Sunday, December 22, 2024

A Mudança de Mãos e de Rosto do Oriente Médio - 22/12/2024

 

Após a destruição do Hamas sunita em Gaza, do colapso da Hezbollah xiita no Líbano, da queda do regime alauíta na Síria, as revoltas islâmicas e as aspirações territoriais das minorias da região, drusos e curdos incluídos, as fronteiras do Oriente Médio, traçadas há 100 anos pelas potências coloniais estão desaparecendo rapidamente.

Após um século, toda a região está mudando de mãos e mudando de rosto. As potências locais estão lutando pela hegemonia, enquanto Israel se protege, recusando-se a cometer os erros do passado, cometidos pelas potências aliadas e vencedoras da Primeira Grande Guerra. Ao derrotar a Alemanha e o Império Otomano, elas impuseram uma paz para acabar com toda a paz ao dividir os espólios.

Os Acordos Sykes-Picot assinados em 1916 pela França e Inglaterra dividiram o Oriente Médio de forma leviana e arbitrária. As fronteiras de linhas retas que encontramos nos mapas foram traçadas com régua e caneta, na mesa de um burocrata qualquer. A situação atual é o resultado da política colonialista do Ocidente, do mal-entendimento do mundo árabe e dos muçulmanos e uma total indiferença com o destino de Israel. A divisão levou em conta somente os interesses econômicos dos vencedores.

Desde o início, a divisão foi frágil. Em 1920, a Síria foi dada pela Inglaterra a Faisal que o proclamou rei. Mas alguns meses depois, o exército francês entrou em Damasco e expulsou o Emir Faisal, a quem os ingleses então ofereceram o trono do Iraque. A divisão em zonas de influência da França e da Inglaterra não levou em consideração nem as populações locais nem aspectos demográficos, socioculturais e religiosos. Várias tribos árabes, embora nômades, encontraram-se separadas e dispersas em Estados diferentes. Os curdos e os drusos buscaram em vão um território e sua autodeterminação, e os cristãos maronitas buscaram alianças. Os regimes mandatários levaram a um fortalecimento da minoria alauíta sobre a maioria sunita na Síria e, a uma dominação da minoria sunita sobre a maioria xiita no Iraque.

A Declaração Balfour, que havia oferecido aos judeus um "lar nacional", foi desrespeitada e a partilha da Palestina, que ocorreu 30 anos depois, criou uma frente de recusa árabe. Ao longo dos anos, toda a região foi abalada por levantes internos, golpes e revoltas que continuam até hoje.

As retiradas unilaterais de Israel do Líbano (2000) e de Gaza (2005) beneficiaram o Hamas e a Hezbollah porque não foram apoiadas por acordos robustos com Estados fortes e soberanos. Em vez de serem vistas como uma oportunidade para cultivar a construção de um relacionamento positivo, elas foram vistas como um sinal de fraqueza dos grupos terroristas que inclusive aumentaram os ataques, os disparos de morteiros, de mísseis e drones contra Israel pelo Hamas — um afiliado da Irmandade Muçulmana Sunita — e pela Hezbollah, uma milícia xiita treinada, apoiada e financiada pelo Irã.

Ainda hoje, apesar do verdadeiro ódio milenar entre os sunitas e os xiitas, a Irmandade Muçulmana apoiada pela Turquia e os aiatolás iranianos se unem, quando se trata da destruição do estado de Israel.

O Ocidente e as Nações Unidas não aprenderam nada com os erros do passado e parecem surpresos quando não conseguem impedir os conflitos na região. O que é mais fácil? O mais fácil é sem dúvida pressionar Israel para não lançar uma operação preventiva ou retaliatória, apesar dos perigos existenciais que enfrenta. Os eventos da véspera da Guerra dos Seis Dias são o melhor exemplo.

E continua até hoje! Neste ano que passou, vimos a forte pressão exercida pela comunidade internacional, mas especialmente pela administração Biden, para que Israel não entrasse em Gaza, depois não entrasse no Hospital Shifah, ou na cidade de Gaza e principalmente não entrasse em Rafah, ah e que não lançasse uma operação preventiva no sul do Líbano. Hoje a situação global mudou, não sabemos ainda se para melhor ou para pior, diante da impotência das democracias em resolver conflitos que eles próprios criaram.

