Esta foi uma semana de
afrontas.
Na terça-feira, o líder da
Hezbollah Hassan Nasrallah condenou os países árabes sunitas por supostamente
estarem esquentando suas relações com Israel. Ele ainda disse que a Hezbollah e
o Líbano nada têm a temer de um futuro conflito com Israel.
Falando do Irã, aonde se
encontra para se tratar de câncer, Nasrallah retoricamente perguntou aos
líderes sunitas se eles “aceitavam um amigo que ocupa terra sunita na
Palestina” ou ainda “se estes países podem fazer amizade com uma entidade que
cometeu os massacres mais horríveis contra a comunidade sunita”.
O seu grupo, a Hezbollah, está
lutando na Síria ao lado do regime alawita de Bashar Al-Assad, da guarda
revolucionária iraniana e o exército russo contra os rebeldes sunitas que são
apoiados por países árabes do Golfo. Apesar da natureza complexa e sangrenta do
conflito que já conta com mais de 400 mil mortos desde 2011, Nasrallah ficou
fora de si com a ideia de que o estado judeu possa ser considerado um “amigo” de
países árabes em vez do Irã. Ele disse que os árabes estão livres para
considerar o Irã como inimigo mas como podem eles considerar Israel um aliado?
Em sua opinião, esta aproximação deve ser condenada e “confrontada de modo
sério”.
E aí está a afronta, a
cara-de-pau e porque não dizer, a chutzpah de Nasrallah que não conhece
qualquer limite. Na mesma hora em que Nasrallah castigava os países árabes, a Rússia,
sua aliada, cometia graves crimes de guerra contra sunitas na Síria. Do uso de
bombas de barril e o bombardeamento indiscriminado de áreas civis, incluindo
hospitais, à causar intencionalmente a fome, a Russia está massacrando civis
sunitas.
Nasrallah poderia ter ficado
quieto sobre a piora nas relações entre sunitas e xiitas, mas em vez disso, ele
resolveu bater de frente com Israel. Esta é uma tática muito usada para desviar
a atenção de uma realidade desconfortável. A realidade que grita que ele,
Nasrallah, junto com o regime de Assad, o Irã e a Russia, são os responsáveis
pela maior tragédia humanitária da história recente para os sunitas.
E Nasrallah tem o desplante de
criticar os estados árabes por estarem supostamente cooperando com o estado
judeu? Quem é na verdade amigo de uma entidade que está cometendo as maiores
atrocidades contra a comunidade sunita? É você Nasrallah...
No momento em que Nasrallah
vociferava suas condenações a Israel, seu aliado Putin matava dezenas de
pessoas em pelo menos 4 hospitais e uma escola no norte da Síria, em particular
perto da cidade de Aleppo.
De acordo com a ONU, um dos
hospitais era uma maternidade e a escola estava abrigando refugiados perto da
fronteira com a Turquia. Um outro hospital em Maarat al-Numan era um posto dos
Médicos Sem Fronteira. Seu porta-voz disse que pelos menos 4 mísseis diretos
foram lançados contra o hospital em 90 minutos. Lembram o escândalo da
organização quando os Estados Unidos alvejaram seu hospital no Afeganistão?
Exigiram uma investigação, indenizações milionárias e não aceitaram o pedido de
desculpas do exército americano. Alguém ouviu algum protesto contra a Rússia?
Imaginem então se fosse Israel que tivesse atacado...
Apoiados por estes ataques
aéreos da Rússia, o governo sírio junto com as milícias iranianas e da
Hezbollah estão cercando as forças rebeldes em Aleppo tentando faze-los se
render pela fome. O mesmo método que
eles usaram para recapturar a cidade de Homs. Usar a fome como arma é crime de
Guerra, mas ela está sendo amplamente usada na Síria sem qualquer protesto.
Então neste mesmo dia, em que
sunitas são massacrados em hospitais e escolas na Síria por seus aliados,
Nasrallah, decidiu vir a público no Irã para condenar os próprios países árabes
sunitas.
A verdade é que esta
aproximação está ocorrendo. No domingo passado, o próprio primeiro ministro
Benjamin Netanyahu reconheceu este fato. Em seu discurso para a Conferência de
Presidentes das Maiores Organizações Judaicas Americanas, ele disse que os
“maiores países árabes estão mudando sua visão de Israel. Eles não veem mais o
Estado Judeu como seu inimigo, mas como um aliado, especialmente na guerra
contra o Islamismo radical”.
Nasrallah deve ficar mesmo
preocupado. Israel tem interesses similares com os países árabes sunitas, a
começar por evitar que o Irã obtenha armas nucleares e colocar um fim ao seu
avanço na Síria e outros países. Israel ainda tem muito a oferecer a estes
países, de gás natural, a avanços em tecnologia, agricultura e medicina.
Agora a segunda afronta. No
sábado passado morreu o juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos Antonin
Scalia. Um gênio jurídico, ele era conservador e via a constituição americana
como um documento que precisava ser interpretado de acordo com a visão dos
fundadores dos Estados Unidos.
Era um católico praticante,
tinha nove filhos, e um deles, foi o padre que conduziu seu funeral ontem na
Catedral da Imaculada Conceição em Washington. Presentes estavam o
vice-presidente Joe Biden e esposa, e o ex-vice-presidente Dick Cheney, além
dos outros 8 juízes da Suprema Corte.
Obama, no entanto, anunciou
que não iria. Ele e a esposa decidiram visitar o corpo de Scalia na Suprema
Corte onde ficaram menos de 2 minutos. Tradicionalmente o presidente americano
participa do funeral de um juiz do Supremo porque no balanço entre os três
poderes, estes juízes estão no mesmo nível de Obama. O porta-voz da Casa Branca
Josh Earnest não teve uma boa resposta para a ausência do presidente. Acho que
ele preferiu ir jogar golfe a prestar uma homenagem a um homem conservador.
Para piorar a afronta, Obama
mandou publicar uma foto dele segurando uma grande pasta, supostamente com
nomes de possíveis substitutos para Scalia. Alguém de seu gosto para desfazer a
contribuição deste grande homem. No caso de Menachem Zivotofsky, um menino
americano nascido em Jerusalem, a Suprema Corte decidiu por 6-3 que era
prerrogativa do presidente decidir se reconhecia a cidade santa como parte de
Israel ou não, apesar do Congresso ter legislado que era. Antonin Scalia,
escreveu uma brilhante opinião discordante, provando que a Constituição divide
a responsabilidade em matéria de relações exteriores entre o presidente e o
Congresso e que pela primeira vez na história americana uma decisão permite ao
presidente desafiar um ato do Congresso.
A terceira afronta veio da
Áustria, que esta semana convidou Hedy Epstein para representar sobreviventes
do Holocausto num conferência sobre mulheres durante a Segunda Guerra. O que
tem de especial neste convite é que Epstein nunca foi uma sobrevivente Ela
viveu os anos da guerra na Inglaterra. O pior é que ela é uma ativista
antissionista, pró-Hamas, que defende o Boicote, Desinvestimento e Sanções
contra Israel e compara o tratamento dos judeus pelos nazistas com o tratamento
dos palestinos por Israel. Ela foi a única judia convidada a participar deste
evento. ?Em toda a Áustria ou no resto do mundo não encontraram uma judia
realmente sobrevivente dos campos de concentração para falar de sua
experiência?
Esta foi uma semana de
afrontas, mas ela não é diferente de outras em que o mundo se permite cometer
atrocidades impunimente ao mesmo tempo em que dá lições de moral e condena os
que se defendem. A pergunta é, até quando vamos permitir que isto continue?
No comments:
Post a Comment