No último sábado à noite um turista
Jordaniano esfaqueou e feriu um policial israelense na cidade velha de
Jerusalem. O policial, mesmo ferido, conseguiu sacar sua arma e matou o
agressor.
Em resposta ao incidente, o governo da
Jordânia emitiu uma declaração furiosa condenando Israel dizendo que “o
Governo de Israel que é a força de ocupação, é responsável pela morte de um
cidadão jordaniano no leste de Jerusalem... Condenamos duramente este crime
desprezível que foi cometido contra um cidadão jordaniano, e exigimos que
Israel forneça todos os detalhes sobre o incidente”.
O ataque de ontem é claramente parte desta
última onda de terrorismo que começou em setembro de 2015 e que até agora
custou a vida de 244 palestinos envolvidos em esfaqueamentos, atropelamentos,
apedrejamentos e tiroteios. Trinta e sete israelenses, dois turistas americanos
e uma estudante inglesa foram mortos nestes incidentes. Uma onda que Mahmoud
Abbas, presidente dos palestinos, chama de uma insurreição pacífica!
Israel assinou um tratado de paz com a
Jordânia há 23 anos. E seu povo odeia
Israel e os judeus até mais do que os iranianos. De vez em quando, os
jordanianos têm a oportunidade de expressar como se sentem em relação a Israel,
e a coisa é feia.
Em março de 1997, três anos após a
assinatura do tratado de paz, meninas da 7ª e 8ª série de uma escola de Beit
Shemesh foram ao vale do Jordão para um passeio. O ponto alto da viagem era uma
visita à chamada “Ilha da Paz”. A área fica próxima à estação de eletricidade
de Naharayim, que inclui terras que Israel cedeu para a Jordânia no acordo de
paz, mas que Israel alugou da Jordânia para continuar o cultivo de agricultores
judeus que haviam comprado estas terras várias décadas antes.
A transferência formal da soberania por Israel
e o reconhecimento pela Jordânia do direito dos judeus àquela área eram prova
de que o acordo de paz ia além do pedaço de papel em que foi escrito. Nesta área da Ilha da Paz, tínhamos finalmente
concretizado o fim das hostilidades entre Israel e a Jordânia.
Mas justo ao descerem do ônibus, um
soldado jordaniano designado a proteger visitantes, pegou sua M-16 e atirou
contra as meninas matando sete e ferindo outras seis. A ilusão da Ilha da Paz
tinha chegado a um fim brutal. Estando em território jordaniano não havia
ninguém para proteger as meninas. O soldado teria matado todas se sua arma não
tivesse emperrado.
Nos dias subsequentes, Israel viu as
duas caras da Jordânia e com elas, a verdadeira natureza da paz que tinha
alcançado.
De um lado, num gesto de inédita
humildade. O próprio Rei Hussein foi a Israel para prestar suas condolências a
cada uma das famílias das sete meninas. Ele se curvou aos pais e pediu perdão. Mas
na Jordânia, os cidadãos comemoraram o massacre e seu perpetrador Ahmed
Daqamseh, promovido a herói nacional.
O judiciário jordaniano fez de tudo para
não tratar Daqamseh como homicida. Em vez de receber a pena de morte por seu
crime – que teria sido o normal se as vítimas não fossem meninas judias – os
juízes o declararam louco e o sentenciaram à prisão perpétua. Pela lei
jordaniana esta sentença se traduziu em 20 anos de detenção. Em outras
palavras, o assassino recebeu menos de três anos por cada menina que matou e
nada por aquelas que ele feriu.
Insatisfeitos com a sentença, no
entanto, o publico jordaniano repetidamente exigiu sua libertação. Em 2011, o
então ministro da Justiça Hussein Majali chamou Daqamseh de herói. Em 2014 a
maioria do parlamento jordaniano votou para solta-lo. Em março deste ano, com sua sentença cumprida,
Daqamseh foi solto. Ele foi recebido em sua cidade com comemorações dignas de qualquer
celebridade.
Daqamseh, o suposto louco, nunca
expressou arrependimento. O oposto. Em sua primeira entrevista para a
Al-Jazeera no dia seguinte à sua libertação, ele declarou que a “normalização
com os sionistas é uma mentira”; que “os israelenses são dejetos humanos que o
mundo vomitou aos pés dos árabes”; que “Israel deveria ser eliminada por fogo
ou enterrada e se isto não fosse alcançado por suas mãos, então a tarefa
deveria ser passada para a próxima geração para queimar o lixo”.
A situação atual da Jordânia é bem
preocupante. E apesar de toda a ajuda econômica e estratégica que recebe, o
reinado está à beira da falência econômica e social. O desemprego, oficialmente
em 14%, de fato está em torno de 38%. É um dos países do mundo mais pobres em
água e depende de exportações de Israel para sobreviver. Jordanianos que vivem
no exterior mantêm mais de 350 mil famílias com suas remessas de dinheiro.
Desde 2003 a Jordânia absorveu um milhão
de refugiados do Iraque e outro milhão da Síria. Refugiados que, em caso de um
golpe ou guerra civil na Jordânia, inundariam a Europa. Para Israel, a Jordânia
é imprescindível como zona amortecedora entre seu território e o Iraque e a
Síria, ambos controlados pelo Irã.
A Irmandade Islâmica é a segunda força
política do país. Apesar dos jordanianos terem ficado revoltados com a execução
do seu piloto em 2015, queimado vivo pelo Estado Islâmico, mais de dois mil
jordanianos se juntou ao grupo e contam com milhares de simpatizantes no país.
A Jordânia é um exemplo do perigo de
assistência financeira sem restrições. A cada ano, os Estados Unidos fornecem à
Amã mais e mais ajuda civil e militar para manter o regime. E a cada ano, vozes
como as de Daqamseh aumentam em número e volume. A Jordânia também mostra que o conceito de
paz entre Israel e seus vizinhos árabes tem um valor limitado. A paz com o
Egito é na melhor das hipóteses fria e com a Jordânia, é gélida.
Enquanto o coração e mentes dos árabes
continuarem a ser alimentados por conspirações e teorias nefastas sobre os
judeus e inspirados por jihad e destruição, que tornam um assassino de meninas
inocentes em herói, a noção de que uma paz genuína possa ser alcançada é
irracional e irresponsável.
Israel está hoje enfrentando uma
situação bastante complicada em sua fronteira norte com a guerra civil na
Síria. Ela não quer o mesmo em sua fronteira leste com a Jordânia. Mas Israel
não pode apenas fingir que isto não irá acontecer e tem que planejar para esta
eventualidade.
Depois do massacre de 1997, os pais das
meninas mortas e o público perguntaram por que a escola não tinha levado
guardas à paisana para a Ilha da Paz para protegê-las? Uma pergunta razoável.
Daqamseh pôde matar as meninas porque Israel baixou a guarda. E o único jeito
de evitar que isto aconteça novamente é reforçar o controle de sua fronteira
leste.
Vinte e três anos após o acordo de paz,
nada mudou na Jordânia. Nenhum coração e nenhuma mente foi convencida a aceitar
Israel. O acordo de paz não protegeu as meninas em 97 ou o policial ontem. A
única coisa que protege Israel e seus cidadãos é sua capacidade e disposição de
usar os recursos que tem para se defender dos que seguem repletos de ódio apesar
dos tratados de paz assinados.
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