Mais uma vez a Polonia está mostrando seus dentes podres do antissemitismo. Em 2018 eles aprovaram uma lei criminalizando a fala sobre campos de concentração poloneses. Se alguém tiver a temeridade de falar sobre campos poloneses na Polonia, vai preso.
Agora querem aprovar uma lei limitando, não, impedindo qualquer vítima do Holocausto ou seus descendentes de recuperar ou de obter qualquer compensação por suas propriedades confiscadas durante a Segunda Guerra.
Os últimos
governos poloneses estão investidos em reescrever a história. Eles querem que o
mundo pare de falar sobre seus campos de concentração, aqueles que geram para
eles milhões de dólares em turismo anual, e os definam como campos de
concentração alemães situados na Polonia. Como se os alemães tivessem pré-fabricado
as barracas e os fornos crematórios e simplesmente os tivessem transplantado na
Polonia.
Os nazistas
construíram mais de 40 mil campos durante a guerra, mas a vasta maioria eram
campos de trânsito e coleta de pessoas. Dos 10 campos de extermínio - aqueles das
câmaras de gás e fornos crematórios - sete estavam na Polônia:
Auschwitz-Birkenau, Belzec, Chelmno, Majdanek, Sobibor, Treblinka e Varsóvia.
Os outros três estavam localizados na Sérvia, Bielorrússia e Ucrânia. Só em
Auschwitz foram mais de um milhão e cem mil judeus mortos. Tirar a
responsabilidade da Polônia, que matou 90% dos seus 3.2 milhões de judeus é um
insulto.
Os alemães
não construíram campos de concentração do dia para a noite. E houve uma razão
muito forte para os nazistas terem escolhido a Polonia para instalar especialmente
os campos de extermínio. Tropas alemãs
não teriam conseguido construir e gerenciar os campos transformando-os na
eficiente máquina mortífera que massacrou 6 milhões de judeus, sem a ajuda e
apoio da população local. E a população local, extremamente antissemita, estava
mais do que ansiosa para ajudar.
Os poloneses
de então compraram a mesma propaganda que ouvimos hoje: que os judeus dominam a
mídia, as finanças, o governo americano, querem dominar o mundo, são pão-duros
e só ajudam uns aos outros, etc. Depois passaram a negar a eles emprego,
concentrá-los em guetos, confiscar suas propriedades, e por fim os levaram ao
extermínio.
O povo
polonês comprou esta retórica e hoje não quer assumir a responsabilidade por
seus atos e por sua história, porque ela é feia demais.
Os poloneses
não podem negar que, apesar de também terem sido perseguidos pelos nazistas,
eles aproveitaram as leis raciais e o ódio ao judeu para matar, torturar,
saquear e roubar seus vizinhos. Várias vezes ouvimos líderes poloneses se
gabarem das histórias de poloneses que protegeram judeus durante a guerra. O
que eles não contam é que aqueles que protegeram judeus foram ostracizados e
até mortos, e invariavelmente pediam aos judeus que ajudaram para não contar
para ninguém como haviam sobrevivido à guerra ou quem os havia ajudado.
Os poloneses
não podem também esconder os pogroms cometidos contra os judeus durante e
depois da guerra. No meio da ocupação nazista, em 1941, poloneses de Jedwabne
massacraram mais de 300 judeus de sua cidade e saquearam suas propriedades.
Depois da Guerra,
sobreviventes judeus emergiram dos campos de concentração, rastejaram para fora
de seus esconderijos e abandonaram identidades emprestadas. Eles se levantaram
e olharam ao redor, para as ruínas fumegantes e para as montanhas de entulho em
que se tornara a Europa enquanto estavam encarcerados ou escondidos. Seus
primeiros passos, depois de fugir da morte, foi procurar familiares, amigos e
vizinhos que pudessem, como eles, de alguma forma ter conseguido sobreviver ao
inferno e contra todas as probabilidades. Muitos decidiram voltar para suas
casas de antes da guerra, mas em alguns lugares, especialmente na Europa
Oriental, os judeus enfrentaram severas explosões de antissemitismo e violência
antijudaica. No mínimo, as populações locais deveriam ter tido alguma simpatia
por essas pessoas que perderam tudo - suas casas, anos de suas vidas e, em
muitos casos, suas famílias inteiras. Mas não.
