Sunday, January 17, 2016

O Irã, a Arábia Saudita e o Paquistão - 17/1/2016

Com o preço do petróleo abaixo de $30 o barril, as bolsas do mundo continuam a cair trazendo mais instabilidade ao mundo. Nesta semana que passou também vimos mais ataques perpetrados por terroristas islâmicos. Na capital de Burkina Faso, 29 pessoas foram chacinadas nesta sexta-feira, inclusive dois suíços, dois franceses e seis canadenses. Na terça-feira, um homem-bomba se explodiu no meio de um grupo de turistas alemães matando 10 na Turquia.

Mas ao ouvir o discurso do presidente Obama sobre o estado da união, qualquer um diria que o mundo está no caminho do Shangrilá, do Jardim do Eden, e devemos isto unicamente a ele.

Enquanto Obama declarava que nunca houvera potência igual aos Estados Unidos, que todos estes ataques não causam um problema existencial para a América, e que o mundo está mais seguro devido ao seu acordo com o Irã, soldados americanos ajoelhavam e se rendiam para a guarda costeira iraniana. As imagens dos americanos humilhados, inclusive uma soldada obrigada a colocar o hijab e cobrir seu cabelo, permeavam a mídia iraniana mostrando a supremacia dos aiatolás. Em resposta a esta humilhação, o secretário de estado John Kerry agradeceu a hospitalidade dos iranianos.

O Irã está claramente espalhando seus tentáculos e fortalecendo sua influência no Oriente Médio. Há anos que a postura de Obama em relação aos aiatolás tem alarmado os países árabes sunitas do Golfo, especialmente a Arábia Saudita. Os xiitas nunca esconderam sua ambição de tomar posse dos locais sagrados para os muçulmanos, Meca e Medina, e esta animosidade milenar pode degenerar numa guerra total. Numa guerra nuclear. E é isto o que o Irã está sugerindo.

Com esta situação precária, surpreendentemente a declaração mais perigosa que ouvimos ultimamente não veio do Irã, mas do Paquistão. O chefe das forças armadas General Sharif disse que “o Irã será apagado do mapa se fizer qualquer ameaça à integridade territorial da Arábia Saudita”.

Os sauditas se voltaram para o Paquistão, um país sunita e nuclearmente armado como consequência do abandono dos Estados Unidos de seu papel de protetor do maior produtor de petróleo do mundo. Quando no ano passado Obama retirou o último porta-aviões do Golfo Pérsico, ele soou o sinal de alarme para os árabes. Quando o porta-aviões retornou, os iranianos decidiram flexionar seus músculos lançando mísseis a pouco mais de mil metros do porta-aviões enquanto ele entrava no estreito de Ormuz. Os americanos não reagiram. Nem mesmo emitiram qualquer protesto pela agressão.  

Os sauditas não encontraram outra saída a não ser o Paquistão. E pela história passada com a Índia, não são só ameaças. O Paquistão está pronto para bombardear o Irã por um preço.

A economia paquistanesa está no ralo. Menos de 1% da população paga qualquer tipo de imposto. Mais da metade vive em pobreza. O governo não controla o território. Ataques terroristas por jihadistas são a regra. Minorias, como os cristãos, são perseguidos e assassinados regularmente e há uma sistemática perseguição de mulheres e moças e limitação da educação para elas. A poliomielite, erradicada no resto mundo, virou epidemia no Paquistão.  No entanto, um relatório do Boletim dos Cientistas Nucleares estima que o país tenha entre 70 e 90 ogivas nucleares. Por sua situação frágil, o Paquistão hoje é a maior ameaça para a segurança nuclear do globo.

E agora, com a perda da credibilidade Americana, uma possível agressão do Paquistão oficialmente chegou ao Golfo Pérsico. A jornalista Caroline Glick escreveu no começo do ano que iremos assistir a uma nova onda de destruição de estados árabes.  A noção de estados árabes distintos foi uma ficção inventada pelos ingleses e franceses no final da Primeira Grande Guerra para recompensar os líderes das maiores tribos da região por seu apoio às potências ocidentais.

