Durante seu discurso na Assembléia Geral
esta semana semana, Bibi Netanyahu fez algo inédito: virou a mesa na
organização questionando a legitimidade da ONU. Depois de décadas ouvindo as intermináveis
condenações ao seu país, Bibi tirou as luvas e descreveu as atividades da ONU como
“farsa moral”, “desgraça”, “piada” e um “circo”.
Mas enquanto os presentes tentavam se
refazer dos insultos, Bibi fez um gesto muito inteligente: convidou o
presidente palestino Mahmoud Abbas a vir a Jerusalém e a falar ao povo de
Israel na Knesset. Abbas correu para a imprensa para declarar que isso era um
complô israelense para cancelar o encontro arranjado pelos russos. E outra vez,
como todas no passado, Abbas rejeitou a oportunidade de se encontrar frente a
frente com Netanyahu da mesma forma que rejeitou todas as ofertas de paz do
passado e um Estado.
Se Abbas quisesse mesmo a paz, falar na
Knesset seria uma oferta irrecusável. Isto mudaria completamente a dinâmica do
emperrado processo de paz e da opinião pública israelense que hoje não acredita
que os palestinos queiram de fato um acordo. Em poucas horas Abbas criaria uma
intolerável pressão sobre Netanyahu que lhe permitiria extrair ainda mais
concessões de Israel.
Mas em vez de abraçar esta oportunidade,
Abbas a rejeita. Porquê? A resposta é dolorosamente óbvia: porque seu objetivo
não é uma solução de dois estados ou qualquer outra resolução do conflito.
Falar na Knesset não só relembraria o
dramático gesto de Anwar Sadat em 1977 que levou à paz entre Israel e o Egito
mas iria demolir tudo o que Abbas e seu antecessor Yasser Arafat construíram, marcando
o fim da centenária guerra entre os muçulmanos e o sionismo. Discursar na
Knesset significaria o reconhecimento palestino à legitimidade do estado judeu reduzindo
os obstáculos à paz a meros detalhes sobre fronteiras e garantias contra
violência futura.
Abbas não pode discursar na Knesset
porque não é isso o que ele busca. Quem o ouviu na ONU esta semana, pôde entender
que para Abbas, o conflito está fatalmente enraizado numa miríade de
reclamações históricas e ódio religioso. Em vez de falar sobre como resolver a
situação, ele usou o pódio da Assembléia Geral para exigir uma desculpa da
Inglaterra sobre a Declaração Balfour, de 1917, que supostamente teria desencadeado
o reconhecimento do direito dos judeus à sua terra ancestral. E ainda pior, em
seu discurso, novamente Abbas reciclou as mentiras que sua mídia oficial diariamente
publica como a intenção de Israel de destruir as mesquitas do Monte do Templo, a
razão principal da última onda de ataques terroristas.
Enquanto reiterava o reconhecimento
implícito de Israel nos acordos de Oslo de 1993, dizendo que eles continuam em
vigor, Abbas deixou bem claro que para ele, os acordos são condicionais e podem
ser revogados se Israel não se dobrar às suas exigências. Nada sobre a
inadimplência palestina nos últimos 23 anos...
Mais precisamente, o foco da campanha de
Abbas na ONU este ano, é o de abandonar as negociações bilaterais a que está
obrigado por Oslo em favor de passos unilaterais que não só não trarão
estabilidade mas tornarão a paz completamente impossível.
E isso nos leva a administração
americana e aos franceses. Obama assinou há duas semanas um Memorando de
Intenções com Israel sobre a ajuda militar dos Estados Unidos para os próximos
10 anos. Este Memorando foi mais um exemplo clássico das manobras
mal-intencionadas deste presidente.
Primeiro é preciso deixar claro em que
consiste esta suposta “ajuda” militar americana a Israel. Sim, são bilhões de
dólares anuais mas este dinheiro nunca sai dos Estados Unidos. Este dinheiro é
dado às empresas americanas de defesa para desenvolverem sistemas e produzirem
armas e munições que num segundo momento são entregues a Israel com ou sem
restrições dependendo da administração corrente. No decorrer dos anos, e muito
dificilmente, Israel conseguiu negociar para que meros 26% do dinheiro beneficiasse
sua própria industria de defesa que trabalha em conjunto com a americana.
Ainda, em caso de guerra, Israel poderia fazer um pedido de suplementação da
ajuda ao Congresso americano.
Obama nunca teria conseguido eliminar
esta “ajuda” a Israel porque sua própria industria iria à falência, então ele
fez a segunda melhor coisa: exigiu que os 100% da ajuda sejam gastos nos
Estados Unidos e fez Israel assinar que nos próximos 10 anos ela se obrigaria a
não pedir qualquer suplemento ao Congresso.
Fontes da administração e do Congresso
avisaram que Obama queria concluir este Memorando de Intenções nos últimos
meses de sua presidência para polir suas credenciais pró-Israel. Ele precisa
disto para um objetivo mais funesto.
No último ano e meio, os franceses estão
sentados numa resolução anti-Israel, que submeterão ao Conselho de Segurança da
ONU logo após as eleições americanas em Novembro.
Se esta resolução for aprovada, a ONU
exigirá que Israel aceite um acordo com os palestinos forçando-a a se retirar
para as linhas de armistício de 1949 com pequenos ajustes e a divisão de
Jerusalém para ser concluída em 18 meses. Se Israel recusar, as nações do mundo
irão reconhecer o estado da Palestina num estado formal de guerra com Israel. E
isto lhe dará legitimidade para pedir ajuda militar a seus simpatizantes.
No furioso protesto do Congresso americano
que se seguir, Obama irá mostrar o vídeo do seu encontro com Netanyahu nesta
última quarta-feira em que o premier israelense é visto agradecendo Obama
efusivamente pela ajuda militar e seu apoio a Israel.
Enquanto isso, Abbas será congratulado através
do mundo por sua inflexibilidade pois terá conseguido que outros imponham uma
solução para a qual ele não teve que fazer qualquer concessão. Uma vez as
fronteiras definidas a seu favor, ele poderá expulsar os judeus da Judeia e
Samaria e lhe sobrará só um ponto a discutir: a volta dos refugiados para
Israel própria.
Assim, meus caros, não creio que algum
dia veremos Abbas na Knesset porque a cultura politica dos palestinos está
ainda enraizada na mesma rejeição da Declaração de Balfour que criou a falsa
identidade nacional palestina nas últimas décadas.
É muito fácil para a mídia internacional
e os liberais americanos condenarem Netanyahu dizendo que seu convite não é
sincero. Mas se Abbas estivesse realmente buscando um caminho para a paz e
independência para os palestinos, a coisa mais inteligente a fazer teria sido
aceitar o convite do primeiro ministro de Israel e discursar perante a Knesset,
mesmo se fosse para repetir suas diatribes contra a Declaração Balfour e como
disse Netanyahu, contra o patriarca Abraão por ter comprado a caverna em Hebron
e contra o Imperador Persa Ciro por ter autorizado a volta dos judeus para
Jerusalém e a reconstrução do Templo.
O fato de sabermos que Abbas nunca
aceitará discursar na Knesset nos diz mais do que precisamos saber sobre as
intenções palestinas. Agora é esperar para ver o que acontece.
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