Após a destruição do Hamas sunita em Gaza,
do colapso da Hezbollah xiita no Líbano, da queda do regime alauíta na Síria,
as revoltas islâmicas e as aspirações territoriais das minorias
da região, drusos e curdos incluídos, as fronteiras do Oriente Médio, traçadas há 100 anos pelas potências coloniais estão
desaparecendo rapidamente.
Após um século, toda a região está mudando de mãos e mudando
de rosto. As potências locais estão lutando pela hegemonia, enquanto Israel se protege, recusando-se a cometer os erros do
passado, cometidos pelas potências aliadas e vencedoras da
Primeira Grande Guerra.
Ao derrotar a Alemanha e o Império Otomano, elas impuseram uma paz para acabar
com toda a paz ao dividir os espólios.
Os Acordos Sykes-Picot assinados em 1916 pela França e
Inglaterra dividiram o Oriente Médio de forma leviana e arbitrária. As
fronteiras de linhas retas que encontramos nos mapas foram traçadas com régua e
caneta, na mesa de um burocrata qualquer. A situação atual é o resultado da política colonialista do Ocidente, do mal-entendimento do mundo árabe e dos muçulmanos e uma total indiferença com o destino de Israel.
A divisão levou em conta somente os interesses econômicos dos vencedores.
Desde o início, a divisão foi frágil. Em
1920, a Síria foi dada pela Inglaterra a Faisal que o proclamou rei. Mas alguns
meses depois, o exército francês entrou em Damasco e expulsou o Emir Faisal, a quem os ingleses
então ofereceram o trono
do Iraque. A
divisão em zonas de influência da França e da Inglaterra não levou em consideração nem
as populações locais nem aspectos
demográficos, socioculturais e religiosos. Várias tribos árabes, embora
nômades, encontraram-se separadas e dispersas em Estados diferentes. Os curdos e os drusos
buscaram em vão um território e sua autodeterminação, e os cristãos maronitas buscaram
alianças. Os regimes mandatários levaram a um fortalecimento da minoria alauíta
sobre a maioria sunita na Síria e, a uma dominação da minoria sunita sobre a maioria xiita no
Iraque.
A Declaração
Balfour, que havia oferecido aos judeus um "lar nacional", foi
desrespeitada e a partilha da Palestina, que ocorreu 30 anos depois, criou uma
frente de recusa árabe. Ao longo dos anos, toda a região foi abalada por
levantes internos, golpes e revoltas que continuam até hoje.
As retiradas
unilaterais de Israel do Líbano (2000) e de Gaza (2005) beneficiaram o Hamas e a
Hezbollah porque não foram apoiadas por acordos robustos com Estados fortes e
soberanos. Em vez de serem vistas como uma oportunidade para cultivar a
construção de um relacionamento positivo, elas foram vistas como um sinal de
fraqueza dos grupos terroristas que inclusive aumentaram os ataques, os disparos
de morteiros, de mísseis e drones contra Israel pelo Hamas — um afiliado da
Irmandade Muçulmana Sunita — e pela Hezbollah, uma milícia xiita treinada,
apoiada e financiada pelo Irã.
Ainda hoje, apesar
do verdadeiro ódio milenar entre os sunitas e os xiitas, a Irmandade Muçulmana apoiada
pela Turquia e os aiatolás iranianos se unem, quando se trata da destruição do
estado de Israel.
O Ocidente e
as Nações Unidas não aprenderam nada com os erros do passado e parecem
surpresos quando não conseguem impedir os conflitos na região. O que é mais
fácil? O mais fácil é sem dúvida pressionar Israel para não lançar uma operação
preventiva ou retaliatória, apesar dos perigos existenciais que enfrenta. Os
eventos da véspera da Guerra dos Seis Dias são o melhor exemplo.
E continua
até hoje! Neste ano que passou, vimos a forte pressão exercida pela comunidade internacional,
mas especialmente pela administração Biden, para que Israel não entrasse em
Gaza, depois não entrasse no Hospital Shifah, ou na cidade de Gaza e principalmente
não entrasse em Rafah, ah e que não lançasse uma operação preventiva no sul do
Líbano. Hoje a situação global mudou, não sabemos ainda se para melhor ou para
pior, diante da impotência das democracias em resolver conflitos que eles
próprios criaram.