Em vez disso,
os judeus poloneses que retornavam encontraram um antissemitismo terrível em
sua fúria e brutalidade. O episódio mais chocante foi o pogrom de Kielce - um
ataque violento em julho de 1946 por residentes poloneses contra sobreviventes
que haviam retornado, no qual 42 judeus foram assassinados. O pogrom de Kielce
se tornou um ponto de não retorno para os sobreviventes do Holocausto; foi a
prova definitiva de que não restava esperança de reconstruir a vida judaica na
Polônia.
O pogrom soou
um alarme interno: durante os meses que se seguiram, os judeus fugiram da
Europa Oriental da maneira que puderam. Se aproximadamente 1.000 judeus por mês
deixaram a Polônia entre julho de 1945 e junho de 1946, imediatamente após o
pogrom os números dispararam dramaticamente para 30 mil por mês.
A Polônia não
quer que saibamos disso. Ela quer amordaçar o mundo para reescrever a História
e limpar a mácula antissemita que assola o país ainda hoje. O chefe do partido
governante Jaroslaw Kaczyński
declarou que “isso é um assunto interno” e que os “poloneses fazem suas
próprias leis e... não devemos nada a ninguém”. O primeiro-ministro polonês Mateusz Morawiecki
prometeu que seu país não pagaria restituição aos sobreviventes do Holocausto
por crimes cometidos pelos alemães em seu território durante a Segunda Guerra Mundial.
Nem um zloti, nem um euro, nem um dólar,” disse Morawiecki na semana passada.
Antes do Holocausto, a Polônia era o lar
de mais de três milhões de judeus e era uma das maiores comunidades judaicas do
mundo. Durante a Guerra, a maioria dos judeus poloneses foi assassinada em guetos,
campos de extermínio e campos de concentração administrados pela Alemanha na
Polônia.
Embora a maioria dos países pós-comunistas tenha procurado
consertar erros históricos e abordar a questão do roubo de propriedade judaica
da época do
Holocausto, a Polônia ficou para trás, alegando que foram os alemães, não eles,
os responsáveis pelas atrocidades contra os judeus.
O ministro das Relações Exteriores Yair Lapid criticou rápida
e corretamente a lei e sua afronta ao Estado judeu e às famílias das vítimas
que morreram em solo polonês.“Nenhuma lei mudará a história”, disse Lapid. “A
lei polonesa é imoral e prejudicará gravemente as relações entre os dois
países. Israel será um
bastião que protegerá a memória do Holocausto e a dignidade dos sobreviventes e suas propriedades.
“Os poloneses, assim como os judeus, foram vítimas de crimes
alemães terríveis”, tuitou o vice-ministro das Relações Exteriores
da Polonia Pawel
Jablonski. “A lei aprovada no Sejm protege as vítimas desses crimes e seus
herdeiros contra fraudes e abusos.” Será? Ou é uma negação flagrante de um dos eventos
mais sombrios da história?
A Polônia pode justificar o projeto como quiser, mas sua
tentativa crua de acumular outra injustiça sobre os milhões de mortos em seu
solo durante o Holocausto é nada menos que ultrajante.
Como escreveu o presidente do Congresso Mundial Judaico,
Ronald Lauder, as ações da Polônia ao aprovar este projeto de lei são "um tapa na
cara para o que resta dos judeus poloneses e dos sobreviventes da brutalidade
nazista".
A legislação polonesa deve ser descartada
imediatamente, seja por
pressão internacional ou pelos poloneses, quando perceberem que sua aprovação adicionará outra dimensão ao
sofrimento incomensurável suportado pelos judeus durante o Holocausto.
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