Sunday, July 7, 2013

A Queda de Morsi - 07/07/2013

Que diferença uma semana faz. A velocidade pela qual Mohamed Morsi foi deposto somente um ano após sua dramática eleição prova o quanto a situação no Egito é imprevisível. Para Israel esta situação apresenta tanto perigos como oportunidades, e isto depende do que Obama irá fazer.

O fato do exército estar de novo no comando pode ser algo positivo para Israel. É a instituição que monopoliza a força e é o fator estabilizante do país. Foram os militares, por exemplo, que negociaram o cessar-fogo entre o Hamas e Israel em novembro do ano passado. São os que mais têm interesse em manter os acordos de paz de Camp David pois só através dele o exército recebe a ajuda americana. Além disso, os militares são os únicos capazes de manter o controle na Península do Sinai.

Do lado positivo deste “golpe”, a humilhação da Irmandade Muçulmana no Egito, escancarando sua falta de programa e habilidade de governar, irá colocar um pano frio em seu poder de expansão não só no Egito, mas também na Tunísia, na Jordânia e potencialmente até na Síria – pelo menos por hora. Além disso, pode ter um efeito moderador no Hamas.

Do lado negativo, um confronto entre a Irmandade Muçulmana e o exército é possível. Muitos comentaristas estão vendo uma grande similaridade entre o que está acontecendo no Egito e o que aconteceu na Argélia em 1991. Em dezembro daquele ano, o Partido da Salvação Islâmica, afiliado à Irmandade Muçulmana, estava à frente na primeira rodada das eleições naquele país. Com medo de perder o governo do país, o partido então no poder, a Frente Nacional de Libertação, cancelou as eleições. Os militares tomaram o controle. Daí para a frente foram 10 anos de guerra civil entre os islâmicos e as forças leais ao exército que deixaram uns 200 mil mortos.

No Egito também há uma grande preocupação de que a Irmandade Muçulmana e os Salafistas recusem aceitar a saída de Morsi. Do seu ponto de vista, a expulsão do presidente é ilegal pois ele ganhara as eleições de modo justo e democrático. Tecnicamente falando, este argumento é correto e a Irmandade no Egito pode até pedir ajuda ao Hamas na Faixa de Gaza para tentar se reimpor à força.

Hoje no Sinai houve um ataque ao gasoduto que fornece gás natural à Jordânia. Houveram mais de 10 ataques desde 2011 à este gasoduto. Na sexta-feira cinco policiais foram mortos em pontos de checagem e outros quatro pontos sofreram ataques no sábado. Um padre foi morto em um deles por um grupo de militantes muçulmanos.

A expulsão de um líder democraticamente eleito depois de um ano, não é um bom começo para qualquer país. Mas a intervenção rápida do exército ao lado de manifestantes que congregavam toda a sorte de pessoas que só tinham em comum serem contra Morsi, mostrou que alguém está controlando a situação e prevenindo muitas mortes.

Muito do que está na balança no Egito dependerá de como a administração Obama irá interpretar os eventos. A lei americana exige que a Casa Branca suspenda toda e qualquer ajuda a países que sofram golpes militares que deponham governos democraticamente eleitos. Obama já havia pedido mais de 1.5 bilhões de dólares em ajuda econômica e militar ao Egito a ser incluído no orçamento do próximo ano fiscal que começa em outubro.

Será uma decisão muito infeliz se Washington decidir continuar do lado de Morsi e do seu direito de governar. E com a história de apoio à Irmandade Muçulmana por esta administração americana, tudo é possível.

Mas há o fato de que este não foi um golpe militar estritamente falando. O exército não tomou as rédeas do governo civil no Egito. Os militares apoiaram um movimento popular contra Morsi. Depois de depô-lo, o exército entregou a condução do governo interino, até as novas eleições, à Suprema Corte Constitucional.

Não há dúvida que o apoio de Obama à Irmandade Muçulmana comprometeu seriamente o relacionamento da América com o Egito. Mas os Estados Unidos ainda podem ter um impacto crítico.

Em primeiro lugar, a América pode alocar mais ajuda econômica para ajudar os pobres no Egito e talvez reduzir a ajuda militar. Pode também oferecer ajuda logística para pegar os terroristas no Sinai, como o faz para pegar os traficantes na Colômbia e investir em sistemas sofisticados para impedir a travessia de terroristas de Gaza para dentro do Egito. Esta ajuda deverá ser condicionada à passos concretos à serem tomados para constituir um governo mais democrata e pluralista, que inclua os coptas e outras minorias étnicas e religiosas do país como os shiitas e baha’is.

O que o Egito precisa hoje é tentar salvar sua economia. Com o comércio degringolando, as monstruosas filas para a gasolina, o turismo à 10% da sua capacidade, a inadimplência subindo, a insatisfação é geral. Qualquer outro governo que não trabalhar imediatamente para começar a corrigir esta situação irá cair no ano que vem, democraticamente eleito ou não.

Um analista egípcio capturou bem a situação: ele disse que a revolução não aconteceu em 2011 e terminou com a eleição de Morsi. Ela apenas começou em 2011 e continua até hoje. E irá continuar até que um governo mais preocupado com o bem-estar do povo suba ao poder e mostre sua capacidade de governar.

Se isto for verdade, podemos esperar muita instabilidade à frente. A corrupção, o desacordo, o radicalismo religioso e ódio entre os diversos grupos têm um poder muito maior de se espalhar do que as lentas e por vezes dolorosas medidas para recuperar a economia. Teremos que esperar para ver.

A agitação no Egito tornou a situação imprevisível com um grande potencial à instabilidade e até à guerra civil e ao completo desastre.

A caída de Morsi, no entanto, também apresenta novas oportunidades e pode levar a um resultado positivo no país mais populoso do Oriente Médio e para toda a região.

Este resultado depende, pelo menos em parte, no que os Estados Unidos farão.



No comments:

Post a Comment