De acordo com
dados da Agência Judaica para Israel, existem hoje aproximadamente 15,2 milhões de
judeus vivendo em todo o mundo.
A porcentagem
de judeus é de apenas 0,2%. Isto é, um quinto de um porcento da população
mundial. Mas mesmo com este número ínfimo, os judeus, e seu estado Israel ainda
são o foco da atenção mundial com um aumento inexplicável de atos antissemitas,
iniciativas de boicotes e sanções a Israel especialmente vindos de países
ocidentais.
E isso vale
também para a América. Nas últimas duas décadas, os judeus americanos viram o antissemitismo
ressurgir, especialmente na Europa, com preocupação, mas talvez também com um
pouco de condescendência. Fomos a diáspora mais sortuda da história. Os detetores
de metal em algumas de nossas instituições eram pouco mais do que uma
precaução.
E então aconteceu.
Em 27 de outubro de 2018, numa manhã de Shabat tranquila 11 judeus na cidade de
Pittsburgh foram massacrados por um supremacista branco enquanto oravam.
A mensagem
dos líderes comunitários e rabinos na época, era que o massacre cometido na sinagoga
Árvore da Vida havia sido uma exceção e não deveria mudar nossa atitude
fundamental sobre o país. A América ainda era o que pensávamos que era. Ou pelo
menos foi o que dissemos até 27 de abril de 2019.
Pela segunda vez na história americana - e pela segunda vez
em seis meses - judeus foram mortos a tiros na sinagoga por um neonazista,
desta vez em Poway, Califórnia. Oito meses mais tarde, em dezembro do
mesmo ano, tivemos o tiroteio em Jersey City que deixou 3 mortos num
supermercado kasher. E no final daquele mês, um judeu foi morto a facadas em
Monsey, Nova Iorque. De lá para cá não tivemos casos com mortes, mas o número
de incidentes antissemitas tem aumentado de modo muito preocupante,
especialmente os violentos.
Somente neste
ano, ocorreram 15 ataques violentos a judeus na cidade de
Nova Iorque. em grande
parte não cobertos pela imprensa, talvez porque, como na maioria dos casos
anti-semitas aqui, os perpetradores não eram supremacistas brancos mas sim
negros. Nesta cidade, que tem a maior população
judia do mundo, houve quatro vezes mais crimes de ódio contra judeus do que
contra negros nos últimos 3 anos. Esses horrores – espancamentos com tijolos; chicotadas com cinto,
pauladas e socos - são apenas pontas do iceberg do
antissemitismo
que era encontrado
nas margens da esquerda
e direita mas que se moveram rapidamente para o meio das águas da corrente principal.
E se nossa percepção estiver errrada? E se a história dos judeus na
América em vez de ter sido uma uma linha reta ascendente, foi mais um pêndulo, que hoje
está voltando para os
preconceitos do Velho
Mundo que achávamos haviam morrido?
A verdade é
que há uma divisão que
permeia nosso povo desde o Êxodo do Egito. Na versão cinematográfica
de Hollywood, todos os
judeus seguiram Moisés e deixaram o Egito. Mas na tradição judaica, a coisa não
foi bem assim. Com medo de enfrentar o desconhecido e sem saber como agir como um povo
livre, a maioria dos
escravos israelitas escolheu permanecer no Egito.
Na época as consequências
de saírem eram imprevisíveis, mas a escolha fundamental era a mesma: a nossa segurança depende de nos
parecermos com os
outros? Ou ela vem de assumirmos a identidade que nos fez
diferentes?
A primeira opção declara que a segurança dos judeus vem de nos acomodarmos às demandas de sociedade
no meio da qual vivemos.
Se pudéssemos apenas mostrar que somos gregos perfeitos, alemães patrióticos e
assim por diante, eles nos amariam. (Ou, pelo menos, se absteriam
de nos matar.) E
aí lembramos do que ocorreu com a ala judaica do Partido Comunista da Rússia, o Yevsektsiya, que cumpriu as ordens
de Lenin zelosamente para provar que eram comunistas leais. Até, é claro, o
regime mandar prende-los e finalmente
mata-los também.
