Nas primeiras
horas da manhã do dia 21 de agosto de 2013, em Ghuta, um subúrbio de Damasco,
capital da Síria, o governo de Bashar Assad lançou um ataque químico, matando,
de acordo com o governo americano, 1.429 civis, entre eles 426 crianças.
Não era a
primeira vez que Assad usava gás venenoso em sua população. Entre 2012 e 2019
de acordo com o Instituto de Política Pública Global, houve mais de 300 ataques
químicos na Síria com milhares de mortos. Alguém ouviu qualquer condenação da Síria
ou de Bashar Assad na ONU? Não. Nada. Até a formação de um comitê de
investigação proposto pelos Estados Unidos na ONU foi vetado pela Rússia.
Israel não
esqueceu o que se passou na Síria e está mostrando que aprendeu com a História.
Nesta semana,
alguns dias após a caída de Assad, Israel resolveu destruir a infraestrutura
militar da Síria, sua força aérea, bases do exército, a marinha, e os depósitos
de armas, mísseis, munições e depósitos de armas químicas.
Em menos de
48 horas, em uma operação impressionante, Israel eliminou a ameaça militar que
poderia advir do território sírio, que lembrou a Operação Focus, no primeiro
dia da Guerra dos Seis Dias em 67 quando Israel neutralizou as forças aéreas
egípcia, síria e jordaniana destruindo os aviões inimigos ainda no chão.
Em 1967, Israel
agiu preventivamente para frustrar um ataque planejado. Nesta semana, Israel
atacou não porque temia um ataque, mas para que todos esses “assets”
militares, caíssem nas mãos dos grupos islâmicos sunitas extremistas, e pudessem
ser usados no futuro contra o Estado judeu.
O jornalista
Herb Keinon, do Jerusalem Post, em seu comentário semanal, notou bem que esta
ação de Israel se assemelhou com o que os ingleses fizeram com a marinha
francesa da Segunda Guerra.
“Em 3 de
julho de 1940, apenas duas semanas após os franceses se renderem aos nazistas,
os ingleses enfrentaram um dilema terrível. Eles temiam que a poderosa Marinha
Francesa fosse apreendida e transformada em um ativo formidável para os
nazistas.
Para evitar
isso, Winston Churchill ordenou o afundamento do principal esquadrão naval
francês no Mediterrâneo. Essa ação decisiva, seguida por ataques menores nos
dias seguintes em Dacar e em Alexandria, efetivamente eliminou a Marinha
Francesa como um fator estratégico na Segunda Guerra Mundial. Com estas ações,
os ingleses — que na época pareciam à beira da derrota nas mãos dos nazistas —
enviaram um sinal claro ao mundo de sua determinação.
Israel enviou
um sinal semelhante esta semana ao mundo e a seus muitos inimigos. Israel
deixou claro que nunca mais permitirá a repetição do 7 de outubro e não vai nem
se acomodar nem permitir que qualquer inimigo empenhado em a destruir se
estabeleça imediatamente em sua fronteira com capacidade para isso.
Em nome de uma
paz ilusória e de uma coexistência qualquer, Israel permitiu que isso
acontecesse em Gaza e no Líbano, com resultados catastróficos. Ela agora não
permitirá que isso aconteça na Síria. Então, como em 1967, Israel se antecipou contra
uma ameaça potencial no futuro.
O que está
surgindo na Síria não é apenas uma ameaça teórica. Os "rebeldes" que
tomaram o país não são todos arrozes do mesmo saco. Embora alguns entre aqueles
que compõem os "rebeldes" sírios — os drusos e os curdos — possam ser
positivos em relação a Israel, a facção principal — Hayat Tahrir al-Sham (ou HTS)
—há pouco tempo era afiliada a nada menos que a Al-Qaeda.
Caças MiG e
mísseis SA-5 nas mãos de qualquer um desses rebeldes representam um perigo não
só para Israel, mas para toda a região. Então, assim como os ingleses em 1940,
Israel tomou medidas para evitar que armas estratégicas caíssem em mãos
inimigas. No ataque inglês, mais de 1.200 marinheiros franceses foram mortos.
