Sunday, November 24, 2024

Zvi Kogan Morto nos Emirados e o Antissemitismo Desenfreado - 24/11/2024

 

Como lemos a cada ano na Pascoa, a cada geração alguém se levanta para nos destruir. Na Páscoa de 2023, recitamos este verso como algo passé. Claro, Israel vive cercada por inimigos, mas até outubro de 2023, parecia algo gerenciável.

E aí tivemos a Páscoa de 2024. E nos demos conta que esta geração, é a de agora.

A diferença, desta vez, é ver se conseguimos identificar quem é este “alguém” que se levantou para nos destruir. Isso porque esta geração está sofrendo ataques de dois lados opostos, tentando erradicar o Judaísmo – sim porque não é uma questão de raça, de crença ou território, mas é o mesmo antissemitismo milenar que se levantou novamente com o rótulo de antissionismo e a identificação de qualquer judeu do mundo com o Estado judeu: o primeiro ataque é uma tentativa de destruição física vindo do Irã, não só de Israel, mas dos judeus.

Neste final de semana recebemos a terrível notícia do assassinato do rabino Zvi Kogan, um emissário do Chabad nos Emirados Árabes a mando do Irã. Quanta coragem estes mulás precisaram para sequestrar um religioso e matá-lo? Como o quê? Como retaliação contra Israel pela destruição dos seus depósitos de mísseis? Seria engraçado se não fosse tão trágico. Sim, eles podem matar judeus aqui e lá, mas não poderão erradicar o Judaísmo.

Mas o segundo ataque, é muito mais perigoso e ameaça a própria existência do Judaísmo no Ocidente. E ele é feito não através de guerras ou ataques físicos, mas através de uma ideologia perniciosa e indiciamentos.

Enquanto Israel tem os instrumentos, decisão, e criatividade para lidar com os ataques físicos, ela ignora os ataques ideológicos. Mas o que está acontecendo nos quatro cantos do mundo, da Austrália para as Américas, passando pela Europa e Asia, é uma tentativa do Ocidente de deslegitimar a ideia do Estado Judeu e por tabela, negar a ideia do Judaísmo.

Com a decisão esta semana da Corte Internacional de Justiça, um organismo que tenho dificuldade de chamar de Corte, o inimaginável há apenas um ano, a prisão em massa de judeus na Europa, está tomando forma. Além do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o ex-ministro da Defesa, Yoav Galant, estes “promotores” que nunca foram para Israel ou Gaza, que nunca entrevistaram ou interrogaram qualquer pessoa, e que tomam a palavra do Hamas como verdade absoluta, emitiram mandados de prisão velados também contra judeus que serviram no exército de Israel, aqueles que vivem ou trabalham na Judeia e Samaria e aqueles que, vejam bem, “apoiam os crimes de guerra” dos judeus descritos acima – em suma, todos os judeus de Israel e provavelmente uma grande parte dos que vivem na diáspora.

É claro que é preciso ter a opinião pública do seu lado para justificar uma ação antijudaica tão chocante. Mas do mesmo modo que isso foi feito na década de 1920, o mundo está repetindo exatamente o roteiro, e culpando os próprios judeus por estas medidas.

Em que mundo um país democrático, com um governo eleito democraticamente, aonde todas as etnias são representadas, que está em guerra, sendo atacado impiedosamente em 7 frentes todos os dias com centenas de mísseis, drones e veículos aéreos não-tripulados, tem seu primeiro-ministro e seu ministro da defesa indiciados por crimes de guerra sem qualquer investigação?

E países iluminados e que se dizem “amigos de Israel” como a França, a Bélgica e outros, já anunciaram que irão obedecer o mandado de prisão contra Netanyahu, Galant e qualquer outro judeu que estiver na lista. O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, continua a doutrinar sua população e quem está disposto a ouvi-lo. Ele diz que os judeus de Israel matam mulheres, crianças e bebês. O presidente Biden deu carta-branca ao seu Departamento do Tesouro e de Estado para impor sanções contra judeus que vivem na Judeia e Samaria. E até o Papa pediu uma investigação para determinar se os ataques militares de Israel em Gaza constituem genocídio.

