Sunday, December 29, 2024

O Milagre de Hanukah e o Antissemitismo - 29/12/2024

 

Na edição de sexta-feira do jornal The Jerusalem Post, o rabino Nathan Lopes Cardozo publicou uma opinião sobre o Antissemitismo e a Festa das Luzes – Hanukah - que estamos comemorando nesta semana. Não posso reproduzir aqui toda a opinião, mas achei muito apropriado retransmitir a sua mensagem especialmente para o ano novo. Então aí vai.

Deve ter sido uma experiência extraordinária quando os kohanim nos dias dos hasmoneus de repente perceberam que uma pequena quantidade de óleo que deveria durar apenas um dia estava durando oito dias. Eles provavelmente não perceberam isso no começo. Mas quando a mesma quantidade de óleo queimou por dois dias, depois por três e, finalmente, por oito dias, eles foram confrontados com um grande mistério.

E um questionamento solene deve tê-los dominado.

Esta é a base da religiosidade genuína – a consciência de que nem todas as coisas podem ser explicadas. É um espanto radical, que destrói o lugar-comum e nos faz perceber que nossa sabedoria às vezes é inferior ao pó.

Uma destas coisas é a existência misteriosa dos judeus. Assim como as luzes de Hanukkah, eles continuam lembrando ao mundo que há algo excepcional que transcende a história e as realizações humanas.

Os judeus são um povo incomum que continua a quebrar regras que a maioria acredita serem absolutas e incondicionais. Ao sobreviver à brutalidade do mundo por milhares de anos ao mesmo tempo em que faz contribuições à este mesmo mundo totalmente desproporcionais aos seus números, os judeus lembram à humanidade que as coisas nem sempre se curvam à mera lógica.

Esta anomalia é uma manifestação do divino. O propósito dos judeus é trazer a divindade e a dignidade a todos os homens. E isso exige que eles abracem sua diferença e sua missão de ser uma luz para as nações mesmo que isso signifique quebrar convenções e trazer perseguições e ostracismo.

Assim, foram os judeus que, num mundo completamente politeísta, em que o rei (fosse ele um faraó ou um césar) também era um deus, trazem a ideia revolucionária de que todos os homens foram criados à imagem de D-us significando que todos nós temos a faísca divina e a moralidade, a consciência inerente que vem com ela.

Mas aqueles que abominam essa visão do homem e querem que ele seja nada mais do que um primata, semelhante a macacos e chimpanzés. Para estes, essa visão desperta ódio extremo, que eles jogam de volta aos judeus, os portadores desta mensagem.

E assim compreendemos o que Adolf Hitler quis dizer sobre os judeus quando declarou: “Estou libertando os homens das restrições de uma inteligência que assumiu o comando; das automortificações sujas e degradantes de uma quimera chamada consciência e moralidade”.

A maioria dos antissemitas nem sabe por que são antissemitas. Eles são atormentados por um ódio subconsciente por aqueles que defendem e ensinam a preeminência do homem e seu caráter moral.

Foi o famoso livro de Edward H. Flannery sobre antissemitismo, O Tormento dos Judeus (1965), que claramente apontou isso. Flannery escreveu: "Foi o judaísmo que trouxe o conceito de uma lei moral universal dada por Deus ao mundo... O judeu carrega o fardo de Deus na história [e] por isso nunca foi perdoado." É esta rejeição da moralidade universal que está na raiz do antissemitismo.

Os próprios judeus devem perceber que as guerras travadas agora, com a simultânea explosão mundial do antissemitismo, são o resultado desse fenômeno. Afinal, os judeus violam continuamente as regras da história. Eles sobreviveram a quase 2.000 anos de exílio e a todos os que os perseguiram, retornaram à sua antiga terra natal, ressuscitaram sua língua que há séculos havia sido declarada morta e continuamente surpreendem o mundo com inovações e descobertas. Eles são um lembrete constante de sua diferença.

As guerras de hoje não são sobre território e não apenas sobre o povo judeu. Essas guerras são sobre o direito dos judeus de serem diferentes por serem judeus, servindo à humanidade para tornar este um mundo melhor e mais digno.

