Sunday, September 19, 2021

O Impasse Nuclear com o Irã - 19/9/2021

 

No impasse nuclear que nos encontramos agora, entre os Estados Unidos e o Irã - sendo que Israel e os Estados árabes sunitas - as partes mais interessadas -ficam assistindo de escanteio está ocorrendo uma vacilação muito perigosa.

Quando, como e onde este impasse irá terminar é completamente incerto.

Mas a América vacilou primeiro.

Fontes da inteligência israelense explicaram que quando Washington viu que Ebrahim Raisi seria eleito presidente do Irã, logo tentou suavizar algumas de suas linhas vermelhas, na esperança de fechar um acordo antes que ele assumisse o cargo.

Essas posições incluíram mostrar uma flexibilidade sobre as centrífugas avançadas, deixando o Irã coloca-las em armazenamento em vez de destruí-las. Estas centrífugas estão permitindo o enriquecimento de uranio para uma bomba nuclear em um ritmo mais rápido.

De acordo com o acordo nuclear de 2015, Teerã foi autorizado a reter um número muito limitado de suas centrífugas avançadas, em comparação com as centenas que opera agora.

Além disso, a administração Biden também teria mostrado alguma flexibilidade em relação às sanções econômicas que estaria disposta a remover como parte de um retorno ao acordo.

O que Biden e seu bando de incompetentes no Departamento de Estado não entendem é que uma mostra de fraqueza nunca funciona no Oriente Médio. Essas concessões pré-Raisi foram o que encorajou o novo líder iraniano a buscar mais concessões, paralisando as negociações por quatro meses e avançando a 60% de enriquecimento - apenas um passo abaixo dos 90% necessários para uma bomba nuclear.

Na semana passada, a República Islâmica concordou em renovar as negociações com a Agência Internacional de Energia Atômica sobre as inspeções nucleares e permitiu à agência o acesso inicial a alguns de seus equipamentos de observação nuclear após meses bloqueando os inspetores.

Surpreendentemente a Agência relatou que alguns dos seus equipamentos foram danificados, mas não revelou se os danos às câmeras foram causados ​​pelo ataque de junho à instalação nuclear iraniana de Karaj (atribuída a Israel) e se sua conclusão foi baseada em relatórios iranianos ou se ela confirmou independentemente a causa dos danos.

Esta é uma questão importante, porque levanta suspeitas de que os iranianos adulteraram equipamentos da AIEA nos últimos meses para ocultar certas atividades. E até agora, as autoridades israelenses não negaram envolvimento no ataque a Karaj.

O Irã também está avançando por outro lado. Através da Hezbollah, Teerã quer ser vista como “salvadora” do Líbano, prometendo enviar tanqueiros de petróleo para aliviar a crise econômica e a total falência do Estado. O Irã vê o Líbano como uma outra seção do tabuleiro e quer remover as peças americanas da área. Sem poder fazê-lo militarmente, o Irã irá usar seu petróleo. Isto, no contexto da saída deplorável dos Estados Unidos do Afeganistão, o Irã acredita que com um pequeno empurrão, a América irá levantar as mãos também no Líbano.

O Irã está jogando habilmente este jogo de xadrez. Sem dúvida sente que finalmente começou a lucrar com a nova abordagem conciliatória em Washington e agora irá ameaçar ainda mais o ocidente se não receber o que quer: o levantamento total das sanções pelos EUA antes de um retorno ao JCPOA.

De acordo com seus termos, o Irã precisaria desistir de todo o seu urânio enriquecido acima de 20% e a maior parte do que foi enriquecido, tem que ser reduzido para 5% antes que as sanções sejam suspensas.

Com tudo isso em jogo, Israel também pareceu vacilar nas entrevistas antes do Yom Kippur.

O ministro da Defesa, Benny Gantz, tornou-se o primeiro alto funcionário israelense a dizer publicamente que já não se opõe de todo a um retorno americano ao JCPOA.

Até agora, Gantz, o primeiro-ministro Naftali Bennett, o ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e todas as outras autoridades israelenses se opunham veemente ao acordo que dá ao Irã total liberdade para produzir o que quiser, inclusive bombas nucleares em 9 anos.

Se havia uma diferença entre as abordagens de Netanyahu e Bennett, era só no estilo. Netanyahu queria deixar claro a posição de Israel sobre o acordo entre os EUA e o Irã, a fim de ganhar pontos políticos com partes do eleitorado americano e israelense e, possivelmente, intimidar o Irã.

Bennett tentou reconquistar o apoio do Partido Democrata americano, que atingiu níveis historicamente baixos com Netanyahu. Mas a declaração de Gantz cruzou uma nova linha.

Isso aconteceu apenas um dia depois que o ministro das Relações Exteriores, Yair Lapid, minimizou a conquista do Irã de estar a apenas um mês de urânio suficiente para uma arma nuclear.

Lapid disse em voz alta o que apenas os críticos israelenses, cientistas nucleares e, às vezes, funcionários do exército falavam entre si.  Ele explicou que mesmo que a República Islâmica chegue ao ponto em que tenha urânio suficiente, ainda levará mais de alguns meses para ser capaz de enviar uma bomba nuclear.

Na verdade, até mesmo especialistas nucleares e oficiais de inteligência israelenses disseram há algum tempo que o Irã precisaria de pelo menos 6 meses depois de desenvolver uma arma nuclear para conseguir armar um míssil balístico ou outro meio de entrega.

O Chefe de Gabinete do exército de Israel, Tenente-General Aviv Kohavi e vários oficiais de inteligência do IDF estimam o prazo em quase dois anos.

A disparidade deriva principalmente de quanto o Irã realizou clandestinamente nas áreas de detonação e desenvolvimento de mísseis balísticos desde 2003 (uma época sobre a qual Israel sabe muito depois que o Mossad confiscou os arquivos nucleares do Irã) e quais atividades Teerã pode ou não ser física e financeiramente capaz de empreender em paralelo.

Lapid pode estar tentando aliviar a pressão sobre seu governo de fazer algo e também sobre os EUA para voltar ao acordo, argumentando que se o Irã não está tão perto de construir uma bomba, então os EUA podem esperar por um acordo “melhor”.

Mas, junto com a declaração de Gantz, parece que pelo menos alguns membros do atual governo israelense estão prontos a engolir um retorno dos EUA ao JCPOA, desde que tenham garantias da volta das sanções econômicas em caso de violação – o que é uma idiotice já que sanções demoram meses, senão anos para surtirem efeito - e garantias dos EUA de que não resistiriam aos planos israelenses de atacar as instalações nucleares iranianas no futuro, se necessário.

E será isso suficiente para um retorno iraniano e americano ao Acordo? O Irã demanda o mesmo acordo e Biden se comprometeu a tampar os buracos do acordo original.  Como fica? E como Israel agirá se Washington e o Ocidente simplesmente murcharem sob a pressão iraniana e se contentarem com um Acordo mais fraco, no qual o Irã consegue manter permanentemente suas centenas de centrífugas avançadas - mesmo se elas estiverem temporariamente fechadas?

Todas essas são questões em aberto.

Mas o vacilo de todos os lados nos últimos dias começou a remodelar a geopolítica em torno do assunto - e parece que mais mudanças e surpresas podem não estar longe.

 

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