Sunday, July 30, 2023

A Interferência da América em Israel - 30/7/2023

 

Para um presidente que tropeça mais que anda, que diariamente faz gafes e parece perdido e confuso frente às câmeras, Joe Biden parece de repente acordar e encontrar o equilíbrio quando se trata de se intrometer nos assuntos internos de Israel.

Antes e depois da votação da Knesset no início desta semana que aprovou a primeira medida da reforma judicial do governo, Biden deu o passo incomum de criticar a legislação interna de Israel como se o Estado judeu fosse o 51º estado da América.

Agindo mais como um comentarista político do que como um presidente, Biden lamentou a aprovação da Lei de Cancelamento do Padrão de Razoabilidade, pelo parlamento de Israel. Já em março, Biden causou alvoroço com comentários truncados sobre a proposta de reforma judicial quando disse: “Como outros apoiadores de Israel, estou muito preocupado. Estou preocupado que eles entendam isso: eles não podem continuar por este caminho. E eu meio que deixei isso claro. Espero que o primeiro-ministro chegue a um compromisso genuíno, mas isso não parece que irá acontecer”.

Quando um repórter perguntou a ele se isso não era interferência, Biden insistiu “não estamos interferindo”. Desculpe. Meu engano!

Mas quando um presidente americano diz a Israel: “Vocês não podem continuar neste caminho”, isso parece muito com uma interferência, ou não?

Mais recentemente, em 18 de julho, antes da votação do projeto de lei da Knesset, Biden foi entrevistado por Thomas Friedman, o colunista do The New York Times que tem um prazer infinito de criticar Israel publicamente.

De acordo com o tão falado artigo de Friedman, Biden exortou os líderes israelenses para "não se apressarem" para aprovar a legislação, como se fosse natural para um presidente americano opinar sobre quando um projeto de lei em uma nação soberana a vários milhares de quilômetros de distância deve ou não ser votada.

Uma semana depois, em uma tentativa descarada de influenciar a votação, Biden chamou a proposta de reforma judicial de “divisiva” e novamente instou Netanyahu a “não apressar isso”. E ainda, ontem, 12 congressistas democratas decidiram introduzir uma resolução em solidariedade com os manifestantes anti-reforma.

Mas pior, depois da aprovação da lei na segunda-feira passada, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, emitiu um comunicado denunciando a votação, declarando: “Como um amigo de longa data de Israel, o presidente Biden expressou publica e particularmente suas opiniões de que grandes mudanças em uma democracia para serem duradouras deve haver um consenso tão amplo quanto possível”.

A declaração concluiu dizendo: “É lamentável que a votação de hoje tenha ocorrido com a menor maioria possível”. Bem, o resultado foi 64 a 0, o que dificilmente parece constituir “a menor maioria possível”.

Não me lembro de o presidente Clinton alertar o primeiro-ministro Yitzhak Rabin há 30 anos para não assinar o super controverso Acordo de Oslo, o chamado “acordo de paz histórico, entre Israel e a Organização de Libertação da Palestina, de 1993, que só foi aprovado por 61 votos da Knesset de 120 membros - uma margem muito mais estreita do que a votação da reforma judicial.

Como se na América, aprovar uma legislação importante sem o consenso da oposição é um grande problema. Não é. A Casa Branca parece bastante à vontade com a vice-presidente Kamala Harris desempatando 31 votações no Senado, número histórico recorde, incluindo a tão discutida Lei de Redução da Inflação.

Para entender completamente o quão absurda e inaceitável é essa intromissão do governo americano, imagine o que seria se fosse o contrário. E não faltaram ocasiões para isso.

Nos últimos dois anos, o governo Biden sofreu vários golpes da Suprema Corte americana. A primeira anulou a decisão Roe v. Wade sobre o aborto e outra restringiu severamente a ação afirmativa baseada em raça nas admissões em universidades.

E como Biden reagiu a essas decisões? Ele denunciou e deslegitimou a Suprema Corte!

Falando na Casa Branca em 8 de julho de 2022, sobre a decisão relativa ao aborto, Biden disse: “O que estamos testemunhando não é um julgamento constitucional. É um exercício de poder político bruto... Não podemos permitir que uma Suprema Corte descontrolada, trabalhando em conjunto com elementos extremistas do Partido Republicano, tire as liberdades e nossa autonomia pessoal”.

E em 11 de outubro, Biden atacou mais uma vez a Suprema Corte, chegando a dizer que ela “é mais um grupo de ativistas hoje em dia do que … imparcial”.

Não surpreendentemente, isso levou alguns democratas a buscar seu próprio tipo de “reforma judicial”. Dois meses atrás, um grupo de senadores e congressistas democratas anunciou que apresentaria uma legislação para expandir o número de juízes da Suprema Corte de nove para 13, dando efetivamente a Biden a chance de nomear a maioria de juízes liberais. Não é exatamente esse tipo de comportamento contra o qual Biden alertou Israel tão veementemente?

Como ele se sentiria se o governo israelense se intrometesse no assunto e expressasse sua angústia sobre o curso futuro da democracia americana?

Israel e os Estados Unidos realmente têm um vínculo especial e um relacionamento próximo, e por isso devemos ser gratos. Mas não é assim que os Estados Unidos deveriam tratar um aliado próximo.

Mas mesmo nos laços mais íntimos entre as nações, existem algumas linhas que não devem ser cruzadas. Como Israel escolhe lidar com suas instituições governamentais e os pesos e contrapesos entre eles é assunto de Israel e de mais ninguém.

Parece que nos tornamos tão acostumados ao longo dos anos com a interferência americana nos assuntos internos de Israel que ela não nos choca mais.

O presidente Biden errou ao elevar a crise doméstica de Israel a uma questão política entre os dois países. Sua postura corre o risco de causar uma erosão dos laços entre os dois países, que só irá convencer os inimigos de Israel de que ela é fraca e vulnerável.

Há momentos em que é certo e apropriado que um amigo intervenha publicamente na política interna de outro. E então há momentos em que é mais sensato manter os conselhos a conversas privadas e as críticas discretas, mantendo o silêncio público. Desta vez, o silêncio de Biden teria sido o caminho mais sábio.

 

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