A outra
opção, a de assumirmos nossa identidade, geralmente se traduziu em humilhação e dor. Mas
esta opção também nos ensinou que a segurança para os judeus sempre veio de líderes e movimentos
internos - dos macabeus
aos sionistas - que nos exortaram a sermos nós, mais completos e livres - mesmo que
isso nos tornasse profundamente impopulares ou desprezados.
Essas duas opções sempre atormentaram os judeus. E elas acabaram
por se incorporar no judeu mais improvável de todos: Theodor Herzl.
Quando ouvimos
o nome de Herzl, não podemos deixar de associá-lo com a criação do Estado de
Israel. Mas o sionismo -
o casamento do antigo anseio judeu de retornar à Terra Santa com o sonho moderno
de autodeterminação -
não foi a solução inicial de Herzl para o interminável antisemitismo
europeu.
Em 1893, apenas três anos antes de propor a ideia do Estado
judeu no "Der Judenstaat", ele argumentara que os judeus do império
austro-húngaro deveriam se tornar cristãos. Em seu livro “A
História dos Judeus”, Simon Schama diz que Herzl imaginou "uma procissão em plena luz do dia para a
Catedral de Santo Estêvão", onde os judeus seriam submetidos a um
"batismo em massa" para o catolicismo. Somente um ato tão inequívoco
os tornaria finalmente aceitáveis para seus vizinhos.
Mas aí, como e por que, apenas três
anos depois, ele mudou
de ideia? Os estudiosos debatem este mistério até hoje. O fato é que
ele de
alguma forma chegou à conclusão de que uma conversão para fora do judaísmo não era uma resposta ao antissemitismo. Essa
era uma opção suicida nascida do medo e do desespero. A única resposta, Herzl
concluiu, era para os
judeus escolherem a vida: vidas inteiras como judeus, não pela metade.
E isso
continua sendo verdadeiro
hoje.
Não houve um único momento na história judaica em que não
houvessem anti-semitas determinados a erradicar o Judaísmo e os judeus. Quando o
assassino de Pittsburgh gritou “todos os judeus devem morrer”, ele estava
apenas repetindo uma ordem proferida em uma língua diferente por Amalek, o
vilão que perseguiu os antigos israelitas no deserto em seu caminho para a
Terra Prometida.
Através da história,
os judeus só
se sustentaram porque nossa tradição sempre foi renovada por
pessoas que, diante da tragédia, optaram por não aceitarem o fim da história judaica.
Em vez disso elas decidiram escrever o próximo capítulo.
O longo arco da nossa história deixa claro que a única
maneira de lutar é travando uma batalha afirmativa por quem somos. Entrando na
briga por nossas tradições, por nossa religião, por nossos valores, por nossas idéias,
por nossos ancestrais, por nossas famílias e pelas gerações que virão depois de
nós em todas as suas variedades e correntes.
Até agora, cada
ataque antissemita no solo americano, gerou uma grande mostra de solidariedade.
Cristãos, muçulmanos, budistas, hindus e pessoas de outras denominações
entenderam que um ataque à comunidade judaica poderia ser um preludio de um
ataque a eles também. Quando um sem-número de residentes de Pittsburg compareceu
para recitar o Kadish, que o jornal local havia publicado em aramaico na
primeira página, eles não estavam simplesmente defendendo nosso direito de existir. Mas o nosso direito de
levar uma vida plena como judeus, sem medo, sem vergonha. O que significa que
eles poderiam fazer o mesmo.
Nestes tempos de provação, com um ano
novo prestes a começar, a melhor resolução que podemos tomar e nossa melhor estratégia é a
de construir, sem
vergonha, um Judaísmo, um Povo Judeu e um Estado Judeu que sejam não apenas seguros
e resilientes, mas também generativos, humanos, alegres e afirmativos da vida.
Um Judaísmo capaz de acender uma fogueira em cada alma judia - e nas almas de
todos aqueles que amarram sua sorte à nossa.
No comments:
Post a Comment