Há duas semanas ficamos sabendo que o
ex-secretário de Estado dos EUA, John Kerry, compartilhou com o ministro das
Relações Exteriores iraniano, Javad Zarif, inteligência sobre as operações
secretas de Israel na Síria contra os interesses do Irã.
Zarif diz que Kerry o informou sobre “pelo
menos” 200 ataques israelenses contra alvos iranianos na Síria. "Você não
sabia?" o entrevistador pergunta duas vezes. Ao que Zarif respondeu em
ambas: “Não, não”.
Infelizmente, a notícia sobre Kerry
divulgar segredos de segurança para Zarif é totalmente crível. Quer que Zarif
esteja ou não dizendo a verdade. E se isso aconteceu antes dos ataques de
Israel serem de conhecimento público (o que tornaria as ações de Kerry uma
traição) ou apenas depois - a história fede. É plausível, infelizmente, porque a desonestidade caracteriza Kerry e
ele está disposto a obter o favor de adversários para provar sua própria
sabedoria poderosa, enquanto persegue Israel.
Quando ele se tornou Secretário de Estado
no governo Obama, a visão de Jerusalém era que John Kerry era um político
idealista e ingênuo. Seu ardente entusiasmo por negociações de paz basicamente
impossíveis entre Israel e uma Autoridade Palestina corrupta e extremista foi
visto por Jerusalém como diplomacia de apaziguamento ou uma missão tola.
Mas em uma entrevista de televisão em 2013 para repórteres israelenses e
palestinos, um Kerry diferente apareceu: desagradável, ameaçador, unilateral,
cego à ruindade e falta de confiabilidade dos líderes palestinos e indiferente
à situação explosiva que ele próprio estava criando.
Mais que uma vez ele ameaçou um “isolamento
futuro” de Israel e de uma terceira intifada, a menos que Israel rapidamente
permitisse o surgimento de uma “Palestina íntegra” e acabasse com sua “ocupação
militar perpétua” da Judéia e Samaria. Não se tratava apenas de uma pressão
hostil. Kerry basicamente expôs a intenção do governo Obama de deslegitimar e
isolar Israel. Ele estava negociando traiçoeiramente fazendo profecias
repugnantes autorrealizáveis, dando aos palestinos uma desculpa para a
violência e para a renovação de sua “guerra legítima” contra Israel em fóruns
internacionais.
Claro, Kerry não fez qualquer ameaça
semelhante aos palestinos. Ele não fez nenhum esforço para desiludir os palestinos
da noção de que eles podem continuar a exigir o máximo como o mínimo aceitável.
Ele não fez nenhum esforço para pressionar a Autoridade Palestina a aceitar os
laços históricos do povo judeu com a Terra de Israel e a legitimidade da
existência de Israel no Oriente Médio como um estado judeu, ou para dar um fim
à glorificação de homens-bomba, aos constantes ataques contra a população civil
de Israel como estamos vendo agora, ou ao pagamento dos salários nababescos a
assassinos sanguinários.
Em vez disso, Kerry escolheu lançar um
ataque a Netanyahu e a todos os israelenses que (nas palavras de Kerry)
obstinadamente "se sentem seguros hoje" e "sentem que estão indo
muito bem economicamente". Para Israel ele expôs as consequências de desobedecer
aos Estados Unidos – isto é, o fim da segurança e da prosperidade - mas não
expôs consequências semelhantes aos palestinos se eles permanecessem
intransigentes.
Na verdade, Kerry e seu chefe, o então
presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foram responsáveis por moldar o maior
contexto inflamatório que gerou a onda de terror palestino contra Israel de
2014. Eles apoiaram o líder palestino Mahmoud Abbas em sua campanha de mentiras
descaradas, confronto violento e ataque diplomático contra Israel.
Kerry friamente observou que "não iria
atribuir a culpa pelo ciclo de violência" na região, e que "ambos os
lados" estavam apresentando "desafios" para a solução de dois
estados. Esse é o mantra usado para justificar a violência palestina. Ele então
sugeriu – muito covardemente - que havia justificativa para os ataques
palestinos, explicando que "a violência ocorre porque há uma frustração
que está crescendo entre os palestinos que não veem nenhum movimento
diplomático".
Ah, sim?
KERRY não abriu a boca quando Abbas sugeriu
que “pés imundos de judeus” estavam “poluindo” as mesquitas no Monte do Templo
ou quando Abbas negou a existência dos Templos de Salomão como um fato
histórico.
Em 2014, Kerry, do alto de sua hipocrisia,
voltou ao tema "oy-vey-Israel-vai-ser-boicotado", fingindo estar preocupado
com o caráter judeu e democrático de Israel ao mesmo tempo que ameaçava sua
prosperidade econômica.
Em tom apocalíptico Kerry declarou “Com
certeza. Eu prometo a vocês 100%, o status quo de hoje não pode ser mantido.
