Durante a visita de Obama na semana retrasada
notei que já haviam sinais da pressão que será colocada em Israel nos próximos
meses.
Netanyahu, contrariamente a todas suas
declarações passadas, pegou o telefone na frente do presidente americano e
ligou para Recip Erdogan, primeiro ministro da Turquia para se desculpar pelo
incidente da flotilha para Gaza em maio de 2010 que deixou 9 mortos, 8 deles cidadãos
turcos.
As reações de líderes do ocidente foram todas
positivas. Angela Merkel, a chanceler da Alemanha disse que havia sido um passo
correto e corajoso. O primeiro ministro da Inglaterra, David Cameron, louvou
Netanyahu.
Em Israel, no entanto, a reação foi outra.
Avigdor Lieberman, ex-ministro das relações exteriores, e o novo ministro da
Economia e Comércio Naftali Bennet criticaram duramente Netanyahu na mídia.
E de fato, desde o telefonema, Erdogan está
fazendo de tudo para fazer Israel se arrepender de ter se dobrado à vontade de
Obama.
Mas depois do Obamafest, quem poderia dizer não ao
presidente americano?
Imediatamente após o telefonema, Erdogan começou
uma campanha pessoal de ataques a Israel, não se importando muito com a necessidade
de restabelecer as relações com o estado judeu face à situação na Síria e com armas
químicas arriscando cair nas mãos de extremistas inimigos tanto de Israel
quanto da Turquia.
Washington sabe que a situação de Assad é
precária e as consequências desta guerra civil podem ser muito piores para toda
a região. Assim, neste momento, Obama precisa ter aliados estáveis e que se
comuniquem uns com os outros.
A Turquia havia demandado 3 coisas de Israel: um
pedido de desculpas, restituição para as familias dos mortos e a eliminação do
bloqueio de Gaza.
O bloqueio não será levantado e o que resta é
negociar o montante da restituição. Israel quer pagar $100,000 e a Turquia está exigindo 1 milhão de dólares para cada família.
Erdogan está claramente numa “viagem” de poder.
Desde 2006 quando insultou o presidente de Israel no fórum econômico em Davos,
ele tem esquentado sua retórica contra Jerusalém num esforço populista para
aumentar seu apoio interno. Ele nunca escondeu seu sonho de restaurar o Império
Otomano, tendo ele como sultão.
A situação na região mudou e hoje ele ataca a
Síria e Bashar Assad para aumentar sua influência e poder na região. Sua
estratégia deu resultados. É só comparar hoje a importância da Turquia com a da
Grécia.
Com as primaveras em erupção nos países árabes,
Erdogan compreendeu que muito mais do que cortejar líderes, é importante
cortejar os povos e nações. Por isso ele decidiu fazer algo inusitado:
reconciliar o governo turco com a minoria kurda do país inclusive com seu
arqui-inimigo, o PKK, grupo que causou a morte de uns 45 mil turcos em diversos
ataques terroristas pelo país. E deu certo. Nesta semana, Abdullah Ocalan,
líder do PKK ordenou um cessar-fogo de sua cela em Ankara.
Mas esta não foi sua só motivação. Erdogan
entente que 25 milhões de kurdos num país de 70 milhões de habitantes, constituem
uma minoria expressiva. Além disso, os kurdos do Iraque que estão sentados
sobre uma reserva imensa de petróleo já conseguiram sua autonomia assim como os
kurdos da Síria. Erdogan teve então que se acomodar à esta nova realidade do
melhor modo possível para lhe dar vantagens.
Em relação à Israel, no entanto, não podemos fechar
os olhos à realidade: Erdogan é um anti-semita declarado e inimigo do estado
judeu. Depois do final de seu termo como primeiro ministro em 2014, ele
procurará passar uma emenda à constituição para assumir a presidência da
Turquia com poderes maiores.
Hoje ele está usando o pedido de desculpas de
Israel como um sucesso de sua administração. Ele disse ao parlamento que não
cedeu em absolutamente nada. E planeja uma futura viagem a Gaza para ajudar a
levantar o bloqueio naval de Israel. Se ele realmente for para a Faixa, vamos
certamente ouvir novas e bombásticas declarações dele ao lado dos líderes do
Hamas.
Agora Erdogan está capitalizando sua imagem nas
costas de Israel. A prefeitura de Ankara colocou posters na cidade inteira em
agradecimento à ele. Na foto aparece Erdogan e de lado, reduzido em tamanho
está Netanyahu como que se acovardando perante o conquistador turco.
E aproveitando a onda de poder e se mostrar
ainda mais machão, ele avisou que é cedo demais para a recolocação de
embaixadores entre Israel e Turquia e não ordenará o cancelamento dos
procedimentos legais do seu país contra os soldados israelenses que
participaram na ação ao Mármara.
E o Irã está acompanhando de perto estes eventos. Os mullas não devem
estar muito felizes com a popularidade de Erdogan com quem competem pela
liderança do mundo islâmico. Mas há outro aspecto.
Numa região aonde percepções valem muito mais do que a
realidade, Israel tem que saber vestir suas ações. Um simples pedido de
desculpas pode ser visto como fraqueza e impotência. Nesta região infestada de
tubarões, Israel não tem o luxo de se picar o dedo. O cheiro de sangue será
sentido a milhares de quilometros fortalecendo e encorajando seus inimigos.
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