Com o preço do petróleo abaixo
de $30 o barril, as bolsas do mundo continuam a cair trazendo mais
instabilidade ao mundo. Nesta semana que passou também vimos mais ataques
perpetrados por terroristas islâmicos. Na capital de Burkina Faso, 29 pessoas
foram chacinadas nesta sexta-feira, inclusive dois suíços, dois franceses e
seis canadenses. Na terça-feira, um homem-bomba se explodiu no meio de um grupo
de turistas alemães matando 10 na Turquia.
Mas ao ouvir o discurso do
presidente Obama sobre o estado da união, qualquer um diria que o mundo está no
caminho do Shangrilá, do Jardim do Eden, e devemos isto unicamente a ele.
Enquanto Obama declarava que
nunca houvera potência igual aos Estados Unidos, que todos estes ataques não
causam um problema existencial para a América, e que o mundo está mais seguro
devido ao seu acordo com o Irã, soldados americanos ajoelhavam e se rendiam
para a guarda costeira iraniana. As imagens dos americanos humilhados,
inclusive uma soldada obrigada a colocar o hijab e cobrir seu cabelo, permeavam
a mídia iraniana mostrando a supremacia dos aiatolás. Em resposta a esta
humilhação, o secretário de estado John Kerry agradeceu a hospitalidade dos
iranianos.
O Irã está claramente
espalhando seus tentáculos e fortalecendo sua influência no Oriente Médio. Há
anos que a postura de Obama em relação aos aiatolás tem alarmado os países
árabes sunitas do Golfo, especialmente a Arábia Saudita. Os xiitas nunca
esconderam sua ambição de tomar posse dos locais sagrados para os muçulmanos, Meca
e Medina, e esta animosidade milenar pode degenerar numa guerra total. Numa
guerra nuclear. E é isto o que o Irã está sugerindo.
Com esta situação precária,
surpreendentemente a declaração mais perigosa que ouvimos ultimamente não veio
do Irã, mas do Paquistão. O chefe das forças armadas General Sharif disse que
“o Irã será apagado do mapa se fizer qualquer ameaça à integridade territorial
da Arábia Saudita”.
Os sauditas se voltaram para o
Paquistão, um país sunita e nuclearmente armado como consequência do abandono
dos Estados Unidos de seu papel de protetor do maior produtor de petróleo do
mundo. Quando no ano passado Obama retirou o último porta-aviões do Golfo
Pérsico, ele soou o sinal de alarme para os árabes. Quando o porta-aviões
retornou, os iranianos decidiram flexionar seus músculos lançando mísseis a
pouco mais de mil metros do porta-aviões enquanto ele entrava no estreito de
Ormuz. Os americanos não reagiram. Nem mesmo emitiram qualquer protesto pela
agressão.
Os sauditas não encontraram
outra saída a não ser o Paquistão. E pela história passada com a Índia, não são
só ameaças. O Paquistão está pronto para bombardear o Irã por um preço.
A economia paquistanesa está
no ralo. Menos de 1% da população paga qualquer tipo de imposto. Mais da metade
vive em pobreza. O governo não controla o território. Ataques terroristas por
jihadistas são a regra. Minorias, como os cristãos, são perseguidos e
assassinados regularmente e há uma sistemática perseguição de mulheres e moças
e limitação da educação para elas. A poliomielite, erradicada no resto mundo,
virou epidemia no Paquistão. No entanto,
um relatório do Boletim dos Cientistas Nucleares estima que o país tenha entre
70 e 90 ogivas nucleares. Por sua situação frágil, o Paquistão hoje é a maior
ameaça para a segurança nuclear do globo.
E agora, com a perda da
credibilidade Americana, uma possível agressão do Paquistão oficialmente chegou
ao Golfo Pérsico. A jornalista Caroline Glick escreveu no começo do ano que iremos
assistir a uma nova onda de destruição de estados árabes. A noção de estados árabes distintos foi uma
ficção inventada pelos ingleses e franceses no final da Primeira Grande Guerra
para recompensar os líderes das maiores tribos da região por seu apoio às
potências ocidentais.
