Sunday, January 9, 2022

A Impossivel Paz com o Hamas - 09/01/2022

 

Israel começou a primeira semana do ano com dois mísseis disparados contra o centro do país pelo Hamas. A desculpa do grupo terrorista? Foi um relâmpago que detonou os dispositivos e causou o lançamento dos mísseis.

Não é a primeira vez que o Hamas usa relâmpagos como causa para o lançamento de mísseis em direção a Israel.  Essa desculpa já foi usada e abusada o suficiente. Foi usada em novembro de 2020, outra vez para um míssil que atingiu uma casa na planície de Sharon, e feriu sete pessoas em março de 2019. Outra em outubro de 2018 que destruiu uma casa em Beersheba. E para outro que atingiu a costa.

No incidente do começou deste ano, dois mísseis foram disparados. Um atingiu o norte de Ashdod e outro a praia de Palmachim. Em resposta, a força aérea de Israel atingiu posições militares do Hamas.

O governo anterior de Netanyahu estava mais disposto a aceitar os “relâmpagos” porque não queria uma escalação militar. Hoje Israel tem assuntos mais urgentes para tratar como a nova onda Omicron do Covid, a ameaça de um Irã nuclear e a Hezbollah em sua fronteira norte. Mas o fato é que todos estes mísseis estavam armados e apontando para Israel. E esta última salva não é um bom presságio para Israel para 2022.

Desde que o Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza em junho de 2007, ocorreram quatro escaladas militares significativas: Operação Chumbo Fundido (2008-09), Pilar de Defesa (2012), Borda Protetora (2014) e Guardiões das Muralhas (2021). A experiência nos mostra que outra rodada é apenas uma questão de tempo.

A reação automática dos chamados peritos no assunto é sugerir uma solução política. Como se Israel estivesse em disputa com a Dinamarca, ou algo assim. O Hamas é um grupo terrorista preso a uma ideologia islâmica radical que impede a paz com Israel. Sua constituição de 1988, nunca repudiada, nega especificamente qualquer acordo negociado enquanto proclama a meta de "erguer a bandeira de Alá sobre cada centímetro da Palestina".

Em 2006, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, ofereceu ao Hamas uma abertura para que a organização fosse reconhecida como um legítimo interlocutor político dos palestinos. Tudo o que precisavam fazer era rejeitar o terrorismo, reconhecer Israel e aceitar os acordos de paz previamente assinados. Dezesseis anos depois, o Hamas não está próximo de nenhum desses requisitos.

Em vez de ser visto como um parceiro nas negociações, o Hamas é designado como organização terrorista na Grã-Bretanha, Canadá, União Europeia, Japão e Estados Unidos, bem como, é claro, por Israel. Mais países, incluindo Austrália e Nova Zelândia, classificam a ala militar do Hamas como terrorista (embora todo o mundo concorde que esta distinção não existe na realidade.

A comunidade internacional, por seu lado, insiste que só a remoção de “assentamentos” da Judeia e Samaria e a retirada de Israel para as linhas de cessar-fogo de 1948, incluindo abandonando os locais mais sagrados de Jerusalém, poderá resultar numa paz genuína entre israelenses e palestinos. Mas Israel já colocou essas ideias em prática no plano de retirada de Ariel Sharon de 2005, e tivemos quatro grandes guerras com Gaza desde então, além das constantes barragens como as do começo do ano.

Os israelenses já pularam do barco chamado “paz a qualquer preço”. Pesquisa feita pelo Instituto de Estudos de Segurança Nacional (INSS) logo após a Operação Guardião das Muralhas mostrou que somente 10% dos israelenses acham que Israel deveria se reconciliar com o governo do Hamas e negociar um cessar-fogo.

Em setembro passado, o ministro das Relações Exteriores Yair Lapid sugeriu testar uma política envolvendo incentivos econômicos e incursões militares, com o objetivo de "fazer com que os residentes de Gaza pressionem o Hamas porque eles entendem o que estão perdendo como resultado do terrorismo e entendem o quanto eles têm a ganhar se o terrorismo parar”.

