Os eventos deste final de semana no Egito são extremamente preocupantes. Não há qualquer posição que a administração Obama possa tomar que irá resolver o problema completamente mas tudo o que o presidente Americano fez até agora, foi o pior possível.
Esta é a primeira crise internacional de Obama e em vez de tomar uma atitude decisiva ele se reune com conselheiros e representantes do Departamento de Estado dia após dia, enquanto o regime de Mubarak é simplesmente chutado para fora do Egito. A situação não poderia ser mais perigosa e este pode ser o maior desastre para a região e para os interesses do ocidente desde a revolução iraniana, 30 anos atrás.
Peritos e a mídia têm sido muito otimistas e não estão analisando o assunto com seriedade. O cenário mais provável não é sequer mencionado: que esta revolução possa levar o Egito a se tornar radicalmente islâmico, se não agora, em alguns anos.
Jornalistas mostram seu entusiasmo quando dizem que as demonstrações são espontâneas e sem liderança definida, mas são precisamente situações de vácuo político que dão a oportunidade para grupos bem organizados, tomarem o poder.
Será que a nomeação de um novo vice-presidente, Omar Suleiman, o eterno chefe da inteligência e de um novo primeiro ministro, Ahmed Shafiq, líder da Força Aérea, irá estabilizar a situação? Nomear alguém que organizou a repressão do país, não é exatamente um passo em direção à democracia.
Existem duas possibilidades básicas: o regime irá se estabilizar com ou sem Mubarak ou o poder estará disponível para quem abocanhá-lo primeiro. Há vários precedentes para a segunda situação como a revolução iraniana em que cidadãos do país foram para as ruas para exigir liberdade e hoje têm Ahmadinejad como presidente. De fato, nunca, nunca houve um movimento revolucionário de país muçulmano que gerou um governo pro-ocidente ou democrático. Lembrem as demonstrações em Beirute para exigir liberdade e hoje é a Hizbullah quem manda no Líbano. Lembram do movimento democratico entre os palestinos e eleições livres? Os palestinos escolheram e hoje é o Hamas que está no poder em Gaza. Isto para não falar do movimento democrático na Algéria em que dezenas de milhares de pessoas foram mortas.
Uma pesquisa recente do Pew poll mostrou que 59% dos egípcios favorece os islamistas e somente 27% quer os modernistas no poder. O problema é o seguinte:
De um lado, todo o mundo sabe que o President Husni Mubarak representa a continuação de um governo que tomou o poder no Egito em 23 de julho de 1952. Desde então, os egípcios vem sendo governados de modo despótico e com muita corrupção e repressão. Por outro, Mubarak deixa muita propaganda anti-americana ser disseminada nos órgãos oficiais do governo; ele não apoiou a América nas sanções contra o Irã e tem se esquivado dos planos de paz entre Israel e os palestinos.
Mas apesar de tudo, a perda do Egito será uma tremenda desfeita para os Estados Unidos. Além disso, qualquer governo populista, islamico ou nacionalista, poderia reacender o fogo no conflito árabe-israelense. É bom lembrar que a Guerra do Sinai em 1956, a Guerra dos Seis Dias em 1967 e a Guerra de Yom Kippur em 1973, foram todas lideradas pelo Egito.
Assim, se por um lado os Estados Unidos têm interesse na sobrevivência deste regime com ou sem Mubarak, por outro Obama quer mostrar que ele apoia reforma e democracia para que o próximo lider do país veja os Estados Unidos com simpatia. Esta a posição “pró-democracia” é baseada na crença de que o Egito irá produzir uma liderança moderada, democrática e pró ocidente, mais resistente à um desafio islâmico. Alguns na administração chegaram a dizer que a irmandade islâmica nem seja uma ameaça real!
Obama disse que sempre avisou Mubarak de levar reformas políticas e econômicas à frente; que a violência não é resposta para resolver os problemas do Egito e que o governo deve ter muito cuidado ao usar a violência contra pessoas nas ruas; Obama ainda condenou o corte nos meios de comunicação e internet dizendo que a liberdade de expressão e de comunicação são necessários para que as pessoas expressem suas preocupações.