Com a exceção do Egito, os
países árabes formados depois da Guerra não eram Estados. Suas populações não se
distinguiam em nações distintas. Todos se consideravam simplesmente árabes. E
isto é verdade também para os árabes que viviam na Terra Santa. Até 1948, a
denominação “palestino” era de uso exclusivo dos judeus.
Há seis anos, vimos a primeira
onda do colapso destes estados. A Síria, a Líbia, o Iraque, e o Iêmen não existem
mais. O Líbano está a beira do colapso. O Egito ainda não se refez da revolução
e da contrarrevolução que passou. A Jordânia está a caminho da falência
pressionada pelo influxo de refugiados e sua diminuta economia. E a Arábia
Saudita, como o centro da cultura árabe e o maior produtor de petróleo é o país
que continua a liderar a assistência econômica aos mais desafortunados.
O problema é que a ameaça
iraniana aos sauditas tem crescido em proporção direta da determinação de Obama
de realinhar os Estados Unidos com o Irã abandonando seus aliados sunitas
tradicionais. Este famigerado acordo nuclear com os aiatolás só aumentou a
agressão iraniana, pois eles não temem mais qualquer retaliação americana por
suas ameaças às monarquias sunitas. O Irã ameaça e em troca recebe bilhões de
dólares e a suspensão das sanções econômicas pelas irresponsáveis potências
ocidentais.
Mas o Irã não é a única ameaça
à Casa de Saud. A queda do preço do petróleo ameaça acabar com as reservas
financeiras da Arábia Saudita em cinco anos. A renda do petróleo paga por uma
economia totalmente subsidiada e é assim que a família se mantém no poder. Já
no mês passado, os sauditas foram forçados a cortar subsídios no fornecimento
de água, eletricidade e até gasolina.
A bastante condenada
demonstração de força dos sauditas ao executarem os 43 prisioneiros no começo
do ano, inclusive o clérigo xiita Nimr al-Nimr foi necessária para a família
real mostrar que ainda manda no país.
E aí temos o Estado Islâmico.
Desde a revolução iraniana de 1979, os sauditas tentaram contrapor a devoção
dos aiatolás com sua própria versão do radicalismo islâmico, promovendo o
wahabismo no reino e o jihadismo fora dele.
Este patrocínio, no entanto,
fugiu ao seu controle, primeiro com al-Qaeda e agora com o Estado Islâmico. O
Daesh hoje está no comando de vastas áreas de terra no Iraque, na Síria e na
Líbia, está ameaçando o Egito, a Jordânia e a Arábia Saudita. O apoio ao jihad
entre os sauditas faz muitos acreditarem que se o Daesh atravessar a fronteira
será recebido com confetes em vez de balas. E se a Casa de Saud cair cairão
todas as outras monarquias da região.
Isto será o caos total. Um
caos que afetará a economia global e a segurança da Europa e dos Estados
Unidos.
É óbvio que a única maneira de
impedir que o caos ocorra é para os Estados Unidos reverem sua política e
fornecerem garantias palpáveis à Arábia Saudita de seu comprometimento com a
segurança do reino. Para tanto, os Estados Unidos teriam que responder de
maneira inequívoca à próxima agressão iraniana e denunciar seu programa de
mísseis balísticos.
Mas conhecendo Obama e sua
administração, podemos apostar que eles farão exatamente o oposto. Obama falou
muito em seu discurso sobre o Estado da União, que ele aproveitará este ultimo
ano de governo para impor sua visão. Ele também fará tudo para que um democrata
vença as próximas eleições para presidente, pois os republicanos já avisaram
que revogarão muitas de suas medidas inclusive em relação ao Irã.
Se Obama não consegue
protestar o lançamento de um míssil próximo ao seu porta-aviões, ele não fará
nada para salvar Israel se atacada pelo Irã, não importa quantas vezes ele
repita que protegerá o estado judeu. Se Obama, de seu mundo de fantasia, não
consegue enxergar a perigosa direção para a qual o mundo está caminhando e as
consequências de suas mal pensadas políticas, então seus aliados tradicionais
serão obrigados a rever aonde restam suas lealdades e procurar alternativas.
Neste meio tempo, e
infelizmente, a única coisa que temos para deter o Irã é um Estado falido com o
dedo sobre o gatilho nuclear.
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