Há uma velha piada judaica em que um jovem
caminha até seu avô e pergunta como ele está. O avô responde: "Em uma
palavra, bom."
"E em duas palavras?", Pressiona
o neto. "Nada bom", responde o avô.
Isso seria facilmente aplicado ao Irã nesta
semana em sua guerra contra Israel e os Estados Unidos.
No domingo passado milhares de iranianos se
reuniu na frente do prédio que fora a embaixada dos Estados Unidos em Teerã gritando:
"Morte à América, Morte a Israel". Esta é a maneira que eles tiveram
para comemorar o 40º aniversário da tomada da embaixada e de seus funcionarios
como reféns por 444 dias.
A manifestação do domingo foi a primeira de
várias ações hostis do Irã. Na segunda e na terça-feira, autoridades do país
anunciaram que não iriam mais respeitar as limitações estabelecidas no acordo
nuclear de 2015 e que iriam expandir o enriquecimento de urânio na usina de
Natanz dobrando o numero de centrifugas em uso.
Na terça-feira, o presidente Hassan Rouhani
anunciou que o Irã estaria retomando o enriquecimento de urânio na usina de
Fordo.
E aí as criticas contra o presidente Trump
não demoraram a chegar.
Os grandes veículos de mídia, naturalmente
anti-Trump, declararam que a estratégia de "pressão máxima" através
de sanções econômicas contra o Irã, que deveria reduzir a agressão iraniana e
impedir seu programa nuclear, falhou. Os Estados Unidos não conseguiram
destruir a economia do Irã.
Segundo, que a retirada das tropas americanas da
Síria, era sinal de concessão de território para o Irã e para a Russia e isso
encorajou os mulás a retomar o enriquecimento de urânio. Terceiro, o fato do
Irã ter se envolvido abertamente para conter os protestos no Iraque e no Líbano
usando as milicias xiitas e a Hezbollah é sinal que o Irã consolidou seu poder
e não tem medo de usar força mesmo em países estrangeiros.
Mas a coisa não é bem assim.
O fato da economia iraniana não ter entrado
em colapso não significa que está bem. De fato, a coisa está muito ruim
internamente especialmente com a infraestrutura. Em várias cidades importantes
não há nem mesmo água potável para beber. Até os gastos militares, que sempre
aumentaram de ano para ano, caíram em 2018 em quase 30%.
Assim apesar do regime estar ainda no poder,
as sanções tiveram um impacto significativo e é possível que causem a queda dos
mulás.
Segundo, é muito provável que os anúncios
do Irã sobre o aumento do enriquecimento de urânio possam ser na verdade uma
revelação do os iranianos vêm fazendo escondido desde sempre. O famigerado
acordo dava o direito ao Irã de impedir a entrada de inspetores em instalações militares e eles
podiam rotular qualquer instalação de "militar".
O reator nuclear de Natanz, por exemplo,
que diz ser monitorado 24 horas por dia através de câmeras de vídeo em circuito
fechado não vai diretamente para a Agência Nuclear. As imagens passam pelo
crivo do regime iraniano que depois manda para a Agência. Não dá para
certificar se o que a Agência Nuclear recebe é verdadeiro.
Talvez o Irã tenha resolvido se antecipar e
anunciou suas próprias violações do acordo nuclear em Natanz e Fordo, alarmando
o mundo a se dobrar às suas exigências.
Em sua declaração na segunda-feira, Rouhani
deixou claro que a medida é uma tentativa de extorquir os europeus a dar
dinheiro ao Irã. Ele disse que quando os europeus cumprirem seus ‘compromissos’
eles interromperão o enriquecimento do urânio.
A retirada dos EUA da fronteira da Síria
com a Turquia levou o Irã e a Rússia a assumirem o controle sobre a fronteira.
Mas também colocou o Irã em confronto aberto com a Turquia. Por uma década, o
Irã e a Turquia vêm trabalhando juntos para impedir as sanções dos EUA e minar
as operações americanas na Síria e no Iraque. Agora os dois estão se
enfrentando na fronteira da Síria com a Turquia, e a cooperação está em dúvida.
Na terça-feira, imagens de uma manifestação
na Síria chegaram na mídia mundial. Nelas os manifestantes gritavam “Síria
Lívre. Fora Irã”. Eles expressaram os sentimentos de milhões de manifestantes
libaneses e iraquianos que estavam nas ruas de seus respectivos países pedindo
a derrubada de seus governos, controlados pelo Irã.
E isso nos leva ao terceiro argumento. Longe
de demonstrar que o Irã está totalmente em controle do Iraque e do Líbano, o fato
de suas tropas terem que se envolver para acabar com os protestos é um sinal de
fraqueza.
Segundo relatos da mídia, o chefe da guarda
revolucionaria iraniana, Qassem Soleimani viajou ao Iraque duas vezes no mês
passado para supervisionar a repressão dos protestos pelas milícias xiitas
controladas pelo Irã que até agora mataram 250 manifestantes e feriram milhares.
O interessante, é que os protestos não estão acontecendo em áreas sunitas - mas
no sul, nas próprias áreas xiitas.
Enquanto os manifestantes em Teerã gritavam
"Morte à América" e "Morte a Israel", milhares de
manifestantes iraquianos em Karbala, a Meca do xiismo, atiravam bombas de fogo
no consulado iraniano na cidade. No sul do Iraque, manifestantes xiitas jogaram
sapatos nas fotos do supremo líder iraniano Ali Khamenei e pedem que o Irã saia
do país. Os próprios clérigos xiitas participaram dos protestos contra o Irã.
Em outras palavras, os iranianos estão perdendo seu próprio quintal.
No Líbano, os manifestantes estão reagindo
ao fracasso econômico de seu país, um fracasso que se deve principalmente à
corrupção e incompetência do governo controlado pela Hezbollah que com a falta
de dinheiro vinda do Irã está colocando a mão nos cofres publicos libaneses
para pagar suas contas. No Iraque a
estória é igual.
Os libaneses e iraquianos que protestam
contra seus governos e o regime iraniano que os controla, representam um
desenvolvimento profundamente negativo para o Irã e seus 40 anos de guerra
contra Israel e os EUA. Juntamente com a Síria, o Líbano e o Iraque desempenham
papéis importantes na estratégia do Irã para combater Israel. Mas quanto mais
instáveis estes países ficam, menos o Irã poderá fazer uso deles em uma
ofensiva futura contra Israel.
Hoje Israel está concentrando sua atenção
nas operações nucleares do Irã e a impedir que estabeleça uma base da Guarda
Revolucionária em sua fronteira com a Síria. Mas ações para diminuir o poder
regional do Irã e desestabilizar o controle do regime em casa são muito
importantes para diminuir a capacidade do Irã de atacar Israel.
Até o momento, a estratégia de pressão
máxima do governo Trump não conseguiu derrubar o regime. É verdade. E é
improvável que, sozinhas, as sanções econômicas americanas sejam suficientes
para faze-lo.
No entanto, como as manifestações em massa
contra o Irã e seus representantes no Líbano e no Iraque deixam claro, a
estratégia americana pode e está minando o poder e a estabilidade doméstica e
regional iraniana.
Israel tem que garantir que esse processo
seja expandido e explorado ao máximo para diminuir as perspectivas de um ataque
iraniano direto ao estado judeu que é o objetivo destes aiatolás lunáticos e
apocalípticos.
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