Como sempre para Obama, no papel tudo é lindo: Mubarak faz a reforma; a oposição não usa violência e tudo acaba bem. Infelizmente, este cenário não tem nada a ver com a realidade. Se Mubarak fizer o que Obama quer, ele irá cair e não há ninguém para tomar seu lugar. O povo nas ruas do Egito quer liberdade, mas como vimos nas eleições do Irã no ano passado as demonstrações do povo que também queria liberdade e Obama não fez nada a respeito.
Não importa o que os Estados Unidos disser ou fizer agora, não irá obter a gratidão de milhões de egípcios. Os novos líderes, culparão a América por seu apoio à Mubarak, sua oposição ao islamismo, seu apoio a Israel, a influência cultural, e por não ser um país muçulmano. Não pensem que o único problema dos Estados Unidos é o seu apoio a Israel.
Nunca podemos esquecer a história. Vejam o que aconteceu no Irã em 1979. Na ocasião, os Estados Unidos fizeram exatamente o que Obama está fazendo hoje: anunciar o apoio ao governo mas exigindo dele reformas. O Shah não partiu para a repressão do movimento porque em parte, sentiu que não tinha o apoio americano. A revolução cresceu e o regime caiu. A mídia na época era unânime ao dizer que o povo iraniano era educado e que a revolução seria moderada, que os islamistas não venceriam. É, vimos o resultado.
Não há um movimento moderado organizado no Egito. O único grupo moderado, Kifaya foi tomado pela irmandade islâmica. Hoje é liderado por Abdel Wahhab al-Messiri um antisemita virulento. Isto não quer dizer que não há moderados, pró-democracia no Egito. Mas eles não têm nem dinheiro, nem poder ou organização. De fato, o Egito é o único país árabe em que os democratas se uniram aos islâmistas pensando erroneamente poder domina-los se tomarem o poder. A realidade é que não há hoje qualquer movimento que possa realisticamente competir com os islamistas.
Um estudo da Irmandade no parlamento egípcio mostra como eles são radicais. Eles querem um estado islamico governado por Sharia e em Guerra com Israel e os Estados Unidos. Mas a grande massa da mídia argumenta que a Irmandade no Egito nunca se envolveu com terrorismo. Mas por que será? Porque toda a vez que eles tentaram incitar a violência, eles foram duramente reprimidos, seus líderes enviados a campos de concentração, torturados e mortos.
A elite do país quer se salvar e se tiver que sacrificar Mubarak, que assim seja. Mas se houver um vácuo na liderança, será muito ruim. Provavelmente o que irá acontecer é que o novo governo irá ganhar apoio através da demagogia: eles culparão a América e Israel e irão proclamar que o islamismo é a resposta. É assim que tem acontecido no Oriente Médio como vimos no Líbano e em Gaza. Nos dois, movimentos pela democracia produziram regimes islâmicos, anti-democráticos, que endossam o terrorismo aliados do Irã e da Síria.
A ênfase da política Americana deveria ser de apoiar o governo egipcio incondicionalmente. Os líderes no Cairo não podem ter qualquer dúvida que os Estados Unidos está do seu lado. Se for necessário mudar a liderança, o governo Americano pode ajudar o processo atrás das cortinas. Mas até agora, o que Obama tem feito, é exatamento o que Jimmy Carter fez quando da revolução iraniana em 1978. Obama mostrou que Washington não mais apoia o governo egípcio.
Sem a confiança para resistir esta revolta, o sistema egípcio entrará em colapso, deixando um vácuo que não irá ser preenchido por amigos do ocidente. Isto poderá ser potencialmente desastroso para os Estados Unidos e para o Oriente Médio. A Jordânia já está sentindo o começo de uma revolta em seu país e até a Arábia Saudita teve que lidar com protestos neste final de semana.
A maioria da mídia diz que um governo islâmico anti-americano, aliado ao Irã e pronto para recomeçar a Guerra contra Israel não poderá tomar o poder no Egito. Esta análise é um risco grande demais para aceitarmos, especialmente vindo daqueles que estiveram tão errados no passado.
SHALOM! Acompanho sempre seus brilhantes comentários na Hora Israelita. Meu palpite, como leiga em política internacional, é que no Egito acontecerá mesmo algo semelhante ao q se passou nos territórios vizinhos do Oriente Médio, onde grande parte do povo, diria até com certa ingenuidade, escolheu para si o Talibã. É esperar para ver. Shavua Tov!
ReplyDeleteLiziê Moz (Korssak) Correia.