Depois da visita de Netanyahu aos Estados Unidos, os discursos grandiosos no domingo e a repetida promessa que a América protegerá Israel, Obama anunciou que sua administração decidiu tentar mais um round de negociações com o Irã sobre seu programa nuclear. A sensação de mesmisse que paira no ar foi até notada pelo Supremo Líder, Ayatollah Ali Khamenei que se disse satisfeito com estas últimas declarações de Obama.
Mais uma tentativa. É isto que temos depois de 14 meses do último grupo de negociadores ter falhado em Istambul por causa da falta de seriedade e táticas protelatórias dos iranianos. Mesmo assim, as novas negociações serão sem pré-condições e precedidas por outras negociações para decidir trivialidades como o local de encontro.
É bem óbvio que o Irã concordou com estas negociações para ganhar tempo e avançar ainda mais seu programa nuclear ao mesmo tempo em que efetivamente paralisa Israel. Se Israel atacar em meio a “negociações” será condenada universalmente por ter abortado uma solução diplomática.
Sei que estou parecendo alguém que quer resolver a situação no tapa. Não. Posso garantir que ninguém quer guerra ou aniquilação. Mas se a administração americana estivesse mesmo séria em conseguir um resultado em vez de só retocar a maquiagem, ela teria avisado ao Irã que esta é sua última chance e exigido uma agenda bem curta. Não foi isso o que Obama impôs nas negociações entre Israel e os Palestinos? Por que deixar o calendário aberto quando o relógio nuclear está batendo?
Esta decisão de re-engajar o Irã em negociações veio em seguida a declarações de Obama que a opção militar está na mesa, que ele não blefa e no último domingo frente ao AIPAC – o Comitê Americano Público para Assuntos de Israel - quando disse que “os líderes iranianos não devem ter qualquer dúvida sobre a determinação dos Estados Unidos”. E aí, dois dias depois, na terça-feira, Obama voltou para a mesma política que ele mesmo admitiu ter falhado antes.
Mas será que as sanções não farão diferença desta vez? Elas podem estar afetando o Irã economicamente mas por décadas a Korea do Norte preferiu morrer de fome a abandonar seu programa nuclear. E os americanos sabem disso.
Obama conseguiu muitos aplausos dos líderes judeus quando disse que esta era uma política de prevenção. Mas ele está prevenindo o quê? Manter uma coalisão não é prevenção. Jogar conversa fora não é prevenção e tampouco são sanções. Prevenir significa reverter o programa nuclear.
O Irã está triplicando seu enriquecimento de urânio, transferindo suas usinas para o fundo de montanhas perto de Qom e impedindo as visitas dos inspetores. Então qual é o objetivo real de Obama? A resposta veio de um oficial de sua administração que pediu para não ser identificado numa declaração ao Washington Post. Ele disse que o objetivo era dificultar ao máximo a decisão de Israel de atacar o Irã.
É bem revelador e chocante. Quer dizer que na verdade, a prioridade desta administração americana não é parar o Irã mas parar Israel? O maior exportador de terrorismo do mundo – de acordo com o próprio Departamento de Estado americano, um assassino sistemático de americanos no Iraque e Afganistão, um inimigo declarado que instituiu o feriado do Dia de Morte à América, patrocinador da Hezbollah e Hamas que passou o final de semana bombardeando Israel, e que está se aproximando perigosamente da bomba nuclear – e o foco da política americana é impedir que seu único aliado democrático na região, ameaçado com destruição, se defenda?
Pois é. E esta nova tentativa de negociações irá calhar muito bem com a estratégia de amarrar Israel. Obama disse para o AIPAC que “protegeria as costas de Israel”. Quanto tempo pudemos confiar nesta promessa? Exatamente 48 horas.
Dois dias depois, para a imprensa ele disse que esta frase tinha sido só uma referência histórica ao apoio a aliados como a Inglaterra e o Japão – totalmente contradizendo a impressão que ele queria dar ao AIPAC de estar dando uma proteção especial a um aliado ameaçado com aniquilação.
Para o AIPAC ele declara que “nenhum governo israelense pode tolerar uma arma nuclear nas mãos de um regime que nega o Holocausto, ameaça apagar Israel do mapa, e apoia grupos terroristas que querem destruir Israel” e afirma que “Israel tem o direito de tomar suas próprias decisões em relação a sua segurança”.
E aí ele vira as costas e anuncia negociações sem agenda e sem pré-condições com o Irã, exalta a eficácia das sanções, dá avisos graves sobre falar em guerra, todos com o objetivo de impedir Israel de exercer seu direito a defesa própria.
O porquê destas contradições é óbvio. Obama quer passar a data de 6 de novembro sem trepidações que ameacem sua reeleição. Ninguém acredita que um presidente americano abandonaria um segundo termo para preservar o estado judeu. Mas ele ainda precisa dos votos e das contribuições.
A América continua em sua cadeira confortável impondo soluções para os probleminhas dos outros sem medir muito as consequencias para si ou Israel, e o povo judeu tem que lidar com outra tentativa de extinção que acontece a “cada geração”, como lemos na estória de Purim esta semana.
Se as declarações de Obama foram bem recebidas em Israel, elas também o foram em Teherã. Os Mullahs e Ahmadinejad sabem que este presidente americano não morde. Eles estão vendo sua inércia com Assad que continua a massacrar sua população impune. Ele não conseguiu nem mesmo expulsar a Síria do Comitê de Direitos Humanos da ONU!
Do lado de Israel, Netanyahu entendeu o jogo. Em seu discurso ao AIPAC, o primeiro ministro pediu à audiência para se unir em uma campanha contra um Irã nuclear. Netanyahu sabe que uma campanha desta poderá ter uma grande influencia na administração Americana neste ano de eleição.
Israel foi forçada a desistir de incontáveis vantagens estratégicas no processo de paz com os palestinos em troca de promessas da comunidade internacional que nuncam foram cumpridas. Imaginem só a situação hoje se Israel tivesse dado os Altos do Golan para a Síria em troca de “garantias” internacionais. Qual é o país que iria intervir quando Bashar Assad rolasse os tanques para dentro da Galileia?
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