Depois
de acompanhar a guerra em Israel por vários dias, ouvir políticos, analistas, jornalistas e residentes do sul,
estava pronta para tudo menos para o que ocorreu. É como se Israel tivesse
caido no buraco da Alice - mas em vez de encontrar o mundo totalmente sem
sentido e encantador do País das Maravilhas, o que encontramos é ainda sem qualquer
sentido mas muito preocupante.
Há algo grotescamente absurdo em aceitar que um membro de
Irmandade Muçulmana no Egito negocie um cessar-fogo num conflito envolvendo a Irmandade
Muçulmana em Gaza, e esse mediador seja coroado o árbitro de qualquer violação.
A coisa não pode ser mais esquizofrênica que isso…
A
demência que assola os líderes em Israel é muito difícil de compreensão.
Não
me entendam mal. Não sou a favor de guerra e mortes. E não é fácil correr para
um abrigo em menos de 90 segundos quando se está no meio da rua com uma criança
como me aconteceu esta semana. Mas um milhão de israelenses têm vivido assim há
12 anos, sem uma luz no final do túnel.
Um
dos maiores medos dos israelenses é ser considerado um “frier”, ou otário,
perdedor. Por isso podem ser considerados rudes ou tentando obter um negócio
melhor. Este espírito foi o que também impulsionou o país a encontrar soluções e
avançar em todos os campos da ciência.
Mas
em vez de desenvolver tecnologias para acabar com o estoque de mísseis em Gaza,
Israel as desenvolve para derrubar os mísseis lançados. Esta solução, apesar de
efetiva, não é 100% e como vimos nesta semana, não impede mortes e destruição.
Sim, esta solução é única e sabem por quê? Porque nenhum outro país aceita ser
bombardeado durante anos ininterruptamente sem tomar uma atitude drástica e
vencer o agressor.
O
resultado desta guerra foi uma grande derrota para Israel, não porque ela tenha
de fato “perdido a guerra”. Netanyahu repete para a imprensa que seu objetivo
era o de trazer sossego para os residentes do sul e com este cessar-fogo a
calma retornou. Mas foi uma derrota para seu poder de dissuasão. E vou explicar
porquê.
Toda a vez que
o Hamas ataca Israel independente do resultado, ele ganha. Primeiro, ele
consegue infernalizar a vida de milhões de habitantes, romper a rotina de suas
vidas, causar pânico e traumatizar suas crianças e no processo, fortalecer sua posição
no mundo muçulmano.
Segundo, ele
consegue algo inusitado: fazer Israel o responsável pela segurança da população
civil em Gaza. Seus terroristas lançam mísseis do meio dos civis e depois se
escondem em túneis e esperam Israel retaliar, matando mulheres e crianças e
conseguindo a condenação unânime da comunidade internacional. E isso aconteceu
nesta guerra também: apesar dos mortos e destruição do lado de Israel, a
imprensa não resistiu às imagens de crianças palestinas mortas quando sua
residência desabou depois de uma retaliação israelense.
Terceiro, toda
a vez que o Hamas ataca Israel, enfraquece seu inimigo jurado: a Autoridade
Palestina e Mahmoud Abbas. Por isso, e é até risível, a Fatah em Gaza hoje ter
anunciado que ela também lançara mais de 500 foguetes em Israel e portanto
também são heróis. Wow!
O ponto é que
desde 1979 com o acordo de paz com o Egito e a entrega da Península do Sinai e
principalmente desde os acordos de Oslo em 1993, governos sucessivos de Israel
têm exposto o país a perigos cada vez maiores, tornando ilusória a possibilidade
de uma paz duradoura. E por isso ganharam aclamação internacional e alguns, até
o Premio Nobel da Paz.
Mas a história
provou que o apaziguamento e concessões só trouxeram mais violência e mais
exigências do lado palestino. E ainda assim, nenhum líder israelense teve a
visão de acabar com este ciclo vicioso.
Desde que saiu
do Sinai, Israel tem estado em constante estado de retirada. Ela foi de vitoriosa,
capaz de vencer vários exércitos em 6 dias, a uma nação que não consegue
impedir que seus civis sejam bombardeados por mísseis rústicos produzidos por
milícias desorganizadas.
Entendo que quando
estas decisões de retirada foram tomadas, nenhum governo israelense poderia
imaginar o que aconteceria. Menahem Begin não concordaria em entregar o Sinai
se soubesse que a Península se tornaria base do terrorismo islâmico e de passagem
de mísseis para Gaza. Acredito também que Yitzhak Rabin nunca teria concordado
com o tipo de concessões feitas nos acordos de Oslo se pudesse prever os
ataques e mortes que trariam.
Mas em vez de
confrontar a deterioração da situação de frente, os líderes de Israel decidiram
se adaptar às novas condições. Esta é a tática do sapo. Se você jogar um sapo
em água fervente, ele vai pular fora na hora. Mas se você o colar na água fria
e esquenta-la aos poucos, o sapo fica e morre cozido.
A maioria dos
israelenses de hoje cresceram com a noção de que concessões e capitulação,
retirada e falta de resposta à ataques são elementos naturais de como as coisas
devem ser. Eles também cresceram com a noção de que não há solução militar para
este conflito quando historicamente, só uma solução militar resolve conflitos
armados.
E é sob a ótica
desta trajetória trágica que temos que reconhecer que as organizações
terroristas têm avançado em sua capacidade militar de modo surpreendente. Elas
foram de sequestrar aviões a obterem mísseis com alcance de 75 Km e ogivas de
90 kg.
Até dois meses
atrás, se alguém tivesse dito que Jerusalém e Tel Aviv seriam alvos do Hamas,
seria chamado de exagerado, ridículo e extremista. E incrivelmente, agora que
isso aconteceu, em vez de remover a origem da ameaça, Israel tenta apaziguar e
mediar a disputa através de um inimigo declarado, líder da Irmandade Muçulmana
no Egito.
Com a passagem
do tempo, podemos esperar que o Hamas só continue a aumentar sua capacidade bélica.
O alcance dos mísseis irá aumentar e mais israelenses estarão em risco. Eles
poderão obter radares e baterias anti-aéreas. Irão coordenar suas ações com os
salafistas do Sinai, e a Hezbollah ao norte. Isso irá estressar ao máximo a
capacidade de Israel de defender sua população.
Este
cessar-fogo foi um erro da maneira como foi negociado. O que Israel conseguiu
foi apenas uma breve pausa na chuva de mísseis até que o Hamas recarregue seu
arsenal. Israel por sua vez teve que prometer não mais eliminar terroristas, se
retirar do cordão de 300 metros que havia estabelecido em torno da Faixa e aumentar
o mar territorial de Gaza, supostamente para pescaria.
Não sei o que
Netanyahu está esperando. A comunidade internacional e a oposição não aceitam
uma ofensiva do exército em Gaza. Sabemos que muitos soldados israelenses e
civis palestinos poderão morrer. Mas líderes são eleitos para resistir a pressões,
não se submeter à elas. Até que Israel se dê conta que ser politicamente
correto não trará paz a seus cidadãos ela continuará a colocá-los em perigo.
Os que eram
contra a retirada dos judeus de Gaza hoje estão vindicados. Não porque foram injustamente
chamados de extremistas, radicais que se recusavam a dar uma chance para a paz.
Mas porque sabiam o que ia acontecer. Há uma outra opção e hoje ela deve ser
considerada.
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