Não é sustentável. É ilusório. Veja que há uma campanha cada vez maior de
deslegitimação de Israel que está se formando. As pessoas são muito sensíveis a
isso, fala-se em boicote e outros tipos de coisas.”
Por outro lado, Kerry nunca avisou a
liderança palestina que esta era sua última chance de formar um Estado
palestino. Ele nunca avisou Abbas que sua Autoridade perderia a generosidade
internacional e a "prosperidade econômica" se ele - Abbas - não
"demonstrasse liderança" ao aceitar as propostas de Kerry.
E quando no final nada deu certo, Kerry
culpou Netanyahu e os assentamentos israelenses por terem afundado seus
esforços heroicos de paz. Até as últimas horas no cargo, ele denunciou Israel.
Que ela estaria cometendo um assassinato sangrento sobre a Judéia e Samaria, se
referindo a um aumento inexistente de construção israelense “massiva e ilegal”
no berço bíblico da civilização judaica.
Para encerrar tudo, Kerry arrogantemente
acrescentou que “não haverá paz ou relações em separado com o mundo árabe sem uma
paz com os palestinos primeiro. Todo mundo precisa entender isso. Essa é a dura
realidade.”
Quando finalmente (e felizmente!) ele saiu
do cargo, Kerry avisou que o Oriente Médio iria “explodir” se o governo Trump
transferisse a embaixada dos EUA para Jerusalém. Em seguida, ele avisou que o
assassinato do líder da Guarda Revolucionária do Irã, Qasem Soleimani, pelo
governo Trump, também causaria "uma explosão absoluta em toda a
região".
Kerry estava errado em todos os aspectos:
rejeitar suas propostas de paz levaria ao isolamento internacional de Israel;
que Abbas estava pronto para a paz, enquanto Netanyahu não; que nenhum país
árabe faria a paz com Israel antes do estabelecimento de um estado palestino; que
o Oriente Médio “explodiria” se uma embaixada dos Estados Unidos fosse aberta
em Jerusalém; e essa “guerra total” resultaria do ataque ao mentor terrorista
Soleimani.
Mas isso não esfriou a autoestima, a
pomposidade e a arrogância ridícula de Kerry como um oráculo moral e profeta
político.
A quebrada bússola diplomática de Kerry também
desempenhou um papel no acordo nuclear de Obama com o Irã (o JCPOA). Em 2015 ele
jurou que não havia “negócio melhor com o Irã” depois de ter sido enganado por
seu colega de negociação, Zarif. Mesmo assim, para salvar sua reputação, ele
reiterou que “o acordo tinha eliminado a ameaça de um Irã com uma arma
nuclear”. E aí, seguindo Obama, ele acusou os oponentes do acordo, como
Netanyahu, de "fomentadores de guerra".
Mas Kerry não parou aí. Mostrando o quanto
ele gosta de cortejar tiranos, Kerry fez uma campanha internacional para gerar
grandes negócios para os mulás de Teerã. Ele cruzou a América e a Europa em seu
jato oficial do governo para persuadir as maiores empresas a investirem no Irã;
isso para garantir que o Irã recebesse imediatamente os dividendos de “paz”,
além dos bilhões de dólares que Obama liberou para os cofres do regime.
Uma vez fora do cargo, Kerry foi pego
novamente em conluio com Zarif. Em 2018, Kerry aconselhou Zarif a esperar o fim
do governo Trump e torcer para que democratas mais flexíveis fossem eleitos em
2020.
E então aparece esta história, sugerindo
que anos atrás Kerry avisou os iranianos sobre operações secretas israelenses.
Novamente, isso pode não ser verdade. Mas é preciso perguntar: que outros
segredos, americanos ou israelenses, Kerry pode ter revelado aos iranianos?
Pior ainda, a revelação desta semana se
encaixa em um padrão de insensibilidade do governo Obama, e agora de frieza do
governo Biden, em relação a Israel. Ele surge no contexto de tensões crescentes
entre Washington e Jerusalém sobre a sabotagem (supostamente israelense) do
programa nuclear iraniano e ataques a alvos da Guarda Revolucionária iraniana
na Síria e no Mar Vermelho; ataques que parecem ter sido reprovados pelo novo governo
americano.
A pergunta agora é: até onde os nomeados por
Biden irão para minar os esforços diplomáticos e militares de Israel contra o
Irã? Em seu desprezo a Israel, poderia o governo Biden - no qual John Kerry
atua como enviado climático, mas seus protegidos continuam a supervisionar a
política do Irã – poderiam eles “punir” Israel por sua posição resoluta contra
Teerã? Poderiam eles suspender o apoio diplomático a Israel em outras frentes? Poderia
Biden chantagear Israel, suspendendo seu apoio em relação ao Tribunal Penal
Internacional, se Israel não se dobrar à sua política em relação ao Irã?
Pela reação do governo Biden ao que está se
passando hoje, culpando apenas Israel pela volta dos ataques terroristas
palestinos e pela violência árabe em Jerusalém, o tradicional apoio americano
está agora seguido de um grande ponto de interrogação.
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