Com a exceção do Egito, os países árabes formados depois da Guerra não eram Estados. Suas populações não se distinguiam em nações distintas. Todos se consideravam simplesmente árabes. E isto é verdade também para os árabes que viviam na Terra Santa. Até 1948, a denominação “palestino” era de uso exclusivo dos judeus.

Há seis anos, vimos a primeira onda do colapso destes estados. A Síria, a Líbia, o Iraque, e o Iêmen não existem mais. O Líbano está a beira do colapso. O Egito ainda não se refez da revolução e da contrarrevolução que passou. A Jordânia está a caminho da falência pressionada pelo influxo de refugiados e sua diminuta economia. E a Arábia Saudita, como o centro da cultura árabe e o maior produtor de petróleo é o país que continua a liderar a assistência econômica aos mais desafortunados.

O problema é que a ameaça iraniana aos sauditas tem crescido em proporção direta da determinação de Obama de realinhar os Estados Unidos com o Irã abandonando seus aliados sunitas tradicionais. Este famigerado acordo nuclear com os aiatolás só aumentou a agressão iraniana, pois eles não temem mais qualquer retaliação americana por suas ameaças às monarquias sunitas. O Irã ameaça e em troca recebe bilhões de dólares e a suspensão das sanções econômicas pelas irresponsáveis potências ocidentais.

Mas o Irã não é a única ameaça à Casa de Saud. A queda do preço do petróleo ameaça acabar com as reservas financeiras da Arábia Saudita em cinco anos. A renda do petróleo paga por uma economia totalmente subsidiada e é assim que a família se mantém no poder. Já no mês passado, os sauditas foram forçados a cortar subsídios no fornecimento de água, eletricidade e até gasolina.

A bastante condenada demonstração de força dos sauditas ao executarem os 43 prisioneiros no começo do ano, inclusive o clérigo xiita Nimr al-Nimr foi necessária para a família real mostrar que ainda manda no país.

E aí temos o Estado Islâmico. Desde a revolução iraniana de 1979, os sauditas tentaram contrapor a devoção dos aiatolás com sua própria versão do radicalismo islâmico, promovendo o wahabismo no reino e o jihadismo fora dele.

Este patrocínio, no entanto, fugiu ao seu controle, primeiro com al-Qaeda e agora com o Estado Islâmico. O Daesh hoje está no comando de vastas áreas de terra no Iraque, na Síria e na Líbia, está ameaçando o Egito, a Jordânia e a Arábia Saudita. O apoio ao jihad entre os sauditas faz muitos acreditarem que se o Daesh atravessar a fronteira será recebido com confetes em vez de balas. E se a Casa de Saud cair cairão todas as outras monarquias da região.

Isto será o caos total. Um caos que afetará a economia global e a segurança da Europa e dos Estados Unidos.

É óbvio que a única maneira de impedir que o caos ocorra é para os Estados Unidos reverem sua política e fornecerem garantias palpáveis à Arábia Saudita de seu comprometimento com a segurança do reino. Para tanto, os Estados Unidos teriam que responder de maneira inequívoca à próxima agressão iraniana e denunciar seu programa de mísseis balísticos.

Mas conhecendo Obama e sua administração, podemos apostar que eles farão exatamente o oposto. Obama falou muito em seu discurso sobre o Estado da União, que ele aproveitará este ultimo ano de governo para impor sua visão. Ele também fará tudo para que um democrata vença as próximas eleições para presidente, pois os republicanos já avisaram que revogarão muitas de suas medidas inclusive em relação ao Irã.

Se Obama não consegue protestar o lançamento de um míssil próximo ao seu porta-aviões, ele não fará nada para salvar Israel se atacada pelo Irã, não importa quantas vezes ele repita que protegerá o estado judeu. Se Obama, de seu mundo de fantasia, não consegue enxergar a perigosa direção para a qual o mundo está caminhando e as consequências de suas mal pensadas políticas, então seus aliados tradicionais serão obrigados a rever aonde restam suas lealdades e procurar alternativas.


Neste meio tempo, e infelizmente, a única coisa que temos para deter o Irã é um Estado falido com o dedo sobre o gatilho nuclear.

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