Há alguns meses, quando
comentava neste programa sobre o enorme pacote de ajuda americana, avisei que Israel
iria pagar caro por ele. Na ocasião, meu receio era que Obama iria reconhecer o
estado palestino na Assembleia Geral da ONU em setembro.
A Assembleia Geral ocorreu e
Obama nada fez. Ele mal falou sobre Israel em seu discurso, provavelmente se
calando para não prejudicar as chances de Hillary Clinton nas eleições em
novembro. Mas após Hillary ter perdido, Obama decidiu usar este último mês na
presidência para finalmente extravasar seu antissemitismo e anti-israelismo sem
nada que o contenha.
No começo de dezembro, Obama
convidou o representante palestino Saeb Erekat junto com um representante egípcio
para uma reunião final antes de sair da Casa Branca. Aproveitando a posição do
Egito como membro não permanente no Conselho de Segurança, Obama compôs os
termos de uma resolução que, contra toda a base legal em direito internacional,
iria finalmente declarar os assentamentos israelenses na Judeia e Samaria
ilegais, não apenas ilegítimos aos olhos da comunidade internacional mas
ilegais.
Vamos voltar um pouco na
história. Logo após a Segunda Guerra Mundial, a Cruz Vermelha - que até então
era somente uma organização suíça de assistência- submeteu os termos das
Convenções de Genebra para proteger populações civis em caso de guerra.
A Quarta Convenção de Genebra
em particular, proíbe a transferência de populações em territórios ocupados.
Isto é, proíbe o que a China fez no Tibete, de arrancar tibetanos e assenta-los
na China e transferir chineses para o Tibete. Mas nada na Convenção proíbe que
pessoas privadas adquiram propriedades no território ocupado e morem lá. Muitos
turcos, por exemplo, adquiriram propriedades e moram no norte de Chipre,
ocupado pela Turquia. A China e a Turquia nunca foram condenadas.
Depois de 1967, judeus
decidiram retornar para os locais de onde haviam sido expulsos apenas 18 anos
antes, em 1949. Estes judeus reconstruíram as comunidades de Gush Etzion, Hebron,
e outras. Isso, e o fato de nunca ter havido um estado palestino na região,
fazia que os assentamentos não fossem ilegais. Até agora.
Os judeus não são chineses ou
turcos. Eles viveram por três mil anos ininterruptamente nesta terra que leva
seu nome: Judeia. Foram expulsos por 18 anos e quando voltaram foram rotulados
de colonos! Isto porque o mundo colocou na cabeça que a única solução para o
conflito entre Israel e os árabes é a criação de mais um estado árabe
terrorista. Nenhum destes imbecis, que recusa ver a realidade, traz o fato de
Israel, incluindo a Judeia e Samaria, ser menor que o Estado de Sergipe. Que de
vários pontos em Jerusalem, um pode ver Tel Aviv e o Mediterrâneo de um lado e
ao se virar, verá a Jordânia. Tudo a olho nú. Isto não seria problemático se
Israel tivesse o Canadá ou a Austrália como vizinhos. Mas este não é o caso. Nenhum
destes países admite que já como está, Israel não tem profundidade territorial
estratégica para se defender.
Esta resolução, patrocinada
pelo Egito, tinha que ser votada na quinta-feira, mas o Egito a retirou, depois
de Donald Trump ter ligado para o presidente al-Sissi e pedido para esperar até
ele ser empossado em Janeiro para conversarem. Obama ficou furioso e resolveu mostrar
que ele ainda é o presidente.
Obama então contatou outros
membros não permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a resolução foi re-submetida
ao voto na sexta-feira à noite com patrocínio do Senegal, Nova Zelândia, Malásia
e Venezuela, quando todos já deveriam estar de férias de Natal. E desta vez, diferentemente
de outras resoluções, os Estados Unidos não a vetou, mas se absteve. O
presidente da Ucrânia, que havia indicado que também iria se abster, recebeu um
telefonema do vice-presidente americano Joe Biden que , foi pressionado durante
horas. Obama queria uma votação unânime, somente os Estados Unidos se abstendo.
Com isso, hoje as comunidades
judaicas além da linha verde foram da noite para o dia, literalmente, tornadas
ilegais pela comunidade internacional.
