Sunday, September 5, 2021

Uma Resolução Para Combater o Antisemitismo Neste Ano Novo Judaico - 05/09/2021

 

De acordo com dados da Agência Judaica para Israel, existem hoje aproximadamente 15,2 milhões de judeus vivendo em todo o mundo.

A porcentagem de judeus é de apenas 0,2%. Isto é, um quinto de um porcento da população mundial. Mas mesmo com este número ínfimo, os judeus, e seu estado Israel ainda são o foco da atenção mundial com um aumento inexplicável de atos antissemitas, iniciativas de boicotes e sanções a Israel especialmente vindos de países ocidentais.

E isso vale também para a América. Nas últimas duas décadas, os judeus americanos viram o antissemitismo ressurgir, especialmente na Europa, com preocupação, mas talvez também com um pouco de condescendência. Fomos a diáspora mais sortuda da história. Os detetores de metal em algumas de nossas instituições eram pouco mais do que uma precaução.

E então aconteceu. Em 27 de outubro de 2018, numa manhã de Shabat tranquila 11 judeus na cidade de Pittsburgh foram massacrados por um supremacista branco enquanto oravam.

A mensagem dos líderes comunitários e rabinos na época, era que o massacre cometido na sinagoga Árvore da Vida havia sido uma exceção e não deveria mudar nossa atitude fundamental sobre o país. A América ainda era o que pensávamos que era. Ou pelo menos foi o que dissemos até 27 de abril de 2019.

Pela segunda vez na história americana - e pela segunda vez em seis meses - judeus foram mortos a tiros na sinagoga por um neonazista, desta vez em Poway, Califórnia. Oito meses mais tarde, em dezembro do mesmo ano, tivemos o tiroteio em Jersey City que deixou 3 mortos num supermercado kasher. E no final daquele mês, um judeu foi morto a facadas em Monsey, Nova Iorque. De lá para cá não tivemos casos com mortes, mas o número de incidentes antissemitas tem aumentado de modo muito preocupante, especialmente os violentos.

Somente neste ano, ocorreram 15 ataques violentos a judeus na cidade de Nova Iorque. em grande parte não cobertos pela imprensa, talvez porque, como na maioria dos casos anti-semitas aqui, os perpetradores não eram supremacistas brancos mas sim negros. Nesta cidade, que tem a maior população judia do mundo, houve quatro vezes mais crimes de ódio contra judeus do que contra negros nos últimos 3 anos. Esses horrores – espancamentos com tijolos; chicotadas com cinto, pauladas e socos - são apenas pontas do iceberg do antissemitismo que era encontrado nas margens da esquerda e direita mas que se moveram rapidamente para o meio das águas da corrente principal.

E se nossa percepção estiver errrada? E se a história dos judeus na América em vez de ter sido uma uma linha reta ascendente, foi mais um pêndulo, que hoje está voltando para os preconceitos do Velho Mundo que achávamos haviam morrido?

A verdade é que há uma divisão que permeia nosso povo desde o Êxodo do Egito. Na versão cinematográfica de Hollywood, todos os judeus seguiram Moisés e deixaram o Egito. Mas na tradição judaica, a coisa não foi bem assim. Com medo de enfrentar o desconhecido e sem saber como agir como um povo livre, a maioria dos escravos israelitas escolheu permanecer no Egito.

Na época as consequências de saírem eram imprevisíveis, mas a escolha fundamental era a mesma: a nossa segurança depende de nos parecermos com os outros? Ou ela vem de assumirmos a identidade que nos fez diferentes?

A primeira opção declara que a segurança dos judeus vem de nos acomodarmos às demandas de sociedade no meio da qual vivemos. Se pudéssemos apenas mostrar que somos gregos perfeitos, alemães patrióticos e assim por diante, eles nos amariam. (Ou, pelo menos, se absteriam de nos matar.) E aí lembramos do que ocorreu com a ala judaica do Partido Comunista da Rússia, o Yevsektsiya, que cumpriu as ordens de Lenin zelosamente para provar que eram comunistas leais. Até, é claro, o regime mandar prende-los e finalmente mata-los também.

