Israel
começou a primeira semana do ano com dois mísseis disparados contra o centro do
país pelo Hamas. A desculpa do grupo terrorista? Foi um relâmpago que detonou
os dispositivos e causou o lançamento dos mísseis.
Não
é a primeira vez que o
Hamas usa relâmpagos como causa para o lançamento de mísseis em direção a Israel. Essa desculpa já foi usada e abusada o suficiente. Foi usada em novembro de 2020, outra vez para um míssil que atingiu uma casa na planície de
Sharon, e feriu sete pessoas em março de 2019. Outra em outubro de 2018 que
destruiu uma casa em
Beersheba. E para outro que atingiu a costa.
No incidente
do começou deste ano, dois mísseis foram disparados. Um atingiu o norte de
Ashdod e outro a praia de Palmachim. Em resposta, a força aérea de Israel
atingiu posições militares do Hamas.
O governo
anterior de Netanyahu estava mais disposto a aceitar os “relâmpagos” porque não
queria uma escalação militar. Hoje Israel tem assuntos mais urgentes para tratar como a nova onda Omicron do Covid, a ameaça de um Irã nuclear e a Hezbollah em sua fronteira norte.
Mas o fato é que todos estes mísseis estavam armados e apontando para Israel. E
esta última salva não é um bom presságio para Israel para 2022.
Desde que o Hamas
assumiu o controle da Faixa de Gaza em junho de 2007, ocorreram quatro
escaladas militares significativas: Operação Chumbo Fundido (2008-09), Pilar de
Defesa (2012), Borda Protetora (2014) e Guardiões das Muralhas (2021). A
experiência nos mostra que outra rodada é apenas uma questão de tempo.
A reação
automática dos chamados peritos no assunto é sugerir uma solução política. Como
se Israel estivesse em disputa com a Dinamarca, ou algo assim. O Hamas é um
grupo terrorista preso a uma ideologia islâmica radical que impede a paz com
Israel. Sua constituição de 1988, nunca repudiada, nega especificamente
qualquer acordo negociado enquanto proclama a meta de "erguer a bandeira
de Alá sobre cada centímetro da Palestina".
Em 2006, o
secretário-geral da ONU, Kofi Annan, ofereceu ao Hamas uma abertura para que a
organização fosse reconhecida como um legítimo interlocutor político dos
palestinos. Tudo o que precisavam fazer era rejeitar o terrorismo, reconhecer
Israel e aceitar os acordos de paz previamente assinados. Dezesseis anos
depois, o Hamas não está próximo de nenhum desses requisitos.
Em vez de ser
visto como um parceiro nas negociações, o Hamas é designado como organização
terrorista na Grã-Bretanha, Canadá, União Europeia, Japão e Estados Unidos, bem
como, é claro, por Israel. Mais países, incluindo Austrália e Nova Zelândia,
classificam a ala militar do Hamas como terrorista (embora todo o mundo concorde
que esta distinção não existe na realidade.
A comunidade
internacional, por seu lado, insiste que só a remoção de “assentamentos” da
Judeia e Samaria e a retirada de Israel para as linhas de cessar-fogo de 1948,
incluindo abandonando os locais mais sagrados de Jerusalém, poderá resultar numa
paz genuína entre israelenses e palestinos. Mas Israel já colocou essas ideias
em prática no plano de retirada de Ariel Sharon de 2005, e tivemos quatro grandes
guerras com Gaza desde então, além das constantes barragens como as do começo
do ano.
Os israelenses
já pularam do barco chamado “paz a qualquer preço”. Pesquisa feita pelo
Instituto de Estudos de Segurança Nacional (INSS) logo após a Operação Guardião
das Muralhas mostrou que somente 10% dos israelenses acham que Israel deveria
se reconciliar com o governo do Hamas e negociar um cessar-fogo.
Em setembro
passado, o ministro das Relações Exteriores Yair Lapid sugeriu testar uma
política envolvendo incentivos econômicos e incursões militares, com o objetivo
de "fazer com que os residentes de Gaza pressionem o Hamas porque eles
entendem o que estão perdendo como resultado do terrorismo e entendem o quanto
eles têm a ganhar se o terrorismo parar”.
