Na edição de sexta-feira
do jornal The Jerusalem Post, o rabino Nathan Lopes Cardozo publicou uma
opinião sobre o Antissemitismo e a Festa das Luzes – Hanukah - que estamos
comemorando nesta semana. Não posso reproduzir aqui toda a opinião, mas achei
muito apropriado retransmitir a sua mensagem especialmente para o ano novo. Então
aí vai.
“Deve ter sido uma experiência
extraordinária quando os kohanim nos dias dos hasmoneus de repente perceberam
que uma pequena quantidade de óleo que deveria durar apenas um dia estava
durando oito dias. Eles provavelmente não perceberam
isso no começo. Mas quando a mesma quantidade de óleo queimou por dois dias,
depois por três e, finalmente, por oito dias, eles foram confrontados com um
grande mistério.
E um
questionamento solene
deve tê-los dominado.
Esta é a base da religiosidade genuína – a consciência de que nem
todas as coisas podem
ser explicadas. É um espanto radical, que destrói o lugar-comum e nos faz
perceber que nossa sabedoria às vezes é inferior ao pó.
Uma destas
coisas é a existência
misteriosa dos judeus. Assim como as luzes de Hanukkah, eles continuam lembrando ao mundo que há
algo excepcional
que transcende a história e as realizações humanas.
Os judeus são um povo incomum que continua a quebrar regras que a
maioria acredita serem absolutas e incondicionais. Ao sobreviver à brutalidade
do mundo por milhares de anos ao mesmo tempo em que faz contribuições à este
mesmo mundo totalmente
desproporcionais aos seus números, os judeus lembram à humanidade que as
coisas nem sempre se
curvam à mera lógica”.
Esta anomalia é uma manifestação do divino. O propósito dos judeus é trazer
a divindade e a
dignidade a todos os homens. E isso exige que eles abracem sua diferença e sua missão de ser uma luz para as
nações mesmo que isso signifique quebrar convenções e trazer
perseguições e ostracismo.
Assim, foram
os judeus que, num mundo completamente politeísta, em que o rei (fosse ele um
faraó ou um césar) também era um deus, trazem a ideia revolucionária de que todos
os homens foram criados à imagem de D-us significando que todos nós temos a
faísca divina e a moralidade, a consciência inerente que vem com ela.
“Mas há aqueles que abominam essa visão do
homem e querem que ele seja nada mais do que um primata, semelhante a macacos e
chimpanzés. Para estes, essa visão desperta ódio extremo, que eles jogam de volta aos judeus, os portadores
desta mensagem”.
E assim
compreendemos o que Adolf Hitler quis dizer sobre os judeus quando declarou: “Estou
libertando os homens das restrições de uma inteligência que assumiu o comando;
das automortificações sujas e degradantes de uma quimera chamada consciência e
moralidade”.
“A maioria dos antissemitas nem sabe
por que são antissemitas. Eles são atormentados por um ódio subconsciente por
aqueles que defendem e ensinam a preeminência do homem e seu caráter moral.
Foi o famoso livro de Edward H. Flannery sobre
antissemitismo, O Tormento dos Judeus (1965), que claramente apontou isso.
Flannery escreveu: "Foi o judaísmo que trouxe o conceito de uma lei moral
universal dada por Deus ao mundo... O judeu carrega o fardo de Deus na história
[e] por isso nunca foi perdoado." É esta rejeição da moralidade universal
que está na raiz do antissemitismo.
Os próprios judeus devem perceber que as guerras travadas
agora, com a simultânea explosão mundial do antissemitismo, são o resultado
desse fenômeno. Afinal, os judeus violam continuamente as regras da história.
Eles sobreviveram a quase 2.000 anos de exílio e a todos os que os perseguiram, retornaram à sua antiga terra natal, ressuscitaram
sua língua que há séculos havia sido declarada morta e continuamente surpreendem o mundo com
inovações e descobertas. Eles são um lembrete constante de sua diferença.
As guerras de hoje não são sobre território e não apenas sobre o povo judeu.
Essas guerras são sobre o direito dos judeus de serem diferentes por serem judeus, servindo à humanidade
para tornar este um mundo melhor e mais digno.