As estatísticas oficiais palestinas mostram o PIB per capita de Gaza no terceiro trimestre de 2021 foi menos de um terço da Autoridade Palestina. Metade da força de trabalho de Gaza está desempregada, e os jovens são a maioria entre os desempregados.,

Os incentivos econômicos oferecidos por Israel incluíam a extensão da fronteira de pesca em Gaza e a emissão de mais autorizações de trabalho em Israel e permissão para cultivar terras na fronteira deixadas estéreis por razões de segurança. Além disso, o desenvolvimento de infraestrutura poderia gerar muitos empregos. Projetos discutidos incluem o estabelecimento de uma usina de energia, uma de dessalinização, a conexão de Gaza ao gás mediterrâneo e até a criação de um porto artificial em uma ilha offshore.

Todas essas ideias sem dúvida geram uma esperança comum de que, ao dar benefícios econômicos tangíveis para o povo de Gaza, seria possível fortalecer o incentivo para manter a paz. Mas estas não são as prioridades dos que promovem a ideologia do islamismo radical. E assim há vários obstáculos que devem ser transpostos.

Em primeiro lugar, não sabemos até que ponto o Hamas está disposto a priorizar o bem-estar dos habitantes de Gaza em vez de seu compromisso ideológico com a "resistência". A realidade mostra que o Hamas investiu milhões de dólares em ajuda internacional em seus projetos militares subterrâneos em um momento em que a população civil precisava desesperadamente de ajuda.

Em segundo lugar, mesmo que o Hamas concorde em manter a fronteira Israel-Gaza quieta, é improvável que se abstenha de encorajar e orquestrar atos de violência na Cisjordânia. Um “cessar-fogo” em que o Hamas continuasse com os ataques terroristas de Hebron, Jenin e Tulkarem seria inaceitável.

Terceiro, o passado nos ensina que o Hamas irá explorar qualquer cessar-fogo para fortalecer suas capacidades militares tanto quantitativa quanto qualitativamente. Daí o perigo de que a quietude de curto prazo seja comprada com uma ameaça mais mortífera a longo prazo.

Em quarto lugar, dois civis israelenses vivos e os corpos de dois soldados israelenses estão detidos como reféns em Gaza. Lapid afirmou que “trazer de volta nossos meninos deve fazer parte de qualquer plano”. Mas o Hamas nunca irá concordar com seu retorno que não envolva a libertação de prisioneiros de segurança palestinos. E uma troca desse tipo é sempre um exercício altamente complexo que não só dá ao Hamas uma vitória, mas promove outros sequestros e mais violência contra judeus.

Quinto, a única entidade que poderia agir como interlocutora entre Israel e o Hamas é a Autoridade Palestina. Mas ela está longe de permitir que o Hamas crie uma realidade melhor em Gaza. Mahmoud Abbas vê vantagens para si mesmo na continuação do caos em Gaza que não só reflete mal no Hamas mas enfraquece seus planos de tomar o poder da Autoridade Palestina na Cisjordânia.

Sexto, não podemos esquecer o Jihad Islâmico. O outro grupo terrorista da Faixa de Gaza que sempre busca superar o Hamas. Qualquer acordo, mesmo que tácito, com Israel, será denunciado pelo Jihad Islâmico como traição. Uma coisa é o Hamas se conter temporariamente; outra bem diferente é fazer um acordo.

Por causa desses e de outros desafios, e dos constantes lançamentos de mísseis em Israel, há um sentimento de inevitabilidade de uma guerra em Gaza.

Mais uma vez Israel está estendendo a mão. Mais uma vez está mostrando preocupação com a população civil de Gaza. E em última análise, na ausência de uma solução definitiva, se outro conflito estourar proximamente, Israel deveria pelo menos receber um grau de compreensão internacional maior do que recebeu na última guerra, por pelo menos, ter tentado melhorar a situação em Gaza. Ou será que isso é esperar demais?

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