Sunday, February 21, 2016

Uma Semana De Afrontas - 21/2/2016

Esta foi uma semana de afrontas.

Na terça-feira, o líder da Hezbollah Hassan Nasrallah condenou os países árabes sunitas por supostamente estarem esquentando suas relações com Israel. Ele ainda disse que a Hezbollah e o Líbano nada têm a temer de um futuro conflito com Israel.

Falando do Irã, aonde se encontra para se tratar de câncer, Nasrallah retoricamente perguntou aos líderes sunitas se eles “aceitavam um amigo que ocupa terra sunita na Palestina” ou ainda “se estes países podem fazer amizade com uma entidade que cometeu os massacres mais horríveis contra a comunidade sunita”.

O seu grupo, a Hezbollah, está lutando na Síria ao lado do regime alawita de Bashar Al-Assad, da guarda revolucionária iraniana e o exército russo contra os rebeldes sunitas que são apoiados por países árabes do Golfo. Apesar da natureza complexa e sangrenta do conflito que já conta com mais de 400 mil mortos desde 2011, Nasrallah ficou fora de si com a ideia de que o estado judeu possa ser considerado um “amigo” de países árabes em vez do Irã. Ele disse que os árabes estão livres para considerar o Irã como inimigo mas como podem eles considerar Israel um aliado? Em sua opinião, esta aproximação deve ser condenada e “confrontada de modo sério”.

E aí está a afronta, a cara-de-pau e porque não dizer, a chutzpah de Nasrallah que não conhece qualquer limite. Na mesma hora em que Nasrallah castigava os países árabes, a Rússia, sua aliada, cometia graves crimes de guerra contra sunitas na Síria. Do uso de bombas de barril e o bombardeamento indiscriminado de áreas civis, incluindo hospitais, à causar intencionalmente a fome, a Russia está massacrando civis sunitas.

Nasrallah poderia ter ficado quieto sobre a piora nas relações entre sunitas e xiitas, mas em vez disso, ele resolveu bater de frente com Israel. Esta é uma tática muito usada para desviar a atenção de uma realidade desconfortável. A realidade que grita que ele, Nasrallah, junto com o regime de Assad, o Irã e a Russia, são os responsáveis pela maior tragédia humanitária da história recente para os sunitas.

E Nasrallah tem o desplante de criticar os estados árabes por estarem supostamente cooperando com o estado judeu? Quem é na verdade amigo de uma entidade que está cometendo as maiores atrocidades contra a comunidade sunita? É você Nasrallah...

No momento em que Nasrallah vociferava suas condenações a Israel, seu aliado Putin matava dezenas de pessoas em pelo menos 4 hospitais e uma escola no norte da Síria, em particular perto da cidade de Aleppo.

De acordo com a ONU, um dos hospitais era uma maternidade e a escola estava abrigando refugiados perto da fronteira com a Turquia. Um outro hospital em Maarat al-Numan era um posto dos Médicos Sem Fronteira. Seu porta-voz disse que pelos menos 4 mísseis diretos foram lançados contra o hospital em 90 minutos. Lembram o escândalo da organização quando os Estados Unidos alvejaram seu hospital no Afeganistão? Exigiram uma investigação, indenizações milionárias e não aceitaram o pedido de desculpas do exército americano. Alguém ouviu algum protesto contra a Rússia? Imaginem então se fosse Israel que tivesse atacado...

Apoiados por estes ataques aéreos da Rússia, o governo sírio junto com as milícias iranianas e da Hezbollah estão cercando as forças rebeldes em Aleppo tentando faze-los se render pela fome.  O mesmo método que eles usaram para recapturar a cidade de Homs. Usar a fome como arma é crime de Guerra, mas ela está sendo amplamente usada na Síria sem qualquer protesto.

Então neste mesmo dia, em que sunitas são massacrados em hospitais e escolas na Síria por seus aliados, Nasrallah, decidiu vir a público no Irã para condenar os próprios países árabes sunitas.

A verdade é que esta aproximação está ocorrendo. No domingo passado, o próprio primeiro ministro Benjamin Netanyahu reconheceu este fato. Em seu discurso para a Conferência de Presidentes das Maiores Organizações Judaicas Americanas, ele disse que os “maiores países árabes estão mudando sua visão de Israel. Eles não veem mais o Estado Judeu como seu inimigo, mas como um aliado, especialmente na guerra contra o Islamismo radical”.

Nasrallah deve ficar mesmo preocupado. Israel tem interesses similares com os países árabes sunitas, a começar por evitar que o Irã obtenha armas nucleares e colocar um fim ao seu avanço na Síria e outros países. Israel ainda tem muito a oferecer a estes países, de gás natural, a avanços em tecnologia, agricultura e medicina.

Agora a segunda afronta. No sábado passado morreu o juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos Antonin Scalia. Um gênio jurídico, ele era conservador e via a constituição americana como um documento que precisava ser interpretado de acordo com a visão dos fundadores dos Estados Unidos.

Era um católico praticante, tinha nove filhos, e um deles, foi o padre que conduziu seu funeral ontem na Catedral da Imaculada Conceição em Washington. Presentes estavam o vice-presidente Joe Biden e esposa, e o ex-vice-presidente Dick Cheney, além dos outros 8 juízes da Suprema Corte.

Obama, no entanto, anunciou que não iria. Ele e a esposa decidiram visitar o corpo de Scalia na Suprema Corte onde ficaram menos de 2 minutos. Tradicionalmente o presidente americano participa do funeral de um juiz do Supremo porque no balanço entre os três poderes, estes juízes estão no mesmo nível de Obama. O porta-voz da Casa Branca Josh Earnest não teve uma boa resposta para a ausência do presidente. Acho que ele preferiu ir jogar golfe a prestar uma homenagem a um homem conservador.

Para piorar a afronta, Obama mandou publicar uma foto dele segurando uma grande pasta, supostamente com nomes de possíveis substitutos para Scalia. Alguém de seu gosto para desfazer a contribuição deste grande homem. No caso de Menachem Zivotofsky, um menino americano nascido em Jerusalem, a Suprema Corte decidiu por 6-3 que era prerrogativa do presidente decidir se reconhecia a cidade santa como parte de Israel ou não, apesar do Congresso ter legislado que era. Antonin Scalia, escreveu uma brilhante opinião discordante, provando que a Constituição divide a responsabilidade em matéria de relações exteriores entre o presidente e o Congresso e que pela primeira vez na história americana uma decisão permite ao presidente desafiar um ato do Congresso.

A terceira afronta veio da Áustria, que esta semana convidou Hedy Epstein para representar sobreviventes do Holocausto num conferência sobre mulheres durante a Segunda Guerra. O que tem de especial neste convite é que Epstein nunca foi uma sobrevivente Ela viveu os anos da guerra na Inglaterra. O pior é que ela é uma ativista antissionista, pró-Hamas, que defende o Boicote, Desinvestimento e Sanções contra Israel e compara o tratamento dos judeus pelos nazistas com o tratamento dos palestinos por Israel. Ela foi a única judia convidada a participar deste evento. ?Em toda a Áustria ou no resto do mundo não encontraram uma judia realmente sobrevivente dos campos de concentração para falar de sua experiência?


Esta foi uma semana de afrontas, mas ela não é diferente de outras em que o mundo se permite cometer atrocidades impunimente ao mesmo tempo em que dá lições de moral e condena os que se defendem. A pergunta é, até quando vamos permitir que isto continue?

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