Não houve relatos de baixas nos ataques de Israel. O que, é claro, não impediu
as condenações.
O enviado
especial da ONU para a Síria, Geir Pedersen da Noruega, disse que os
bombardeios de Israel na Síria, bem como os movimentos de tropas na zona desmilitarizada
ao longo da fronteira de Golã e a tomada do lado sírio do Monte Hermon,
"precisavam parar”. De fato, Israel moveu suas tropas para a zona de
amortecimento de 235 quilômetros quadrados estabelecida pelo Acordo de
Desengajamento de 1974 entre Israel e a Síria que se seguiu à Guerra do Yom
Kippur.
De acordo com
o acordo, a zona seria patrulhada por forças da ONU e permaneceria livre de
tropas israelenses e sírias. No domingo, poucas horas após a queda de Damasco,
o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu visitou a fronteira e disse que, com o
abandono das forças sírias no lado sírio da fronteira, o acordo havia entrado
em colapso.
Israel descreveu
a entrada na zona desmilitarizada como uma medida temporária para impedir que
forças hostis assumissem essas posições estratégicas. Pedersen acusou Israel de
violar o acordo de desengajamento. Será que Pedersen realmente espera que, com
o colapso do governo sírio, Israel deixe a zona desmilitarizada vazia,
confiando que os rebeldes — quem quer que sejam — honrarão um acordo da ONU
assinado com Israel em 1974? Sério?
Para aqueles igualmente
chocados como Pedersen que Israel entrou na zona desmilitarizada, como a França
e a Alemanha e que parecem confiar que os rebeldes não representarão uma ameaça
imediata às comunidades israelenses no Golã, vale a pena perguntar por que não
continuaram a confiar na palavra de Hitler mesmo depois da queda da França?
Se a
quantidade massiva de armas sofisticadas da Síria caísse nas mãos erradas, o
mundo árabe também iria sofrer. Mesmo assim, os árabes emitiram declarações
criticando as ações de Israel, alegando violações do direito internacional. A
Arábia Saudita, o Catar e o Egito se disseram preocupados com a integridade
territorial da Síria. Mas o grande ganhador do prêmio Hipócrita do ano foi a
Turquia que exigiu que Israel saísse da zona desmilitarizada, apesar dela,
Turquia, ocupar 9 mil km2 no norte da Síria desde 2016.
Não vimos
qualquer país árabe condenar a Turquia que usa o norte da Síria para bombardear
os curdos sírios que procuram a independência. Só vemos o clamor unificado quando
se trata de Israel.
Essa ironia é
gritante. Grupos extremistas sunitas apoiados pela Turquia representam uma
ameaça muito maior aos regimes sunitas moderados do que Israel jamais poderia.
Esses países — e a comunidade internacional em geral — deveriam agradecer a
Israel por suas ações decisivas na Síria, não a condenar. E não vamos esquecer
que se Israel não tivesse bombardeado o reator nuclear da Síria em 2007 a
situação poderia ser muito diferente.
Mas a
situação agora é mais complicada do que parece. A Síria foi criada na metade do
século XX como resultado de vários tratados que reuniram várias facções e etnias.
A Síria tem muçulmanos sunitas em sua maioria, mas também xiitas, alauítas, cristãos
de várias denominações, curdos e drusos. Como disse em outras oportunidades, os
curdos são o maior grupo étnico do mundo sem um estado. E ao que parece agora, eles
vão aproveitar a situação e declarar o nordeste da Síria seu estado.
Por seu lado,
os drusos estão pedindo ou melhor suplicando a Israel para ocupar o sul da
Síria onde eles estão concentrados para não só os proteger, mas também reuni-los
com seus parentes drusos que moram do lado de Israel. Isso seria um passo muito
positivo para Israel, mas traria a fúria de condenações do mundo sobre nós.
Mas como
disse Begin, melhor condenações que condolências. Aqueles que condenam Israel
por seus passos na Síria fariam bem em se perguntar se ousariam depositar sua
confiança nas boas intenções de facções jihadistas, ameaçadoramente
estacionadas diretamente em sua porta.
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