O resultado da reunião dos cinco membros permanentes
das Nações Unidas e Alemanha (os P5+1) com o Irã no Cazaquistão no final de
fevereiro foi surpreendente.
O negociador iraniano, Saed Jalili, conhecido por sua
inflexibilidade sobre o programa nuclear de seu país, saiu sorridente, dizendo-se otimista pois os “Estados Unidos haviam feito concessões inesperadas tentando
chegar próximos do seu ponto de vista”. E há indicações que isso realmente
ocorreu. De acordo com o Wall Street Journal, Washington decidiu retirar um dos
dois porta-aviões presentes no Golfo Pérsico, enfraquecendo o poder militar
americano e consequentemente, sua vantagem na mesa de negociações.
Até o Washington Post, um jornal liberal pró-Obama
criticou duramente a administração perguntando se os Estados Unidos estariam se
curvando ao Irã. O seu editorial notou que na reunião anterior em Bagdá em maio
do ano passado, os P5+1 não só exigiram que o Irã fechasse por completo a
usina em Fordo, (construida embaixo de uma montanha), mas que enviasse todo o
urânio enriquecido a 20% ao exterior.
Agora, os países ocidentais pediram uma simples suspensão
das operações em Fordo e permitiram que o Irã retesse uma porção do urânio
enriquecido a 20%.
Esta mudança em poucos meses mostra a desunião dos P5+1
sobre a linha a seguir com o Irã. O novo secretário de Estado John Kerry, em
suas entrevistas antes e depois de assumir o cargo, insistiu que não havia mais
tempo para negociar uma solução diplomática. Em contraste, a Europa,
representada pela chefe de política da União Européia, Catherine Ashton, se
recusou a colocar prazos dizendo que não cessaria os esforços para trazer o Irã
para a mesa de negociação como se continuar esta farsa fosse necessário a
qualquer preço.
Até aí nenhuma surpresa. O que foi diferente desta vez
foi a posição da Arábia Saudita, que junto com Israel (não na mesma hora ou
lugar), deixou claro que reuniões e negociações não poderiam continuar
para sempre. O ministro do exterior, Príncipe Saud al-Faisal, durante a visita
de Kerry, declarou que “as negociações devem terminar numa data específica pois
os iranianos estão usando de uma estratégia conhecida: de negociar para
continuar negociando para ganhar tempo, até que se verão frente a uma arma
nuclear e isso não pode ser permitido.”
A Arábia Saudita está numa posição um pouco mais
vulnerável que Israel neste momento. Ela tem o Irã do outro lado do Golfo e do
seu lado está cercada por agentes de Teherã. Ao sul, o Irã está financiando os
rebeldes shiitas do Yemen. Ao norte, o governo do Iraque é liderado por Nouri
Al-Maliki, um shiita que viveu 8 anos no Irã e tem próximas relações com Teherã
e a Hezbollah. Em Bahrain, um grupo de ilhas a 15 km da costa saudita, o
governo descobriu um plano de ataques terroristas coordenados pela Guarda
Revolucionária iraniana. No próprio território saudita, a minoria shiita tentou
sua versão de primavera árabe com patrocinio do Irã, até agora, sem sucesso.
Assim, os sauditas são um dos poucos que entendem as
táticas iranianas de postergação, de seu desinteresse em concluir um acordo com
o ocidente, mas continuar negociando em negociar e ganhar mais tempo para avançar
seu programa nuclear.
As próprias autoridades iranianas admitiram que “graças
às negociações com a Europa, eles haviam ganhado mais um ano e mais um ano para
completarem seu programa nuclear”.
A Europa não quer impor prazos e está fazendo de tudo
para evitar que o Irã se torne uma outra Coréia do Norte que expulsou os
inspetores e correu para produzir a bomba nuclear colocando o mundo perante um
fato consumado. Se é isso que o Irã pretende fazer, com uma quantidade razoável
de urânio enriquecido a 20%, estará com uma vantagem enorme cortando o tempo
para a bomba no meio. E é por esta razão que Benjamin Netanyahu colocou a linha
vermelha aí.
E para acumular o suficiente de urânio a 20% o mais
rápido possível, o Irã está aumentando do modo substancial o número de
centrífugas. Logo após o encontro no Kazaquistão, o Irã anunciou a construção
de mais 3 mil centrífugas avançadas. Se a estratégia dos mullahs é de cortar as
relações com o mundo, eles terão urânio enriquecido suficiente para bem mais
que uma bomba nuclear.
Com os mullahs endurecendo sua posição a cada negociação,
será que alguém acredita que o ocidente está às vésperas de fechar um acordo
com o Irã e impedi-lo de adquirir a bomba nuclear?
Nesta altura, o interesse do Irã parece ser criar uma
divisão entre os Estados Unidos e a Europa para obter mais concessões e ganhar
mais tempo.
Mas do ponto de vista de Israel e da Arábia Saudita, surpreendentemente
colocados do mesmo lado por um inimigo comum, a consequência do aparente e infeliz
enfraquecimento das potências ocidentais só irá levar o Irã ao endurecimento e
mais agressão direta e através seus agentes.
A não ser que a Europa e os Estados Unidos decidam
colocar suas diferenças de lado e tomar um caminho diverso do apaziguamento
usado com a Coréia do Norte, estaremos muito em breve nos deparando com um Irã
liderado por um governo religiosamente messiânico, com várias bombas nucleares
nas mãos, e prometendo trazer o apocalipse e o final dos tempos.
A história não irá nos perdoar pelas lições não
aprendidas. O sangue de outras centenas de milhões de mortos estará em nossas
mãos se não impedirmos esta catástrofe de ocorrer.
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