No dia em que assumiu a presidência, Obama declarou
que estenderia a mão para os inimigos da América se estes abrissem o punho. Seis
anos mais tarde, Obama cumpriu a promessa com o mais virulento dos adversários.
Nesta última quinta-feira o presidente Obama anunciou que havia chegado num
esboço de acordo com o Irã que terá que ser finalizado em menos de três meses.
Na sexta-feira, a manchete do jornal The New
York Times afirmou que “o Irã Concorda com um Esboço Nuclear Detalhado”; o
Washington Post disse que o “Irã concorda com Restrições Nucleares no Esboço de
Acordo com Potencias Mundiais”.
A primeira coisa a saber sobre esta “conquista
histórica” como Obama a chamou, é que não houve concordância em nenhum dos
pontos fundamentais que levaram a comunidade internacional a agir contra as
atividades nucleares secretas do Irã e passar seis resoluções mandatórias no
Conselho de Segurança da ONU nestes últimos 13 anos.
Mas Obama está com pressa. As sanções estavam
funcionando e foram elas que forçaram os mullahs para a mesa de negociações. No
entanto a economia do Irã poderia ainda demorar meses para entrar em colapso e
forçar os aiatolás a encerrarem seu programa nuclear. Meses que Obama não tem. De
acordo com Cliff Kupchan, um especialista do Irã, este acordo era necessário
para Obama, pois ele não deixa qualquer legado positivo em sua política
exterior. Com somente derrotas nesta área, seja o conflito árabe-israelense, a
abrupta retirada das tropas americanas e a consequente tomada do Iraque pelo
Estado Islâmico, as esquecidas linhas vermelhas na Síria, o avanço de Putin na
Ucrânia, ou a catastrófica política na Líbia que resultou na morte do
embaixador e três outros americanos, 20 meses não são suficientes para ele
deixar uma marca positiva no mundo.
Para Obama agora é tudo ou nada. Ele não tem
outra coisa. Um acordo com o Irã, e a consequente transformação – diga-se para
pior – do Oriente Médio, irá criar um dos legados mais importantes das recentes
presidências americanas. Quando ele
chamou este esboço um entendimento histórico, Obama apresentou uma solução que,
se transformada num tratado, de acordo com ele, fará o mundo mais seguro. O
tipo de legado que qualquer presidente gostaria de deixar.
No entanto, quase imediatamente após o
pronunciamento de Obama, Mohamed Javad Zarif, ministro do exterior do Irã,
denunciou as declarações do presidente, dizendo que ele estaria induzindo o
povo americano em erro. Zarif afirmou que o orgulhoso povo iraniano não teria
feito qualquer concessão, mas o oposto era verdadeiro.
De fato, a declaração conjunta do Irã e da
representante dos P5+1 tem 291 palavras. A declaração para imprensa do Irã em
persa tem 512 palavras. Mas a declaração vinda de John Kerry tem 1.318 palavras
e é denominada “Parâmetros para um Plano Compreensivo de Ação Conjunta”. O que
resta, segundo Kerry, é a “implementação dos detalhes”! Claramente, a
divergência nos textos não é só de tamanho mas nas narrativas que em alguns
pontos são diametralmente opostas.
Por exemplo: A declaração Americana diz que o
Irã não usará centrífugas avançadas, somente as antigas. O texto em persa, no entanto,
insiste que “o trabalho das centrífugas avançadas continuará nos próximos 10
anos”. Em outro exemplo, o texto Americano diz que o Irã concordou em
desmantelar o núcleo de água pesada da usina de plutônio em Arak e o texto
iraniano diz o oposto. Não só a usina nuclear continuará a funcionar, mas será
modernizada.
Nos últimos dias, os defensores de Obama e
Kerry têm insistido que o projeto nuclear iraniano e sua indústria militar
ficarão sob a tutela internacional nos próximos 10, 15 e até 25 anos. Mas nem o
texto em persa, nem o em italiano ou em francês contêm estas datas. Os Estados
Unidos falam de alívio das sanções. Zarif fala no fim delas.
Ao falar da Casa Branca na quinta-feira, Obama
fez quatro afirmações chocantes:
Primeiro, que quando ele assumiu a presidência
dos Estados Unidos, o Irã tinha “milhares de centrífugas” que agora seriam
reduzidas para umas 6 mil. De fato, em 2008, o Irã tinha só 800 centrífugas.
Foi durante o governo deste presidente e por causa de sua política de
apaziguamento que o Irã se sentiu seguro para adquirir milhares de centrífugas
e apressar seu programa nuclear.
A segunda afirmação é que graças a este esboço,
“todos os caminhos do Irã para desenvolver um arsenal nuclear serão
bloqueados”. Mas o próprio Obama reconheceu que mesmo que o acordo seja
implementado e cumprido, o Irã poderá chegar à bomba em menos de 12 meses.
Terceiro, Obama disse que o mundo saberá
imediatamente se o Irã violar o acordo. Isto é uma falácia. O Irã construiu e
manteve a usina subterrânea em Fordow durante anos e só revelou sua existência
quando agentes internacionais de inteligência a descobriram. Até hoje não
sabemos a extensão do programa nuclear iraniano e quantas usinas existem. Locais
definidos pelos iranianos como instalações militares como a usina de Parchin,
por exemplo, de acordo com este esboço estarão fora das inspeções da Agência
Internacional de Energia Atômica. Além disso, o esboço não lida com o programa
de mísseis balísticos do Irã e pesquisa em ogivas nucleares.