De novo, só para deixar claro. Quando Israel tomou Gaza em 1967, a população árabe era de 60 mil. Hoje é mais de 2 milhões. Se isso é genocídio, Israel é bem incompetente.

O que estamos vendo é uma mentalidade de aceitação da culpabilidade judaica. Como na Idade Média quando todos aceitavam que eram os judeus que haviam provocado a peste negra envenenando os poços de água. Somente se o judaismo e Israel desaparecessem, nada disso estaria acontecendo com eles. Sim. Já vimos este filme antes e esta é uma reprise. Que judeu será o próximo?

Desta vez o ataque aos judeus é mais sofisticado do que na década de 1920. Há 100 anos, os judeus foram acusados de contaminar a humanidade com a sua sub-raça, de ocupar a Europa, apesar de representarem um pouco mais que 1.5% da população total, e de corromper o tecido da sociedade europeia com suas ações malignas. Isso foi suficiente para recrutar a maioria da população europeia e até americanas. Não podemos esquecer que Hitler foi escolhido o Homem do Ano pela revista Time em 1938. A consequência foi a eliminação de 1/3 de todos os judeus do mundo.

Hoje, os judeus são novamente acusados de cometerem crimes contra a humanidade, de ocupar Gaza, de ocupar a Palestina (do rio ao mar) e de desestabilizarem o mundo. E do mesmo modo que em 1920 os judeus foram acusados de causar a primeira guerra mundial, hoje somos acusados de sermos a causa de uma possível terceira guerra mundial com nossas ações contra o Líbano, Gaza, a Síria, o Iêmen, o Iraque e o Irã.

A diferença entre o antissemitismo das décadas de 1920 e 2020 é que hoje ela é mais difundida pela mídia social e pior, é sancionada por organismos como a ONU, a União Europeia, a Corte Internacional de Justiça e principalmente na mídia tradicional.

E apesar de isso estar escancarado para todos verem, e ser inclusive o tema do livro de Gol Kalev “O ataque ao judaísmo: a ameaça existencial que vem do Ocidente”, muito pouca atenção está sendo dada a este problema.

Isto é devido em parte ao fato de muitos judeus na diáspora sentirem que isso não é com eles. É só com os judeus de Israel. Igualzinho como os judeus alemães que se consideravam primeiro bons alemães e que o problema era com os judeus russos.

Mas quando levantamos este problema, a resposta é invariavelmente que temos mísseis atacando o território de Israel todos os dias, os reféns ainda estão em Gaza, famílias separadas morando em hotéis por mais de um ano, seus negócios e trabalhos fechados, e filhos, pais, irmãos, maridos, noivos no exército, todos os dias algum deles dando a vida para defender o país.

Então o foco está na luta física, na guerra contra o Irã e seus proxies.

Mas o veneno já permeou o Ocidente. As passeatas em favor do Hamas dois dias após o massacre de 7 de outubro; os acampamentos nas universidades mais prestigiosas da América e da Europa; o pogrom em Amsterdã; os ataques diários a judeus nos Estados Unidos, de Nova Iorque à California; hotéis na Itália que recusam reservas de judeus e israelenses; ataques em escolas desde o fundamental até o ensino superior. E, como nos anos 1920 e 30, os judeus estão relegados mais uma vez a esconderem sua origem e sua crença judaica.

A lição do século passado é não esperar até ser tarde demais. Tenho certeza que Israel irá atrás de quem matou o rabino Zvi Kogan nos Emirados mas e os outros tantos ataques mundo afora que ficarão impunes? Quem pensaria que os loucos anos 20, dos filmes, do jazz, trariam o Holocausto, que erradicaria a maioria dos judeus europeus, apenas 20 anos mais tarde?

Hoje não precisamos imaginar. Está claro demais. O ataque ideológico ao judaísmo está se expandindo rapidamente e se tornando cada vez mais “normalizado”. Mas para combatê-lo precisamos tomar o primeiro passo: reconhecer que ele existe.

 

 

 

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