Um raro encontro aconteceu em
Janeiro em Jerusalem. Representantes do Exercito Livre da Síria falaram em uma
conferência na Universidade Hebraica de Jerusalem sobre a situação terrível dos
sírios e agradecer a ajuda do Estado de Israel, especialmente tratando dos
feridos. Como era de esperar, dezenas de manifestantes palestinos
tentaram calar os sírios chamando-os de todos os nomes possíveis, inclusive de
traidores.
Os sírios, por sua vez, não se
deixaram intimidar. Gritaram com os manifestantes dizendo que eles deveriam ter vergonha, pois moravam num paraíso comparado com a Síria. Issam Zeitoun, um
destes sírios, prometeu voltar a Israel e pedir mais ajuda para os seus. E isto
foi antes do último ataque com gás perpetrado por Assad.
Na semana passada comentei que a
estratégia do uso de armas químicas por Bashar al-Assad tinha como objetivo uma
limpeza étnica através da qual os xiitas criariam um cinto de comunidades que
se estenderia do Iraque até a costa da Síria, finalmente dando ao Irã acesso ao
Mediterrâneo e à fronteira norte de Israel.
Ontem, depois de um suposto
acordo entre Assad e rebeldes, as populações sunitas de
duas cidades do sul, Madaya e al-Zabadani foram transferidas para a província de Idlib no norte, e as comunidades xiitas de al-Foua e Kefaria do norte foram levadas para o sul. Estas
transferências de população forçadas causam uma mudança demográfica deliberada
para facilitar o subjugo na maioria sunita da Síria pela minoria xiita. Alguém
levou isto para o Conselho de Segurança da ONU?? Não.
Trump por seu lado continuou a
mostrar que tem um novo xerife na cidade. Uma semana após lançar 59 mísseis
tomahawks na Síria, ele usou a mãe de todas as bombas, a bomba não-nuclear mais
poderosa de seu arsenal, para explodir a rede de tuneis fortificados do Estado
Islâmico no Afeganistão. Durante anos soldados do ISIS aterrorizaram a
população na fronteira do Paquistão, e todas as tentativas de desaloja-los
foram infrutíferas. Problema resolvido.
A Coreia do Norte, vendo as
ações de Trump no Oriente Médio e as manobras do porta-aviões americano USS Carl
Vinson perto a península da Coréia, comemorou os 105 anos do nascimento do
fundador Kim Il Sung com uma mostra de poderosos armamentos, inclusive o que
pareciam ser mísseis intercontinentais. Ontem, o lunático líder deste país
tentou testar um destes mísseis sem sucesso, mas o que preocupa são os
próximos testes nucleares que a Coreia do Norte está prestes a conduzir.
Além disso, há inteligênica que a Coreia do Norte está trabalhando dia e noite para conseguir acoplar uma
ogiva nuclear em um destes mísseis intercontinentais.
Todos estes focos de tensão de
algum modo nos levam ao Irã. É sabido que todos os testes conduzidos pela
Coreia do Norte são presenciados por representantes iranianos e há uma
cooperação muito estreita entre os dois países nesta área. No momento em que a
Coreia do Norte conseguir testar misseis balísticos intercontinentais com
sucesso, o Irã terá esta tecnologia pelo preço certo. Um preço
que o Irã pode pagar, cortesia dos bilhões liberados por Barack Obama.
Somente ontem, o presidente iraniano
Hassan Rouhani declarou que não pedirá a permissão de ninguém para produzir
mísseis, apesar de o acordo nuclear assinado com os Estados Unidos e a Europa
indiretamente proibir a busca de tal tecnologia.
Está claro que o que estamos
vendo com o Irã, é apenas uma repetição do fiasco da política americana com a
Coreia do Norte. Em 1994, o então presidente Bill Clinton, com muito orgulho, anunciou
um pacote de mais de quatro bilhões de dólares em ajuda para Pyongyang em troca
do desmantelamento do seu programa nuclear. Não passou quatro anos e a América
descobriu que os coreanos estavam mentindo. Eles estavam produzindo uranio enriquecido à todo vapor. Finalmente em 2002, os coreanos do norte começaram
a construir seu primeiro reator nuclear e em Janeiro de 2003, se retiraram do
Tratado para a Não-Proliferação Nuclear. Três anos mais tarde a Coreia do Norte
torcia seu nariz para o mundo ao testar sua primeira bomba nuclear.
Ao adquirir esta tecnologia, o Irã sabe que calará toda oposição sunita do mundo árabe que o cerca
que é apoiado pelos Estados Unidos. No meio tempo, o Irã mente, supostamente
cumprindo acordos que pode denunciar a qualquer momento, e usando a Coreia do
Norte para fazer seu trabalho sujo.
A estratégia do Irã é clara: o
domínio do Oriente Médio, do Afeganistão ao Mediterrâneo; seu posicionamento
direto na Síria e através da Hezbollah no Líbano ameaçando tanto Israel, como a
Europa e os Estados Unidos.
O que ainda está sem
definição é a estratégia americana para confrontar este mundo que a cada dia
se torna mais perigoso. O que Trump irá fazer se Assad usar armas químicas
novamente? Ou se Kim Jon-Un lançar mísseis na Coreia do Sul? Ou se o Irã
redobrar sua presença na fronteira com Israel? Ele irá responder com
confrontação ou contenção?
Uma confrontação pode trazer
resultados inesperados porque estamos lidando com líderes completamente
irracionais. Se for com contenção, Trump terá que negociar com a Rússia, o
Irã, Assad, os rebeldes sunitas, os curdos e os turcos.
Com a Coreia do Norte, Trump
ainda pode contar com a China. O governo de Xi Jinping está cada vez mais
irritado com Kim Jon Un e só o mantem no poder para evitar uma leva de
refugiados astronômica da Coreia do Norte para a China.
Pode parecer implausível, mas
a Síria e a Coreia do Norte têm muito em comum. Ambos os líderes herdaram o
poder de seus pais. Ambos usam de força desmesurada para esmagar qualquer
oposição. Seus governos têm sido amigos por décadas, desde a época em que os
dois eram clientes da União Soviética. A Síria continua a depender da Rússia e
a Coreia do Norte depende da China. E ambos, apesar de estarem em lados opostos
do mundo, estão em confronto com os Estados Unidos.
E o fato dos dois continuarem
a desafiar a América apesar dos avisos, é preocupante. Trump não terá outra alternativa a não ser se manter
firme e irredutível para impedir o avanço destes déspotas.
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