Mas a pior afirmação de Obama foi que a única
alternativa para este péssimo acordo é a guerra. Ele ignorou o fato que pressão diplomática,
sanções robustas e esforço internacional para fazer o Irã cumprir com as
resoluções da ONU também são uma alternativa. Em outras palavras, uma rendição
prematura não é a única alternativa para a guerra.
Obama está brincando com situações que irão
colocar em perigo não só o Oriente Médio mas irão ameaçar a segurança dos
Estados Unidos e seus aliados. Obama quis apresentar este plano antes do dia 14
de abril para prevenir uma ação do Congresso, mas também para dar um tapa em
Netanyahu, zerar o placar com os republicanos e agradar sua facção entre os
democratas; em conclusão, Obama está tomando riscos com a segurança nacional e
a paz mundial para um ganho pessoal.
Netanyahu tinha razão. Esta acordo é muito pior
do que o imaginado. Isto ficou óbvio ao vermos os iranianos dançando nas ruas.
Ninguém está dançando nos Estados Unidos, na Arábia Saudita e muito menos em
Israel.
Na quarta-feira, um dia antes do anuncio do
esboço, um general iraniano afirmou que a destruição de Israel não é
negociável. Nesta sexta-feira, durante seu sermão, mais uma vez o Supremo Líder
clamou pela morte da América. Obama está tentando fazer amizade com inimigos e
alienando seus aliados. Isto porque ele acredita que a América é a causa dos
males do mundo. Ele ingenuamente ou não, acha que se disser aos mullahs que a
América não tem más intenções para com o Irã, o Supremo Líder resolverá
eliminar seu programa nuclear. Se for isso, as ilusões de Obama chegam a ser
doentias.
Vimos as piores técnicas de negociação em ação.
O desespero para qualquer tipo de acordo ficou patente quando a América disse
ao Irã: quer manter as centrífugas? Ok; quer continuar enriquecendo urânio? Ok;
quer manter suas usinas? Ok!
O Irã fez concessões muito pequenas e
imediatamente reversíveis. A infraestrutura de todas as usinas continua
intacta. Obama disse que sem o acordo o tempo de breakout (quer dizer, o tempo
necessário para construir uma bomba), seria de 2 a 3 meses. Foi a isso que
chegamos? Quer dizer que em 10 anos eles poderão ameaçar o mundo inteiro em 2
meses? O que mais foi aceito pelos Estados Unidos que não foi publicado?
O Irã ameaçou que se as sanções não forem
imediatamente terminadas, eles voltarão a enriquecer urânio. Mas segundo o
acordo eles já têm o direito a isso. Estamos vendo a repetição do que ocorreu
com a Coréia do Norte. Assim que o Irã estiver pronto, ele sairá do acordo unilateralmente
ou culpará alguma violação pelo ocidente.
Todos os maiores aliados americanos denunciaram
o acordo. Veremos uma corrida sem precedentes por armas nucleares no Oriente
Médio. Nenhum país árabe ou Israel confia na palavra dos iranianos, especialmente
quando seu próprio profeta recomenda mentir e enganar o inimigo para alcançar a
vitória.
Os iranianos estão se gabando de ter vencido o
ocidente. Eles são os maiores patrocinadores do terrorismo ao redor do mundo,
desestabilizaram e hoje controlam pelo menos 4 países árabes, continuam a
expandir seu programa nuclear, tudo isso com as sanções. Imaginem o que farão
quando bilhões de dólares começarem a encher seus cofres. Alguém duvida que
eles continuem com o terrorismo, com sua política de desestabilização, sua
corrida para a bomba e levem à frente seu desejo de destruir Israel?
Em programas passados comparei Obama com
Neville Chamberlain. Num recente artigo no Observer, os editores dizem que
Obama não chega aos pés de Chamberlain. Isto porque o primeiro-ministro britânico
negociou com Hitler em boa-fé, sabendo que a Inglaterra estava exausta após a
Primeira Guerra Mundial, não tinha armas e seria muito perigoso para ela entrar
numa outra guerra. Obama por sua vez negocia com o Irã em posição de força e
faz a América se ajoelhar para levar à frente sua ideologia e fazer jus ao
Premio Nobel que ele recebeu prematuramente. O Observer conclui que Chamberlain
nunca teria feito um acordo com o Irã nestas condições porque era acima de tudo
um patriota.
Estamos infelizmente assistindo o começo do fim
da nossa civilização como a conhecemos. O radicalismo islâmico irá dominar o
mundo e com armas nucleares irá destruir o planeta. Cabe a nós agora decidirmos
o que responderemos aos nossos filhos e netos quando nos perguntarem por que
não fizemos nada?
Olá, você não me conhece, mas gostaria de dizer algo:
ReplyDeleteNão pare de escrever.
Seu blog parece não ser muito acessado, porém eu espero toda semana para ler um artigo seu.
A sua visão e a forma como você a expõe é brilhante.
Obrigada Junio! é o apoio de leitores como você que me incentivam a continuar escrevendo! Abcs
Delete