder, que em março deste ano ele cortou os salários dos funcionários públicos e em abril, cortou o tratamento médico de mais de cem mil palestinos em Israel, que custa 100 milhões de dólares por ano, tudo para continuar a pagar mais de 138 milhões de dólares para os terroristas. O Vice-Primeiro Ministro Nabil Abu Rudeina justificou a decisão dizendo que “os salários das famílias dos mártires e dos prisioneiros serão pagos independente do custo, pois não é possível abandonar ou tratar de modo leviano o sustento dos heróis palestinos”. E apesar do aperto financeiro, estes “heróis” receberam um aumento de 12% só este ano.  

Do nosso lado, continuamos a compartilhar o trauma e a tristeza de mais uma vida ceifada cedo demais. E apesar dele temos que agradecer às forças de segurança de Israel que todos os dias previnem outros ataques.

O aumento da incitação à violência e a falta de tolerância dos árabes estão traduzidas em suas decisões de bloquear o acesso ao Monte do Templo a todos que não sejam muçulmanos. Até o ano 2000 qualquer um podia comprar um ingresso e subir na Esplanada superior e visitar o Domo da Rocha e a Mesquita de Al-Aqsa com ou sem guia, orando ou não. Hoje, as visitas são restritas, com escoltas, e os visitantes não podem sequer derramar uma lágrima de emoção sem causar um motim. 

A radicalização dos muçulmanos é palpável e é sua única resposta para a fortificação diária dos elos judaicos com a terra de Israel e com a cidade de Jerusalém.

A cidade de David, o local original da Cidade Santa, está sendo desenterrada provando o que diz a Bíblia, para o espanto dos historiadores. Todos os dias artefatos judaicos, manuscritos em hebraico e ruínas são encontrados desbancando as reivindicações árabes de serem o povo original da terra. Não há qualquer vestígio de sua civilização, nem mesmo um cemitério antigo.

Depois de muitas gerações de destruição, os judeus estão de volta. Jerusalém está sendo reconstruída todos os dias. Quase a metade dos judeus no mundo vive em Israel e, surpreendentemente, apesar de todas as dificuldades, a Aliya continua. Com apenas 71 anos de independência, Israel teve um impacto enorme no avanço tecnológico e científico para o bem de toda a humanidade.  

A ironia aqui é que os descendentes dos judeus que foram exilados, escravizados e mortos pelos romanos hoje passeiam pelas ruínas deixadas por eles, nas ruas de Jerusalém (não da Aelia Capitolina como chamaram a cidade), no estado soberano de Israel (e não da Síria-Palestina).

Todos os judeus olham para trás neste dia, em direção a uma época em que fomos massacrados e exilados. Mas amanhã estaremos de volta ao futuro. Um futuro que promete para a pequena Israel.

Se o profeta Jeremias pudesse nos ver agora, acho que ele até sorriria. 

Estamos finalmente de volta em casa.


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