Israel não
pode sentar e esperar que estas democracias venham ao seu socorro. O Irã xiita
e a Turquia sunita, assim como a mídia ligados a ambos, estão condenando duramente
Israel pelo bombardeio das instalações militares e depósitos de armas sírias - para
que não caíssem nas mãos de inimigos - e por Israel ter ocupado cerca de 235
km2 da zona de amortecimento no Golã.
Por que o Irã
e a Turquia correram para condenar Israel? O Irã porque precisa garantir alguma
volta à Síria seu corredor de apoio à Hezbollah e a Turquia porque ela ocupa
ilegalmente 9 mil km2 do norte da Síria desde 2016.
Não é segredo
que a Turquia quer restaurar o Império Otomano, com Erdogan como seu Califa. E
a tomada da Síria é o primeiro passo. Em 2018, a Turquia invadiu Afrin e fez
uma limpeza étnica de curdos na área. Em 2019, a Turquia invadiu outras áreas
controlando efetivamente metade da fronteira do norte da Síria, incluindo áreas
muito populadas.
Quando os
rebeldes sírios se moveram para expulsar Assad, a Turquia usou o vácuo de poder
para atacar os curdos. Israel expressou apoio aos curdos na Síria dizendo que
"os ataques aos curdos, como vimos em Manbij, devem parar! Estamos
discutindo isso com a administração americana e outros países. A comunidade
internacional tem uma obrigação moral para com aqueles que lutaram bravamente
contra o ISIS e também são uma força estabilizadora na Síria".
E agora, com
o sucesso dos rebeldes e a queda do regime de Assad, será que o presidente
turco está se preparando para cumprir sua ameaça de atacar Israel?
Desde 7 de
outubro, a Turquia endureceu sua posição em relação ao estado judeu. Cortou relações
comerciais em solidariedade ao Hamas e em julho, Erdogan ameaçou invadir Israel.
Certamente,
Erdogan sai vencedor com o desmantelamento do regime xiita apoiado pelo Irã,
Rússia e Hezbollah e sua substituição por um governo liderado por sunitas que
ele controla. Seus principais interesses na Síria incluem eliminar a ideia de
uma autonomia curda e facilitar o retorno de milhões de refugiados sírios que
fugiram para a Turquia desde a guerra civil.
Mas será que Erdogan
iria tão longe a ponto de posicionar tropas e armamento na fronteira com
Israel? Isso intensificaria a postura adversária da Turquia, principalmente
porque não há um fim previsto para as ações de Israel até que os reféns sejam
devolvidos e o Hamas e a Hezbollah sejam desmantelados.
Assim, é
plausível que Erdogan ordene diretamente aos grupos jihadistas que se
posicionem na fronteira israelense e ataquem Israel. Dito isso, a Turquia deve
pesar as consequências de abrir esta frente. Qualquer escalada arriscaria
prejudicar suas relações com os Estados Unidos e a OTAN, especialmente sob uma
nova administração americana que dificilmente toleraria tal agressão. Se
Erdogan pensa que os países da OTAN irão atacar Israel se ela retaliar contra um
ataque da Turquia, está muito enganado.
Considerando
essas dinâmicas, Erdogan seria bem aconselhado a jogar suas cartas com cautela
e evitar exacerbar o conflito sírio, particularmente em relação a Israel.
Mas independentemente
de Erdogan, Israel foi sábia ao mobilizar tanques e infantaria para além da
fronteira com Síria pela primeira vez em 50 anos. Israel deve continuar a
atacar depósitos de armas, de mísseis, de armas químicas, enfim, de qualquer
ativo militar para diminuir a capacidade de ataque do Irã e da Hezbollah.
Além disso, é
crucial para Israel insistir em uma presença militar americana robusta e
expandida no triângulo Síria-Iraque-Jordânia, em especial solidariedade aos
curdos.
Essa
estratégia não apenas conterá a influência de islâmicos pró-turcos, mas também
impedirá que outras forças hostis ganhem uma posição na Jordânia — um país já
ameaçado pelas ambições do Irã de desestabilizar seu regime e lançar ataques a
Israel pelo Leste.
Diante da
nova situação geopolítica, é preciso que Israel mantenha seu exército em Gaza,
no sul do Líbano e da Síria, até o dia em que Israel ganhe garantias sólidas
para finalmente poder viver em absoluta segurança sem temer um novo pesadelo
como o de 7 de outubro de 2023.
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