Que diferença uma semana faz. A velocidade pela qual Mohamed Morsi foi deposto somente
um ano após sua dramática eleição prova o quanto a situação no Egito é
imprevisível. Para Israel esta situação apresenta tanto perigos como oportunidades,
e isto depende do que Obama irá fazer.
O fato do
exército estar de novo no comando pode ser algo positivo para Israel. É a
instituição que monopoliza a força e é o fator estabilizante do país. Foram os
militares, por exemplo, que negociaram o cessar-fogo entre o Hamas e Israel em
novembro do ano passado. São os que mais têm interesse em manter os acordos de paz
de Camp David pois só através dele o exército recebe a ajuda americana. Além disso,
os militares são os únicos capazes de manter o controle na Península do Sinai.
Do lado
positivo deste “golpe”, a humilhação da Irmandade Muçulmana no Egito,
escancarando sua falta de programa e habilidade de governar, irá colocar um
pano frio em seu poder de expansão não só no Egito, mas também na Tunísia, na
Jordânia e potencialmente até na Síria – pelo menos por hora. Além disso, pode
ter um efeito moderador no Hamas.
Do lado
negativo, um confronto entre a Irmandade Muçulmana e o exército é possível.
Muitos comentaristas estão vendo uma grande similaridade entre o que está acontecendo
no Egito e o que aconteceu na Argélia em 1991. Em dezembro daquele ano, o Partido
da Salvação Islâmica, afiliado à Irmandade Muçulmana, estava à frente na
primeira rodada das eleições naquele país. Com medo de perder o governo do
país, o partido então no poder, a Frente Nacional de Libertação, cancelou as
eleições. Os militares tomaram o controle. Daí para a frente foram 10 anos de
guerra civil entre os islâmicos e as forças leais ao exército que deixaram uns
200 mil mortos.
No Egito
também há uma grande preocupação de que a Irmandade Muçulmana e os Salafistas
recusem aceitar a saída de Morsi. Do seu ponto de vista, a expulsão do
presidente é ilegal pois ele ganhara as eleições de modo justo e democrático.
Tecnicamente falando, este argumento é correto e a Irmandade no Egito pode até
pedir ajuda ao Hamas na Faixa de Gaza para tentar se reimpor à força.
Hoje no
Sinai houve um ataque ao gasoduto que fornece gás natural à Jordânia. Houveram mais
de 10 ataques desde 2011 à este gasoduto. Na sexta-feira cinco policiais foram
mortos em pontos de checagem e outros quatro pontos sofreram ataques no sábado.
Um padre foi morto em um deles por um grupo de militantes muçulmanos.
A
expulsão de um líder democraticamente eleito depois de um ano, não é um bom
começo para qualquer país. Mas a intervenção rápida do exército ao lado de
manifestantes que congregavam toda a sorte de pessoas que só tinham em comum
serem contra Morsi, mostrou que alguém está controlando a situação e prevenindo
muitas mortes.
Muito do
que está na balança no Egito dependerá de como a administração Obama irá interpretar
os eventos. A lei americana exige que a Casa Branca suspenda toda e qualquer
ajuda a países que sofram golpes militares que deponham governos
democraticamente eleitos. Obama já havia pedido mais de 1.5 bilhões de dólares
em ajuda econômica e militar ao Egito a ser incluído no orçamento do próximo
ano fiscal que começa em outubro.
Será uma
decisão muito infeliz se Washington decidir continuar do lado de Morsi e do seu
direito de governar. E com a história de apoio à Irmandade Muçulmana por esta
administração americana, tudo é possível.
Mas há o
fato de que este não foi um golpe militar estritamente falando. O exército não
tomou as rédeas do governo civil no Egito. Os militares apoiaram um movimento
popular contra Morsi. Depois de depô-lo, o exército entregou a condução do
governo interino, até as novas eleições, à Suprema Corte Constitucional.
Não há
dúvida que o apoio de Obama à Irmandade Muçulmana comprometeu seriamente o
relacionamento da América com o Egito. Mas os Estados Unidos ainda podem ter um
impacto crítico.
Em
primeiro lugar, a América pode alocar mais ajuda econômica para ajudar os
pobres no Egito e talvez reduzir a ajuda militar. Pode também oferecer ajuda
logística para pegar os terroristas no Sinai, como o faz para pegar os
traficantes na Colômbia e investir em sistemas sofisticados para impedir a
travessia de terroristas de Gaza para dentro do Egito. Esta ajuda deverá ser
condicionada à passos concretos à serem tomados para constituir um governo mais
democrata e pluralista, que inclua os coptas e outras minorias étnicas e
religiosas do país como os shiitas e baha’is.
O que o
Egito precisa hoje é tentar salvar sua economia. Com o comércio degringolando,
as monstruosas filas para a gasolina, o turismo à 10% da sua capacidade, a inadimplência
subindo, a insatisfação é geral. Qualquer outro governo que não trabalhar
imediatamente para começar a corrigir esta situação irá cair no ano que vem,
democraticamente eleito ou não.
Um
analista egípcio capturou bem a situação: ele disse que a revolução não
aconteceu em 2011 e terminou com a eleição de Morsi. Ela apenas começou em 2011
e continua até hoje. E irá continuar até que um governo mais preocupado com o bem-estar
do povo suba ao poder e mostre sua capacidade de governar.
Se isto
for verdade, podemos esperar muita instabilidade à frente. A corrupção, o
desacordo, o radicalismo religioso e ódio entre os diversos grupos têm um poder
muito maior de se espalhar do que as lentas e por vezes dolorosas medidas para
recuperar a economia. Teremos que esperar para ver.
A agitação
no Egito tornou a situação imprevisível com um grande potencial à instabilidade
e até à guerra civil e ao completo desastre.
A caída
de Morsi, no entanto, também apresenta novas oportunidades e pode levar a um
resultado positivo no país mais populoso do Oriente Médio e para toda a região.
Este
resultado depende, pelo menos em parte, no que os Estados Unidos farão.
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