No impasse nuclear que nos encontramos agora, entre os Estados
Unidos e o Irã - sendo que Israel e os Estados árabes sunitas -
as partes mais
interessadas -ficam assistindo de escanteio – está ocorrendo uma vacilação muito perigosa.
Quando, como
e onde este impasse irá terminar
é completamente incerto.
Mas a América
vacilou primeiro.
Fontes da inteligência israelense explicaram que quando
Washington viu que Ebrahim Raisi seria eleito presidente do Irã, logo
tentou suavizar algumas de suas linhas vermelhas, na
esperança de fechar um acordo antes que ele assumisse o
cargo.
Essas posições incluíram mostrar uma
flexibilidade sobre as centrífugas avançadas, deixando o Irã coloca-las em
armazenamento em vez de destruí-las. Estas centrífugas estão permitindo o enriquecimento
de uranio para uma bomba
nuclear em um ritmo mais rápido.
De acordo com o acordo nuclear de 2015, Teerã foi autorizado
a reter um número muito limitado de suas centrífugas avançadas, em comparação
com as centenas que opera agora.
Além disso, a administração Biden também teria mostrado alguma flexibilidade
em relação às sanções econômicas que estaria disposta a remover como parte de um retorno ao acordo.
O que Biden e
seu bando de incompetentes no Departamento de Estado não entendem é que uma
mostra de fraqueza nunca funciona no Oriente Médio. Essas concessões pré-Raisi foram
o que encorajou o novo líder iraniano a buscar mais concessões, paralisando as
negociações por quatro meses e avançando a 60% de enriquecimento - apenas um
passo abaixo dos 90% necessários para uma bomba nuclear.
Na semana
passada, a República Islâmica concordou em renovar as negociações com a Agência
Internacional de Energia Atômica sobre as inspeções nucleares e permitiu à
agência o acesso inicial a alguns de seus equipamentos de observação nuclear
após meses bloqueando os inspetores.
Surpreendentemente
a Agência relatou que alguns dos seus equipamentos foram danificados, mas não
revelou se os danos às câmeras foram causados pelo ataque de junho à
instalação nuclear iraniana de Karaj (atribuída a Israel) e se sua conclusão
foi baseada em relatórios iranianos ou se ela confirmou independentemente a
causa dos danos.
Esta é uma
questão importante, porque levanta suspeitas de que os iranianos adulteraram
equipamentos da AIEA nos últimos meses para ocultar certas atividades. E até
agora, as autoridades israelenses não negaram envolvimento no ataque a Karaj.
O Irã também
está avançando por outro lado. Através da Hezbollah, Teerã quer ser vista como “salvadora”
do Líbano, prometendo enviar tanqueiros de petróleo para aliviar a crise econômica
e a total falência do Estado. O Irã vê o Líbano como uma outra seção do tabuleiro
e quer remover as peças americanas da área. Sem poder fazê-lo militarmente, o
Irã irá usar seu petróleo. Isto, no contexto da saída deplorável dos Estados
Unidos do Afeganistão, o Irã acredita que com um pequeno empurrão, a América
irá levantar as mãos também no Líbano.
O Irã está
jogando habilmente este jogo de xadrez. Sem dúvida sente que finalmente começou
a lucrar com a nova abordagem conciliatória em Washington e agora irá ameaçar
ainda mais o ocidente se não receber o que quer: o levantamento total das
sanções pelos EUA antes de um retorno ao JCPOA.
De acordo com
seus termos, o Irã precisaria desistir de todo o seu urânio enriquecido acima
de 20% e a maior parte do que foi enriquecido, tem que ser reduzido para 5%
antes que as sanções sejam suspensas.
Com tudo isso
em jogo, Israel também pareceu vacilar nas entrevistas antes do Yom Kippur.
O ministro da
Defesa, Benny Gantz, tornou-se o primeiro alto funcionário israelense a dizer
publicamente que já não se opõe de todo a um retorno americano ao JCPOA.
Até agora,
Gantz, o primeiro-ministro Naftali Bennett, o ex-primeiro-ministro Benjamin
Netanyahu e todas as outras autoridades israelenses se opunham veemente ao
acordo que dá ao Irã total liberdade para produzir o que quiser, inclusive
bombas nucleares em 9 anos.
Se havia uma
diferença entre as abordagens de Netanyahu e Bennett, era só no estilo.
Netanyahu queria deixar claro a posição de Israel sobre o acordo entre os EUA e
o Irã, a fim de ganhar pontos políticos com partes do eleitorado americano e
israelense e, possivelmente, intimidar o Irã.
Bennett
tentou reconquistar o apoio do Partido Democrata americano, que atingiu níveis
historicamente baixos com Netanyahu. Mas a declaração de Gantz cruzou uma nova
linha.
Isso
aconteceu apenas um dia depois que o ministro das Relações Exteriores, Yair
Lapid, minimizou a conquista do Irã de estar a apenas um mês de urânio
suficiente para uma arma nuclear.
Lapid disse
em voz alta o que apenas os críticos israelenses, cientistas nucleares e, às
vezes, funcionários do exército falavam entre si. Ele explicou que mesmo que a República
Islâmica chegue ao ponto em que tenha urânio suficiente, ainda levará mais de
alguns meses para ser capaz de enviar uma bomba nuclear.
Na verdade,
até mesmo especialistas nucleares e oficiais de inteligência israelenses disseram
há algum tempo que o Irã precisaria de pelo menos 6 meses depois de desenvolver
uma arma nuclear para conseguir armar um míssil balístico ou outro meio de
entrega.
O Chefe de
Gabinete do exército de Israel, Tenente-General Aviv Kohavi e vários oficiais
de inteligência do IDF estimam o prazo em quase dois anos.
A disparidade
deriva principalmente de quanto o Irã realizou clandestinamente nas áreas de
detonação e desenvolvimento de mísseis balísticos desde 2003 (uma época sobre a
qual Israel sabe muito depois que o Mossad confiscou os arquivos nucleares do
Irã) e quais atividades Teerã pode ou não ser física e financeiramente capaz de
empreender em paralelo.
Lapid pode
estar tentando aliviar a pressão sobre seu governo de fazer algo e também sobre
os EUA para voltar ao acordo, argumentando que se o Irã não está tão perto de
construir uma bomba, então os EUA podem esperar por um acordo “melhor”.
Mas, junto
com a declaração de Gantz, parece que pelo menos alguns membros do atual
governo israelense estão prontos a engolir um retorno dos EUA ao JCPOA, desde
que tenham garantias da volta das sanções econômicas em caso de violação – o que
é uma idiotice já que sanções demoram meses, senão anos para surtirem efeito - e
garantias dos EUA de que não resistiriam aos planos israelenses de atacar as
instalações nucleares iranianas no futuro, se necessário.
E será isso
suficiente para um retorno iraniano e americano ao Acordo? O Irã demanda o
mesmo acordo e Biden se comprometeu a tampar os buracos do acordo original. Como fica? E como Israel agirá se Washington e
o Ocidente simplesmente murcharem sob a pressão iraniana e se contentarem com
um Acordo mais fraco, no qual o Irã consegue manter permanentemente suas
centenas de centrífugas avançadas - mesmo se elas estiverem temporariamente fechadas?
Todas essas
são questões em aberto.
Mas o vacilo de
todos os lados nos últimos dias começou a remodelar a geopolítica em torno do
assunto - e parece que mais mudanças e surpresas podem não estar longe.
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