Israel não pode sentar e esperar que estas democracias venham ao seu socorro. O Irã xiita e a Turquia sunita, assim como a mídia ligados a ambos, estão condenando duramente Israel pelo bombardeio das instalações militares e depósitos de armas sírias - para que não caíssem nas mãos de inimigos - e por Israel ter ocupado cerca de 235 km2 da zona de amortecimento no Golã.

Por que o Irã e a Turquia correram para condenar Israel? O Irã porque precisa garantir alguma volta à Síria seu corredor de apoio à Hezbollah e a Turquia porque ela ocupa ilegalmente 9 mil km2 do norte da Síria desde 2016.

Não é segredo que a Turquia quer restaurar o Império Otomano, com Erdogan como seu Califa. E a tomada da Síria é o primeiro passo. Em 2018, a Turquia invadiu Afrin e fez uma limpeza étnica de curdos na área. Em 2019, a Turquia invadiu outras áreas controlando efetivamente metade da fronteira do norte da Síria, incluindo áreas muito populadas.

Quando os rebeldes sírios se moveram para expulsar Assad, a Turquia usou o vácuo de poder para atacar os curdos. Israel expressou apoio aos curdos na Síria dizendo que "os ataques aos curdos, como vimos em Manbij, devem parar! Estamos discutindo isso com a administração americana e outros países. A comunidade internacional tem uma obrigação moral para com aqueles que lutaram bravamente contra o ISIS e também são uma força estabilizadora na Síria".

E agora, com o sucesso dos rebeldes e a queda do regime de Assad, será que o presidente turco está se preparando para cumprir sua ameaça de atacar Israel?

Desde 7 de outubro, a Turquia endureceu sua posição em relação ao estado judeu. Cortou relações comerciais em solidariedade ao Hamas e em julho, Erdogan ameaçou invadir Israel.

Certamente, Erdogan sai vencedor com o desmantelamento do regime xiita apoiado pelo Irã, Rússia e Hezbollah e sua substituição por um governo liderado por sunitas que ele controla. Seus principais interesses na Síria incluem eliminar a ideia de uma autonomia curda e facilitar o retorno de milhões de refugiados sírios que fugiram para a Turquia desde a guerra civil.

Mas será que Erdogan iria tão longe a ponto de posicionar tropas e armamento na fronteira com Israel? Isso intensificaria a postura adversária da Turquia, principalmente porque não há um fim previsto para as ações de Israel até que os reféns sejam devolvidos e o Hamas e a Hezbollah sejam desmantelados.

Assim, é plausível que Erdogan ordene diretamente aos grupos jihadistas que se posicionem na fronteira israelense e ataquem Israel. Dito isso, a Turquia deve pesar as consequências de abrir esta frente. Qualquer escalada arriscaria prejudicar suas relações com os Estados Unidos e a OTAN, especialmente sob uma nova administração americana que dificilmente toleraria tal agressão. Se Erdogan pensa que os países da OTAN irão atacar Israel se ela retaliar contra um ataque da Turquia, está muito enganado.

Considerando essas dinâmicas, Erdogan seria bem aconselhado a jogar suas cartas com cautela e evitar exacerbar o conflito sírio, particularmente em relação a Israel.

Mas independentemente de Erdogan, Israel foi sábia ao mobilizar tanques e infantaria para além da fronteira com Síria pela primeira vez em 50 anos. Israel deve continuar a atacar depósitos de armas, de mísseis, de armas químicas, enfim, de qualquer ativo militar para diminuir a capacidade de ataque do Irã e da Hezbollah.

Além disso, é crucial para Israel insistir em uma presença militar americana robusta e expandida no triângulo Síria-Iraque-Jordânia, em especial solidariedade aos curdos.

Essa estratégia não apenas conterá a influência de islâmicos pró-turcos, mas também impedirá que outras forças hostis ganhem uma posição na Jordânia — um país já ameaçado pelas ambições do Irã de desestabilizar seu regime e lançar ataques a Israel pelo Leste.

Diante da nova situação geopolítica, é preciso que Israel mantenha seu exército em Gaza, no sul do Líbano e da Síria, até o dia em que Israel ganhe garantias sólidas para finalmente poder viver em absoluta segurança sem temer um novo pesadelo como o de 7 de outubro de 2023.

 

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