E mesmo quando muitos judeus hoje não se veem mais como portadores dessa missão, os antissemitas ainda os identificam como tal”. Como na era nazista, não há como escapar disso até mesmo depois de 4 gerações.

“Com os judeus não há meio-termo. Ser judeu é trágico ou extraordinário. Ou os judeus não têm importância ou são de suprema importância. E isso é um problema para judeus e israelenses seculares. Em seu desejo de serem aceitos pelo mundo, eles tentam se assimilar, e não percebem que isso é uma ilusão.

Na verdade, esse desejo de “ser igual” só aumenta sua perplexidade quando o mundo os rejeita e o antissemitismo vem à tona.

Uma das grandes tragédias de Israel é que ela deve se defender constantemente contra ataques contínuos. Quando seus inimigos afirmam que Israel será exterminada, "do rio ao mar", não há opção a não ser se defender com todas as suas forças. Os judeus são então forçados a usar o poder militar para sobreviver.

Eles deixam seus trabalhos como advogados, recepcionistas, médicos, donos de lojas e engenheiros para pegar em armas. Mas isso é algo que eles abominam. Foi Golda Meir quem disse: “Talvez possamos perdoar os árabes por matarem nossos filhos, mas será mais difícil perdoá-los por nos terem forçado a matar os filhos deles.”

É esse paradoxo que torna essas guerras tão intoleráveis. Aqueles que são forçados a lutar são os que mais odeiam isso. O mais irônico é que se os judeus não lutassem nessas guerras, um dia os antissemitas nos culpariam por permitir que grupos terroristas, e acima de tudo, o Irã, conquistassem a Europa e matassem milhões.

Aqueles dispostos a ser honestos um dia elogiarão os judeus por defender o Ocidente e seus valores. Mas apenas alguns reconhecerão que eles também eram o alvo e deveriam ter participado da luta.

A atual onda de antissemitismo não tem nada a ver com Gaza, ou ocupação, nem acusações de genocídio ou crimes de guerra. Essas acusações espúrias são apenas mais uma maneira de atacar os judeus, cuja própria existência é um espinho no pé de uma grande parte deste mundo.

Por milhares de anos, os judeus têm sido objeto de ódio em sociedades que ostentam todas as religiões, ou nenhuma. Os fascistas os chamavam de comunistas. Os comunistas os rotulavam de capitalistas. Judeus pobres eram maltratados, e judeus ricos acusados ​​de dominar o mundo. Judeus foram expulsos de quase todos os países em que residiram. Diziam a eles para voltar de onde vieram.

Agora, depois de 2.000 anos de exílio e do assassinato de milhões em pogroms, expulsões e conversões forçadas culminando com o genocídio de 6 milhões, finalmente retornamos de onde viemos, voltamos para casa, apenas para ouvir que precisamos ser aniquilados novamente.

Esta é a razão pela qual os sábios de Israel decidiram tornar uma obrigação para cada família judia acender velas de Hanukah. Eles não enfatizaram a vitória militar dos Macabeus contra o império grego. Em vez disso, foi o acendimento milagroso de velas no Templo que eles escolheram enfatizar.

Uma pequena quantidade de óleo puro, insuficiente para mais que um dia, conseguiu permanecer acesa por oito dias. Porque esta é a natureza de Israel – alcançar o impossível e iluminar o mundo, rebelando-se contra o comum e o status quo, mesmo quando o preço é alto.

Os judeus devem se orgulhar de serem a consciência moral deste mundo. Foi Winston Churchill quem disse: “Algumas pessoas gostam de judeus e outras não. Mas nenhum homem que pensa, pode negar o fato de que eles são, sem dúvida, a raça mais formidável e mais notável que já apareceu no mundo.”

Infelizmente, nós mesmos esquecemos disso frequentemente. Somos todos, quer reconheçamos ou não, expressões vivas desta chama espiritual de Hanukah, que se recusa a se submeter à mera normalidade. E continuaremos a brilhar mesmo contra todas as probabilidades ditadas por este mundo terrestre.

Gostaria de desejar a todos os ouvintes um Feliz Hanukah e um ótimo 2025, repleto de boas notícias e conquistas de cada um.

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