A resolução é muito
problemática e perigosa. Ela abre o caminho para sanções, boicotes e o
arrolamento dos moradores judeus nestas áreas como criminosos de guerra. A
resolução também não leva em conta que ao colocar tudo além da linha verde na
ilegalidade, ela exige a saída dos judeus da cidade velha de Jerusalem, do Muro
das Lamentações e de todos os outros locais judaicos sagrados como o túmulo de
Raquel e dos Patriarcas. Ela coloca na ilegalidade quase meio milhão de
israelenses que moram nos bairros ao norte, leste e sul de Jerusalem e outro
meio milhão que vivem na Judeia e Samaria.
O outro lado da moeda desta
resolução é que ela retira qualquer incentivo dos palestinos sentarem na mesa
de negociação. Na sexta-feira eles conseguiram absolutamente TUDO, sem fazerem QUALQUER
concessão, nem mesmo cessar a incitação e ataques terroristas. De fato, qualquer
ataque a assentamentos e a judeus além da linha verde, de ontem em diante será
visto como legitima defesa dos palestinos. Na prática, esta resolução revogou
os acordos de Oslo que haviam estabelecido que o status das comunidades
judaicas e Jerusalem deveriam ser negociadas entre as partes.
Esta resolução hipócrita é o
troco pessoal de Obama para Netanyahu. Um assistente de Bibi uma vez me disse
que a aversão de Obama pelo primeiro ministro era tão patente que chegava a ser
física. Agora que Hillary perdeu a eleição, Obama sabe que a maioria de seu
legado imposto através de ordens executivas, será desmantelada por Trump. Mas uma
resolução como esta aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU será impossível revogar.
A arrogância e a hipocrisia
deste homem não tem limites. Ele está
fazendo tudo para minar a presidência de Trump. Sinceramente, em 30 anos de
América, nunca tive tanta vergonha deste país e de me dizer cidadã.
E o que fazer agora?
Por um lado, Trump pode dar o
troco e imediatamente transferir a embaixada americana de Tel Aviv para
Jerusalem. Trump também pode suspender a ajuda americana para a UNRWA a agência
de refugiados exclusiva dos palestinos que não faz nada a não ser promover o
terrorismo. Ele também pode tentar negociar com estes ou os próximos membros do
Conselho de Segurança para revogar esta resolução algo nunca feito antes. No
limite ele pode se recusar a continuar a financiar a ONU que depende da América
em nada menos que 25% de seu orçamento anual.
Bibi por seu lado, já começou
a tomar passos importantes chamando de volta os embaixadores israelenses na
Nova Zelândia e no Senegal e cancelando os programas de ajuda, especialmente em
agricultura, que Israel patrocina no país africano. Ele também cancelou a ajuda
monetária de milhões de shekels a agências da ONU que mantêm presença em Israel,
trabalhando contra o país.
Mas Bibi pode ir mais além. Já
que a comunidade internacional estabeleceu as fronteiras como a linha verde de
1949 sem consultar Israel, Israel pode agora aproveitar esta oportunidade e anexar
a área C e as comunidades judaicas na Judeia e Samaria ao Estado de Israel. O
resto, Israel deverá se separar completamente dos palestinos, cancelando vistos
de trabalho, transferência de doentes para hospitais israelenses para serem
tratados de graça e cancelar o fornecimento de água e eletricidade aos palestinos
sem receber pagamento durante por anos.
Parece até um presságio que
esta votação tenha ocorrido na véspera do festival das luzes, da festa que
Israel comemora a vitória contra os gregos e a re-dedicação do Templo em
Jerusalém. Dizem que a parte mais escura da noite é antes da aurora. Que esta
mostra vergonhosa, desonesta, infame e indigna dos países civilizados se torne
na faísca que desencadeie a luz e a redenção para Israel e o povo judeu.
Excelente, Deborah! Seus comentários são sempre muitíssimos elucidativos, nos trazendo informações e críticas que contribuem em muito para enriquecer nossa fé. Concito q continues a dedicar teu conhecimento privilegiado conosco. Forte abraço a você e ao Shlomo (sim Israel/2013)
ReplyDeleteExcelente, Deborah! Seus comentários são sempre muitíssimos elucidativos, nos trazendo informações e críticas que contribuem em muito para enriquecer nossa fé. Concito q continues a dedicar teu conhecimento privilegiado conosco. Forte abraço a você e ao Shlomo (sim Israel/2013)
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