De acordo com o Secretário de Estado
americano John Kerry, seu objetivo nestas energéticas negociações de paz entre
Israel e os palestinos, é “implementar a solução de dois estados, isto é,
estabelecer um estado palestino independente e soberano, que viva em paz com
seu vizinho Israel”.
O que está faltando nesta definição é a
palavra “democrático”. Um estado palestino democrático, independente e
soberano. E porque isso é importante?
Na época de Bill Clinton, a
administração americana trabalhou incessantemente para dar um estado a Yasser
Arafat, um terrorista, ladrão e assassino do embaixador americano no Sudão Cleo
Noel, Jr. em 1973. Apesar disso Arafat foi a pessoa mais convidada na Casa Branca
nos oito anos da presidência Clinton.
Esta política mudou com George Bush e os
ataques de 11 de setembro de 2001. Bush começou a se preocupar não só com as
fronteiras do que seria a futura Palestina mas com o tipo de governo que
estaria dentro destas fronteiras. Bush disse que não apoiaria a criação de mais
uma ditadura, mais uma cleptocracia ou mais um refúgio de terroristas.
Hoje, parece que voltamos aos tempos de
Clinton e Arafat em que não há qualquer preocupação sobre o que realmente acontece
dentro desta Palestina. Senão vejamos:
O relatório da Comissão Palestina
Independente de Direitos Humanos emitido em Janeiro deste ano descreve “que casos
de tortura e maus- tratos de detentos aumentaram”. Só neste mês a Comissão
recebeu 56 reclamações. Outras incluem apreensões e encarcerações arbitrárias,
expropriações por agentes de segurança sem ordem judicial, violações do direito
de expressão, de imprensa, de congregação pacífica, da liberdade acadêmica além
de agressões contra pessoas e propriedades privadas e públicas por representantes
do governo palestino.
Tudo isso num só mês e de uma só
organização. Há outros relatórios. O Comitê para a Proteção de Jornalistas, por
exemplo, notou que “apesar das imensas diferenças com o governo de Israel, a
Fatah e o Hamas tiveram uma similaridade em 2013: uma ação consistente e
preocupante em silenciar jornalistas que reportam perspectivas dissonantes.”
A Human Rights Watch, uma organização
notadamente anti-Israel reportou que “os serviços de segurança da Autoridade
Palestina agrediram manifestantes pacíficos e arbitrariamente detiveram e ameaçaram
jornalistas. Alegações críveis de tortura cometidas pelos serviços de segurança
da Autoridade Palestina persistem”.
E há outras dezenas de exemplos. A
corrupção na Autoridade Palestina não começou com Abbas mas sem dúvida explodiu
desde a saída do Primeiro-ministro Salam Fayyad. Em outubro do ano passado, o Sunday
Times de Londres publicou um relatório da Corte Européia de Auditores denunciando
a perda de “bilhões de euros em ajuda européia aos palestinos ao mal-uso,
desperdício e corrupção. Mas não é surpresa.
Arafat desviou bilhões de dólares e
desperdiçou o que não foi desviado pagando seus comparsas em vez de investir na
criação da Palestina. Suas extorsões, pagamentos de propinas, tráfico ilegal de
armas, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e fraude eram conhecidos por anos
e estão detalhados num relatório da Inteligência Britânica de 1993. A revista
Forbes o nomeou um dos líderes mais ricos do mundo. Salam Fayyad, quando era seu
ministro das finanças, disse que pelo menos 900 milhões de dólares em ajuda americana
e européia haviam sumido das contas controladas por Arafat.
Mas ainda hoje é quase impossível
convencer os maiores veículos de mídia a reportarem sobre a corrupção de Arafat
ou da Autoridade Palestina. Ao contrário. Quando Arafat morreu, o então
secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, tremendo de emoção, anunciou
aquele como um “dia grave para o mundo” e ordenou que a bandeira da ONU fosse hasteada
a meio mastro apesar da ONU jamais ter honrado qualquer líder morto desta forma.
E Abbas não é melhor. Além de se manter
no poder sem eleições desde Janeiro de 2009 quando seu termo como presidente
acabou, em 2012, o conselheiro financeiro de Arafat, Mohammed Rashid, acusou
Abbas de ter desviado pelo menos 100 milhões de dólares para seu bolso.
Então, a questão se repete: É importante
ou ficamos indiferentes sobre o que acontece dentro das fronteiras desta
Palestina que Kerry quer criar? O objetivo real aqui é ignorar a conduta de
Abbas e dar a ele um estado sem qualquer cobrança ou devemos exigir um estado
livre de corrupção e que funciona dentro da lei?
Os objetivos palestinos obviamente não
mudaram desde a criação da OLP em 1964. Nesta semana circulou um vídeo mostrando
Abbas Zaki, um membro do Comitê Central da Fatah e ex-embaixador palestino no
Líbano, dizendo que o objetivo de destruir de Israel se concretizará em fases e
que eles têm que aceitar um acordo como um passo a mais para alcançarem este objetivo.
Recebi o link de diversas pessoas escandalizadas com o vídeo. Porque o escândalo?? O mesmo Zaki está no Youtube desde 2009
repetindo a mesma coisa na Al-Jazeera e na televisão libanesa. Em 2010
ele chorou a morte do planejador do massacre de Munique dizendo que “Abu Daoud
ficará para todas as futuras gerações como o ideal palestino”.
Pergunto: como é que líderes como Zaki e
Abbas podem contribuir para a criação de um estado decente, pacífico e democrático?
Como pode a América, a Europa e a mídia mundial continuarem a ficar indiferentes
com a conduta desta liderança palestina e a premiarem com um estado?
Kerry e outros membros do governo
americano falam frequentemente sobre as negociações de paz e seus objetivos,
mas não lembro de uma só vez alguém ter levantado uma discussão honesta sobre o
problema da corrupção e falta de lei e ordem na Autoridade Palestina.
O Departamento de Estado americano emite
declaração após declaração sobre as atividades israelenses dos assentamentos,
de permissões para construções futuras e reportam cada tijolo colocado. A
Europa boicota todos os produtos vindos de companhias judias da Judéia e
Samária mesmo que estas companhias empreguem centenas de palestinos. A mídia demoniza
os israelenses das comunidades além da linha verde. Mas todos eles ignoram a
corrupção, falta de lei e de direitos na Autoridade Palestina.
E depois temos uma realidade mais
acusadora: Abbas nunca assinará um acordo de paz com Israel. Quem duvida é só
perguntar a Ehud Olmert. Na semana passada o ex-primeiro ministro contou o que
aconteceu na sua época. Ele disse que depois de 36 encontros, Abbas havia
concordado com tudo. O que estava faltando era a assinatura. Olmert renunciou
ao Vale do Jordão, dividiu Jerusalém, deu aos palestinos o controle sobre o
Templo, retornou às linhas de 1967, evacuou os blocos de assentamentos de mais
de 200 mil familias, aceitou o princípio do direito de retorno, aceitou receber
5 mil refugiados de imediato e convidou Abbas a ir com ele para a ONU para juntos
declararem a criação do estado da Palestina. E Abbas recusou.
Nesta altura do campeonato, os céticos
já deveriam se dar conta que se Abbas não assinou na época de Olmert, ele não
assinará nunca.
Alguém deveria avisar o Kerry…
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