A outra opção, a de assumirmos nossa identidade, geralmente se traduziu em humilhação e dor. Mas esta opção também nos ensinou que a segurança para os judeus sempre veio de líderes e movimentos internos - dos macabeus aos sionistas - que nos exortaram a sermos nós, mais completos e livres - mesmo que isso nos tornasse profundamente impopulares ou desprezados.

Essas duas opções sempre atormentaram os judeus. E elas acabaram por se incorporar no judeu mais improvável de todos: Theodor Herzl.  

Quando ouvimos o nome de Herzl, não podemos deixar de associá-lo com a criação do Estado de Israel. Mas o sionismo - o casamento do antigo anseio judeu de retornar à Terra Santa com o sonho moderno de autodeterminação - não foi a solução inicial de Herzl para o interminável antisemitismo europeu.

Em 1893, apenas três anos antes de propor a ideia do Estado judeu no "Der Judenstaat", ele argumentara que os judeus do império austro-húngaro deveriam se tornar cristãos. Em seu livro “A História dos Judeus”, Simon Schama diz que Herzl imaginou "uma procissão em plena luz do dia para a Catedral de Santo Estêvão", onde os judeus seriam submetidos a um "batismo em massa" para o catolicismo. Somente um ato tão inequívoco os tornaria finalmente aceitáveis ​​para seus vizinhos.

Mas aí, como e por que, apenas três anos depois, ele mudou de ideia? Os estudiosos debatem este mistério até hoje. O fato é que ele de alguma forma chegou à conclusão de que uma conversão para fora do judaísmo não era uma resposta ao antissemitismo. Essa era uma opção suicida nascida do medo e do desespero. A única resposta, Herzl concluiu, era para os judeus escolherem a vida: vidas inteiras como judeus, não pela metade.

E isso continua sendo verdadeiro hoje.

Não houve um único momento na história judaica em que não houvessem anti-semitas determinados a erradicar o Judaísmo e os judeus. Quando o assassino de Pittsburgh gritou “todos os judeus devem morrer”, ele estava apenas repetindo uma ordem proferida em uma língua diferente por Amalek, o vilão que perseguiu os antigos israelitas no deserto em seu caminho para a Terra Prometida.

Através da história, os judeus só se sustentaram porque nossa tradição sempre foi renovada por pessoas que, diante da tragédia, optaram por não aceitarem o fim da história judaica. Em vez disso elas decidiram escrever o próximo capítulo.

O longo arco da nossa história deixa claro que a única maneira de lutar é travando uma batalha afirmativa por quem somos. Entrando na briga por nossas tradições, por nossa religião, por nossos valores, por nossas idéias, por nossos ancestrais, por nossas famílias e pelas gerações que virão depois de nós em todas as suas variedades e correntes.

Até agora, cada ataque antissemita no solo americano, gerou uma grande mostra de solidariedade. Cristãos, muçulmanos, budistas, hindus e pessoas de outras denominações entenderam que um ataque à comunidade judaica poderia ser um preludio de um ataque a eles também. Quando um sem-número de residentes de Pittsburg compareceu para recitar o Kadish, que o jornal local havia publicado em aramaico na primeira página, eles não estavam simplesmente defendendo nosso direito de existir. Mas o nosso direito de levar uma vida plena como judeus, sem medo, sem vergonha. O que significa que eles poderiam fazer o mesmo.

Nestes tempos de provação, com um ano novo prestes a começar, a melhor resolução que podemos tomar e nossa melhor estratégia é a de construir, sem vergonha, um Judaísmo, um Povo Judeu e um Estado Judeu que sejam não apenas seguros e resilientes, mas também generativos, humanos, alegres e afirmativos da vida. Um Judaísmo capaz de acender uma fogueira em cada alma judia - e nas almas de todos aqueles que amarram sua sorte à nossa.

 

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