E mesmo quando muitos judeus hoje não se
veem mais como portadores dessa missão, os antissemitas ainda os identificam como
tal”. Como
na era nazista, não há
como escapar disso até mesmo depois de 4 gerações.
“Com os
judeus não há
meio-termo. Ser judeu é trágico ou extraordinário. Ou os judeus não têm importância ou
são de suprema importância. E isso é um problema para judeus e israelenses seculares. Em seu desejo
de serem aceitos pelo mundo, eles tentam se assimilar, e não percebem que isso é uma ilusão.
Na verdade, esse desejo de “ser igual” só aumenta sua perplexidade quando o
mundo os rejeita e o antissemitismo vem à tona.
Uma das grandes tragédias de Israel é que ela deve se defender constantemente
contra ataques contínuos. Quando seus inimigos afirmam que Israel será
exterminada, "do rio ao mar", não há opção a não ser se defender com todas
as suas forças. Os judeus são então forçados a usar o poder militar para sobreviver.
Eles deixam
seus trabalhos como advogados, recepcionistas, médicos, donos de lojas e engenheiros
para pegar em armas. Mas
isso é algo que eles abominam. Foi Golda Meir
quem disse: “Talvez possamos perdoar os árabes por matarem nossos filhos, mas
será mais difícil perdoá-los por nos terem forçado a matar os filhos deles.”
É esse paradoxo que torna essas guerras tão intoleráveis.
Aqueles que são forçados a lutar são os que mais odeiam isso. O mais irônico é que se os judeus não lutassem nessas guerras, um
dia os antissemitas nos culpariam por permitir que grupos terroristas, e acima
de tudo, o Irã, conquistassem a Europa e matassem milhões.
Aqueles
dispostos a ser honestos um dia elogiarão os judeus por defender o Ocidente e
seus valores. Mas apenas alguns reconhecerão que eles também eram o alvo e deveriam
ter participado da luta.
A atual onda
de antissemitismo não tem nada a ver com Gaza, ou ocupação, nem acusações de genocídio
ou crimes de guerra. Essas acusações espúrias são apenas mais uma maneira de
atacar os judeus, cuja própria existência é um espinho no pé de uma grande
parte deste mundo.
Por milhares
de anos, os judeus têm sido objeto de ódio em sociedades que ostentam todas as
religiões, ou nenhuma. Os fascistas os chamavam de comunistas. Os comunistas os
rotulavam de capitalistas. Judeus pobres eram maltratados, e judeus ricos acusados
de dominar o mundo. Judeus foram expulsos de quase todos os países em que
residiram. Diziam a eles para voltar de onde vieram.
Agora, depois
de 2.000 anos de exílio e do assassinato de milhões em pogroms, expulsões e
conversões forçadas culminando com o genocídio de 6 milhões, finalmente retornamos
de onde viemos, voltamos para casa, apenas para ouvir que precisamos ser
aniquilados novamente.
Esta é a
razão pela qual os sábios de Israel decidiram tornar uma obrigação para cada
família judia acender velas de Hanukah. Eles não enfatizaram a vitória militar
dos Macabeus contra o império grego. Em vez disso, foi o acendimento milagroso
de velas no Templo que eles escolheram enfatizar.
Uma pequena
quantidade de óleo puro, insuficiente para mais que um dia, conseguiu
permanecer acesa por oito dias. Porque esta é a natureza de Israel – alcançar o
impossível e iluminar o mundo, rebelando-se contra o comum e o status quo,
mesmo quando o preço é alto.
Os judeus
devem se orgulhar de serem a consciência moral deste mundo. Foi Winston
Churchill quem disse: “Algumas pessoas gostam de judeus e outras não. Mas
nenhum homem que pensa, pode negar o fato de que eles são, sem dúvida, a raça
mais formidável e mais notável que já apareceu no mundo.”
Infelizmente,
nós mesmos esquecemos disso frequentemente. Somos todos, quer reconheçamos ou
não, expressões vivas desta chama espiritual de Hanukah, que se recusa a se
submeter à mera normalidade. E continuaremos a brilhar mesmo contra todas as
probabilidades ditadas por este mundo terrestre.
Gostaria de
desejar a todos os ouvintes um Feliz Hanukah e um ótimo 2025, repleto de boas notícias
e conquistas de cada um.
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