Monday, September 29, 2014

Confraternizando com Tiranos - 28/09/2014

O tão esperado discurso de Obama nas Nações Unidas veio e passou. O presidente americano resolveu se concentrar na situação da Ucrânia e mais uma vez exaltar o que ele chama de verdadeiro islamismo. O Islão que ele conhece é “uma religião de paz”. Em relação ao Estado Islâmico ele disse que “nenhum deus permite este tipo de terror”, de estuprar meninas, crucificar crianças cristãs, matar minorias de fome ou enterradas vivas, assassinar em massa os capturados, decapitar inocentes e distribuir os vídeos para chocar o mundo.

Se o presidente fosse muçulmano ou um estudioso das religiões, ele poderia até ter as credenciais para fazer tais afirmações.  De fato, quem tem as credenciais para decidir o que é ou não islâmico, tristemente é o autoproclamado califa do E.I., Abu Bakr al-Baghdadi que tem mestrado e doutorado em estudos islâmicos.

Para provar que a América não está em guerra contra o Islão, Obama decidiu honrar o Sheik Abdallah Bin Bayyah que disse que era preciso “declarar a guerra à guerra para que o resultado fosse a paz sobre a paz”. Ele parece ter esquecido que este Sheik em 2004 era vice-presidente de um grupo radical que emitiu uma fatwah contra os soldados americanos conclamando os muçulmanos a mata-los no Iraque. Esta é a segunda vez que Obama cita este Sheik sendo que na primeira vez em março, o Departamento de Estado emitiu desculpas pelos elogios feitos à ele.

Obama não mede esforços para minimizar as críticas ao islão. Ele sequer ouve o que dizem seus próprios conselheiros. Um deles, o diretor executivo do Conselho das Relações Americanas-Islâmicas, Nihad Awad, afirmou  esta semana na Fox News que é errado falar em islamismo radical ou moderado. Tudo é o mesmo islamismo!

E acreditamos que ele esteja certo. Por isso é tão chocante ver a foto do Secretário de Estado Americano John Kerry todo sorridente ao lado dos líderes árabes da Arábia Saudita, Kuwait, Omã e Bahrain estampada nos jornais americanos. Cinco anos depois do discurso no Cairo, Obama quer formar uma aliança contra o Estado Islâmico com os regimes mais despóticos, atrasados e chauvinistas da face da terra. Os valores democráticos Americanos foram devidamente enviados ao espaço a título de conveniência.

Estes sheiks que têm dúzias de esposas e centenas de filhos, vivendo em total reclusão passam suas sextas-feiras assistindo amputações e decapitações de supostos criminosos por crimes como “bruxaria”. Em alguns destes países mulheres não podem dirigir um carro e nem mesmo sair de casa sem estarem acompanhadas e supervisionadas por um homem de sua família.

E Obama os exalta como o “futuro do Oriente Médio”. Mas não é só a América. Fotos da ex-representante da União Europeia em assuntos estrangeiros, Catherine Ashton, sorrindo, brincando e se aconchegando ao ministro do exterior do Irã Mohammad Javad Zarif abundam na internet. O mesmo Irã que enforca gays em guindastes, que condena a morte qualquer um que se converta ao cristianismo e que recentemente condenou seis jovens que colocaram sua versão da canção Happy do Pharell Williams a seis meses de prisão e 91 chibatadas cada um - por ser anti-islâmico.

Como é que isso acontece? Como é que líderes do ocidente não só toleram estes regimes terríveis, mas apreciam a companhia destes tiranos com as mãos cheias de sangue? Como é possível que os bastiões da democracia, aqueles que defendem a igualdade para as mulheres, que se orgulham de participar de paradas gays, que aboliram a escravidão há mais de 200 anos e dizem lutar pela justiça social são os mesmos que sorriem ao lado dos que apedrejam mulheres suspeitas de adultério, continuam a praticar a escravidão e confiscam o passaporte de estrangeiros forçando-os a condições sub-humanas de trabalho?

No passado, líderes iam ao rádio ou à televisão e explicava ao povo, que a situação exigia dar a mão ao diabo para derrotar um mal maior. Foi assim com a aliança entre a América e a União Soviética para derrotar a Alemanha nazista. Mas hoje, vemos reverência, adoração, tolerância e até amor para com estes tiranos. Alguém esqueceu como Obama se curvou ao príncipe saudita em sua primeira visita ao reino?

Obama colocou ênfase no fato de que o ocidente hoje precisa dos sauditas e outros países do golfo pérsico, inclusive Qatar, o maior patrocinador destes grupos radicais, para derrotar o Estado Islâmico. A verdade é que estes países precisam mais do ocidente do que o inverso.

É o Ocidente que consome seu petróleo que mantêm seu luxuoso estilo de vida. Estes líderes sabem que não têm como se defender se atacados pelo Estado Islâmico e contam com o Ocidente também para isso.  O mínimo que podem fazer é pagarem por uma ou outra base de treinamento e autorizarem aviões de combate a aterrissarem em seu território.

O Irã por seu lado é suspeito de ter criado o Estado Islâmico pois até agora foi o único país que se beneficiou de seu avanço. Em troca de seu apoio, os Ayatollahs querem menos restrições ao seu programa nuclear. Mas hoje pode ser que o criador se torne vítima de sua criação. O Estado Islâmico efetivamente cortou a hegemonia Shiita que ia do Irã até a Síria e está sistematicamente destruindo todos os lugares santos da seita.
Será que seria muito pedir que em troca da ajuda militar do ocidente estes países introduzissem reformas e direitos civis?

No ocidente aprendemos os valores da democracia e de levantarmos a voz contra a tirania, mas falar qualquer coisa contra as práticas medievais destes Sheiks é ser islamofobico. Isso pode ofendê-los.

E daí? E se eles ficarem ofendidos? Temos que amordaçar a livre expressão com medo de manifestações violentas como as dos cartoons de Maomé?


Temos que parar de sermos hipócritas. De dizermos que somos pela democracia quando abraçamos líderes antidemocráticos. Temos que continuar a denunciar estas práticas medievais que hoje não mais estão longe de nós. Judeus são perseguidos na Europa e dois dias atrás uma americana em solo americano foi decapitada por um muçulmano. O mundo está cada vez mais selvagem e cheio de abusos e crimes contra a humanidade, mas alguns entre nós têm que preservar a memória do que poderia ser e esperar que tanto o Estado Islâmico quanto estes tiranos encontrem o destino que merecem.


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