Monday, January 7, 2013

O Futuro do Irã e Síria - 6/1/2013


A semana passada comentei que o atual presidente da Síria teria dobrado o número de mortos mandados por seu pai na repressão à revolta de Hama em 1982. Estava errada. De acordo com a própria ONU, o número é três vezes mais, ou seja, 60 mil pessoas mortas neste confronto pela remoção de Assad da liderança da Síria.
De acordo com o jornal Los Angeles Times da semana passada, as autoridades do Irã estariam tentando negociar um regime transitório com a oposição da Síria. Até agora o Irã não mostrou sinais de que estaria preparado para abandonar Assad mas pode ter chegado à conclusão de que precisa tomar medidas para proteger seus interesses na Síria se ele não puder ser salvo.
Para aqueles preocupados com um possível conflito entre o Irã e os Estados Unidos, este é o momento da verdade. A perda de seu maior aliado na região pode mudar a posição do Irã. A pergunta é: será que os mullas decidirão tirar o corpo fora deste conflito antes do Irã ficar ainda mais isolado ou se endurecerarão, procurando aumentar o número de mísseis e outras armas nas mãos de Assad?
De qualquer modo, o curso da guerra civil na Síria poderá determinar a posição que os Estados Unidos tomarão – se se envolverem militarmente no conflito ou esperarem para ver se a situação tanto na Síria como no Irã se deteriora ao ponto de inutilizar seus sonhos de hegemonia na região.
Os iranianos ainda não aceitam que seu aliado será removido. O governo sírio está tentando salvar no mínimo, a estrutura do seu estado, estudando um “assadismo” sem Assad. Isto significa ter um estado dominado pelos Alawitas alinhados com o Irã, oferecendo à maioria sunnita mais espaço econômico e político na vida do país.
É pouco provável que a oposição aceite isto por agora, mas se a situação militar se estabilizar, Teerã esperará que o mundo pressione os sírios a uma solução negociada nestes termos.
E esta parece também ser a visão da Russia nesta guerra. Moscou não quer ver a Síria se juntar ao bloco sunita no Oriente Médio com medo de fortalecer os jihadistas sunitas do seu território do Cáucaso. E como o Irã, a Russia também investiu anos na sua relação com o clã dos Assad e em assistência econômica e militar. Além disso, a Russia se vê como protetora da minoria cristã ortodoxa da mesma forma que o Irã se vê como protetor da minoria alawita do país. Se uma oposição sunita tomar o poder, ambas as minorias estarão em grave perigo de serem massacradas numa vigança sunita desenfreada.
A queda do regime de Assad seria um golpe duro para ambos os países mas para o Irã a coisa é mais crítica. Ele perderá o pé do lado mediterrâneo do Oriente Médio, fundamental para a sua política de expansão. A Síria fica no meio do crescente entre o Iraque e o Líbano, nos quais o Irã ergueu governos e grupos terroristas vassalos. A Síria também era o meio de apoio à Hezbollah na articulação de uma aliança anti-Israel com o Hamas mais ao sul, em Gaza.
Tudo isso fazia os árabes sunitas admirarem o Irã e faze-lo aparecer menos “persa” ou menos “herético” a seus olhos, apesar das diferenças religiosas. Isto permitiu ao Irã reclamar a liderança do mundo muçulmano na guerra santa contra o ocidente.
O Hamas já rejeitou a Síria e está se distanciando do Irã; a Hezbollah está quieta e mais preocupada em proteger sua vulnerável posição no Líbano.
Olhando mais a frente, uma vitória dos sunitas na Síria, poderia trazer ao país jihadistas radicais Sauditas que armariam os sunitas no Iraque par um outro round de guerra civil naquele país. Nesta nova onda, os sunitas contariam com a ajuda da Turquia, dos países do Golfo Árabe e da Síria libertada. Isto reduziria a influência do Irã na região de modo substancial.
Adicione isso às sanções econômicas que o Irã já sofre e concluimos que restam poucas opções aos mullahs. Mas há ainda mais um aspecto. O Irã também é multiétnico com uma significativa população sunita e shiitas pró-democracia que querem derrubar os ayatolahs. Esta oposição não deixará passar a oportunidade para também tentar derrubar o governo. O Supremo Líder não conseguirá escapar quando confrontado com estas pressões esmagadoras. Hoje não conseguimos nem imaginar quem liderará estes países daqui a 5 ou 10 anos.
Como em outros casos, a arrogância e as idéias infladas sobre dominação do mundo não deixaram o Irã se aproximar dos Estados Unidos para uma negociação séria. A extensão da aceitação de uma posição mais realista, renúncia às suas ambições nucleares e limitação de sua influência na região, será diretamente proporcional aos reveses políticos sofridos pela Republica Islâmica.
Mas não vamos comemorar ainda. O Irã sabe que mais do que qualquer outro, é o país mais importante para o equilíbrio do Oriente Médio. Uma coisa é negociar com os mullahs em posição de força e outra em posição de fraqueza. Um Irã fraco dará aos Estados Unidos a oportunidade e flexibilidade necessárias para alcançar a eliminação da ameaça nuclear.
Apesar da aparência de uma iminente vitória dos rebeldes na Síria, é ainda muito cedo para dizer com certeza que Assad está fora. Além disso, os rebeldes têm seus próprios problemas. Quanto mais durar a guerra mais expostos a divisões, brutalidade, corrupção e incompetência estarão, o que causará a perda do apoio popular.
Mas será somente quando o Irã perder toda a esperança que Assad se manterá no poder que o debate real sobre o futuro da região poderá ocorrer.


No comments:

Post a Comment