Sunday, November 25, 2012

A Falácia do Cessar-Fogo - 25/11/2012


Depois de acompanhar a guerra em Israel por vários dias, ouvir políticos, analistas, jornalistas e residentes do sul, estava pronta para tudo menos para o que ocorreu. É como se Israel tivesse caido no buraco da Alice - mas em vez de encontrar o mundo totalmente sem sentido e encantador do País das Maravilhas, o que encontramos é ainda sem qualquer sentido mas muito preocupante.

Há algo grotescamente absurdo em aceitar que um membro de Irmandade Muçulmana no Egito negocie um cessar-fogo num conflito envolvendo a Irmandade Muçulmana em Gaza, e esse mediador seja coroado o árbitro de qualquer violação. A coisa não pode ser mais esquizofrênica que isso…

A demência que assola os líderes em Israel é muito difícil de compreensão.

Não me entendam mal. Não sou a favor de guerra e mortes. E não é fácil correr para um abrigo em menos de 90 segundos quando se está no meio da rua com uma criança como me aconteceu esta semana. Mas um milhão de israelenses têm vivido assim há 12 anos, sem uma luz no final do túnel.

Um dos maiores medos dos israelenses é ser considerado um “frier”, ou otário, perdedor. Por isso podem ser considerados rudes ou tentando obter um negócio melhor. Este espírito foi o que também impulsionou o país a encontrar soluções e avançar em todos os campos da ciência.

Mas em vez de desenvolver tecnologias para acabar com o estoque de mísseis em Gaza, Israel as desenvolve para derrubar os mísseis lançados. Esta solução, apesar de efetiva, não é 100% e como vimos nesta semana, não impede mortes e destruição. Sim, esta solução é única e sabem por quê? Porque nenhum outro país aceita ser bombardeado durante anos ininterruptamente sem tomar uma atitude drástica e vencer o agressor.

O resultado desta guerra foi uma grande derrota para Israel, não porque ela tenha de fato “perdido a guerra”. Netanyahu repete para a imprensa que seu objetivo era o de trazer sossego para os residentes do sul e com este cessar-fogo a calma retornou. Mas foi uma derrota para seu poder de dissuasão. E vou explicar porquê.
Toda a vez que o Hamas ataca Israel independente do resultado, ele ganha. Primeiro, ele consegue infernalizar a vida de milhões de habitantes, romper a rotina de suas vidas, causar pânico e traumatizar suas crianças e no processo, fortalecer sua posição no mundo muçulmano.

Segundo, ele consegue algo inusitado: fazer Israel o responsável pela segurança da população civil em Gaza. Seus terroristas lançam mísseis do meio dos civis e depois se escondem em túneis e esperam Israel retaliar, matando mulheres e crianças e conseguindo a condenação unânime da comunidade internacional. E isso aconteceu nesta guerra também: apesar dos mortos e destruição do lado de Israel, a imprensa não resistiu às imagens de crianças palestinas mortas quando sua residência desabou depois de uma retaliação israelense.

Terceiro, toda a vez que o Hamas ataca Israel, enfraquece seu inimigo jurado: a Autoridade Palestina e Mahmoud Abbas. Por isso, e é até risível, a Fatah em Gaza hoje ter anunciado que ela também lançara mais de 500 foguetes em Israel e portanto também são heróis. Wow!  

O ponto é que desde 1979 com o acordo de paz com o Egito e a entrega da Península do Sinai e principalmente desde os acordos de Oslo em 1993, governos sucessivos de Israel têm exposto o país a perigos cada vez maiores, tornando ilusória a possibilidade de uma paz duradoura. E por isso ganharam aclamação internacional e alguns, até o Premio Nobel da Paz.

Mas a história provou que o apaziguamento e concessões só trouxeram mais violência e mais exigências do lado palestino. E ainda assim, nenhum líder israelense teve a visão de acabar com este ciclo vicioso.

Desde que saiu do Sinai, Israel tem estado em constante estado de retirada. Ela foi de vitoriosa, capaz de vencer vários exércitos em 6 dias, a uma nação que não consegue impedir que seus civis sejam bombardeados por mísseis rústicos produzidos por milícias desorganizadas.

Entendo que quando estas decisões de retirada foram tomadas, nenhum governo israelense poderia imaginar o que aconteceria. Menahem Begin não concordaria em entregar o Sinai se soubesse que a Península se tornaria base do terrorismo islâmico e de passagem de mísseis para Gaza. Acredito também que Yitzhak Rabin nunca teria concordado com o tipo de concessões feitas nos acordos de Oslo se pudesse prever os ataques e mortes que trariam.

Mas em vez de confrontar a deterioração da situação de frente, os líderes de Israel decidiram se adaptar às novas condições. Esta é a tática do sapo. Se você jogar um sapo em água fervente, ele vai pular fora na hora. Mas se você o colar na água fria e esquenta-la aos poucos, o sapo fica e morre cozido.

A maioria dos israelenses de hoje cresceram com a noção de que concessões e capitulação, retirada e falta de resposta à ataques são elementos naturais de como as coisas devem ser. Eles também cresceram com a noção de que não há solução militar para este conflito quando historicamente, só uma solução militar resolve conflitos armados.

E é sob a ótica desta trajetória trágica que temos que reconhecer que as organizações terroristas têm avançado em sua capacidade militar de modo surpreendente. Elas foram de sequestrar aviões a obterem mísseis com alcance de 75 Km e ogivas de 90 kg.

Até dois meses atrás, se alguém tivesse dito que Jerusalém e Tel Aviv seriam alvos do Hamas, seria chamado de exagerado, ridículo e extremista. E incrivelmente, agora que isso aconteceu, em vez de remover a origem da ameaça, Israel tenta apaziguar e mediar a disputa através de um inimigo declarado, líder da Irmandade Muçulmana no Egito.

Com a passagem do tempo, podemos esperar que o Hamas só continue a aumentar sua capacidade bélica. O alcance dos mísseis irá aumentar e mais israelenses estarão em risco. Eles poderão obter radares e baterias anti-aéreas. Irão coordenar suas ações com os salafistas do Sinai, e a Hezbollah ao norte. Isso irá estressar ao máximo a capacidade de Israel de defender sua população.

Este cessar-fogo foi um erro da maneira como foi negociado. O que Israel conseguiu foi apenas uma breve pausa na chuva de mísseis até que o Hamas recarregue seu arsenal. Israel por sua vez teve que prometer não mais eliminar terroristas, se retirar do cordão de 300 metros que havia estabelecido em torno da Faixa e aumentar o mar territorial de Gaza, supostamente para pescaria.

Não sei o que Netanyahu está esperando. A comunidade internacional e a oposição não aceitam uma ofensiva do exército em Gaza. Sabemos que muitos soldados israelenses e civis palestinos poderão morrer. Mas líderes são eleitos para resistir a pressões, não se submeter à elas. Até que Israel se dê conta que ser politicamente correto não trará paz a seus cidadãos ela continuará a colocá-los em perigo.

Os que eram contra a retirada dos judeus de Gaza hoje estão vindicados. Não porque foram injustamente chamados de extremistas, radicais que se recusavam a dar uma chance para a paz. Mas porque sabiam o que ia acontecer. Há uma outra opção e hoje ela deve ser considerada.


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