As
estatísticas oficiais palestinas mostram o PIB per capita de Gaza no terceiro
trimestre de 2021 foi menos de um terço da Autoridade Palestina. Metade da
força de trabalho de Gaza está desempregada, e os jovens são a maioria entre os
desempregados.,
Os incentivos
econômicos oferecidos por Israel incluíam a extensão da fronteira de pesca em
Gaza e a emissão de mais autorizações de trabalho em Israel e permissão para cultivar
terras na fronteira deixadas estéreis por razões de segurança. Além disso, o
desenvolvimento de infraestrutura poderia gerar muitos empregos. Projetos discutidos
incluem o estabelecimento de uma usina de energia, uma de dessalinização, a
conexão de Gaza ao gás mediterrâneo e até a criação de um porto artificial em
uma ilha offshore.
Todas essas ideias
sem dúvida geram uma esperança comum de que, ao dar benefícios econômicos tangíveis
para o povo de Gaza, seria possível fortalecer o incentivo para manter a paz.
Mas estas não são as prioridades dos que promovem a ideologia do islamismo
radical. E assim há vários obstáculos que devem ser transpostos.
Em primeiro
lugar, não sabemos até que ponto o Hamas está disposto a priorizar o bem-estar
dos habitantes de Gaza em vez de seu compromisso ideológico com a
"resistência". A realidade mostra que o Hamas investiu milhões de
dólares em ajuda internacional em seus projetos militares subterrâneos em um
momento em que a população civil precisava desesperadamente de ajuda.
Em segundo
lugar, mesmo que o Hamas concorde em manter a fronteira Israel-Gaza quieta, é
improvável que se abstenha de encorajar e orquestrar atos de violência na Cisjordânia.
Um “cessar-fogo” em que o Hamas continuasse com os ataques terroristas de
Hebron, Jenin e Tulkarem seria inaceitável.
Terceiro, o
passado nos ensina que o Hamas irá explorar qualquer cessar-fogo para
fortalecer suas capacidades militares tanto quantitativa quanto
qualitativamente. Daí o perigo de que a quietude de curto prazo seja comprada com
uma ameaça mais mortífera a longo prazo.
Em quarto
lugar, dois civis israelenses vivos e os corpos de dois soldados israelenses
estão detidos como reféns em Gaza. Lapid afirmou que “trazer de volta nossos
meninos deve fazer parte de qualquer plano”. Mas o Hamas nunca irá concordar
com seu retorno que não envolva a libertação de prisioneiros de segurança
palestinos. E uma troca desse tipo é sempre um exercício altamente complexo que
não só dá ao Hamas uma vitória, mas promove outros sequestros e mais violência
contra judeus.
Quinto, a
única entidade que poderia agir como interlocutora entre Israel e o Hamas é a
Autoridade Palestina. Mas ela está longe de permitir que o Hamas crie uma
realidade melhor em Gaza. Mahmoud Abbas vê vantagens para si mesmo na
continuação do caos em Gaza que não só reflete mal no Hamas mas enfraquece seus
planos de tomar o poder da Autoridade Palestina na Cisjordânia.
Sexto, não
podemos esquecer o Jihad Islâmico. O outro grupo terrorista da Faixa de Gaza
que sempre busca superar o Hamas. Qualquer acordo, mesmo que tácito, com
Israel, será denunciado pelo Jihad Islâmico como traição. Uma coisa é o Hamas
se conter temporariamente; outra bem diferente é fazer um acordo.
Por causa
desses e de outros desafios, e dos constantes lançamentos de mísseis em Israel,
há um sentimento de inevitabilidade de uma guerra em Gaza.
Mais uma vez
Israel está estendendo a mão. Mais uma vez está mostrando preocupação com a
população civil de Gaza. E em última análise, na ausência de uma solução
definitiva, se outro conflito estourar proximamente, Israel deveria pelo menos
receber um grau de compreensão internacional maior do que recebeu na última
guerra, por pelo menos, ter tentado melhorar a situação em Gaza. Ou será que isso
é esperar demais?
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