Esta foi uma semana e tanto.
Com apenas uma ação, Donald Trump restaurou a credibilidade e a posição americana
na arena internacional. E a mensagem foi clara: Ninguém pode mais usar armas
químicas contra mulheres e crianças e não esperar ser punido.
Recapitulando, na terça feira
às 06h30min da manhã, os habitantes do vilarejo de Khan Sheikhoun foram
acordados com explosões e uma nuvem amarela que lenta e brutalmente asfixiou 86
pessoas, 30 delas crianças e bebês e 20 mulheres. Como se isto não bastasse, o
governo de Assad resolveu em seguida bombardear também o único hospital do lugar,
tornando impossível o socorro das vítimas.
As imagens que correram o
mundo foram nauseantes. Crianças com suas bocas espumando, corpos jogados pelas
ruas, enfim, coisas que não deveríamos estar vivendo no iluminado século 21.
Armas químicas foram banidas
em 1925 depois de terem sido largamente usadas durante a Primeira Grande Guerra
e morto mais de 1.3 milhões de soldados. Nenhum uso de gás forneceu qualquer
ganho palpável em batalhas. Deixaram apenas um trauma enorme lembrado até hoje
pela horripilante morte infligida a outro ser humano. Mas apesar dos
precedentes, ataques de gás foram usados também sem sucesso, pelas forças
cubanas em Angola e pelos russos no Afeganistão.
Os árabes também usaram gás sem
melhores resultados. Nos anos 60, o Egito o usou contra o Iêmen mas a morte de
mais de mil iemenitas não evitou a precipitada retirada egípcia em 1967 ou a
perda de mais de 10 mil soldados egípcios naquela guerra.
Os ataques de gás por Saddam
Hussein contra o Irã também não decidiram a guerra que terminou em empate. E seu
ataque em 1988 contra seus próprios cidadãos curdos no norte do país, que matou
cinco mil civis, não impediu a secessão da região duas décadas mais tarde e o
fez perder todo o apoio do ocidente.
E apesar de todo este passado
histórico, o presidente sírio Bashar al-Assad parece estar fixado em repetir
estes mesmos erros? E por quê??
O uso de gás por Assad é parte
de uma visão estratégica regional. É só ver aonde este vilarejo se situa. Khan
Sheikhoun está ao leste das montanhas Nusaryiah reduto da minoria alawita-xiita
ao qual pertence Assad. O vilarejo também está na beira da rodovia M5, a
artéria norte-sul mais importante da Síria, que conecta Damasco com Homs e de
lá até Alepo.
O ataque de gás e ao hospital
são parte de um esforço de limpeza étnica para empurrar a população sunita situada
nesta artéria para o leste do país e substitui-los por xiitas iraquianos.
A busca pelo governo Assad
para remapear a Síria etnicamente foi levantada pelos negociadores iranianos em
suas tratativas com os grupos de oposição sírios. A análise racional é clara.
Tendo já consolidado sua presença política em Bagdá, Teerã quer agora estender
seus tentáculos para o Mediterrâneo formando um cinto de comunidades xiitas sem
o incômodo e oposição de comunidades sunitas, que são a maioria na Síria.
Assad tem interesse nisto
porque ele governará sobre uma Síria menor, mas mais coesa. Israel já disse no
passado que o Irã quer construir sua própria base no Mediterrâneo. A Síria tem
uma costa curta, menos da metade da costa de Israel e a Rússia já tem sua base
em Tartus. Por enquanto os interesses dos três convergem, mas os russos não vão
querer os navios dos aiatolás estacionados ao lado dos seus. Não demorará a que
surjam desacordos entre os interesses seculares e estratégicos russos e os
interesses religiosos e imperialistas dos iranianos.
A costa síria pode ser curta,
mas a memoria dos árabes sunitas é longa. Eles lembram a tentativa de dominação
dos persas e farão de tudo para impedirem esta nova investida. Uma amostra
disto foi a reação sunita ao ataque em Khan Sheikhoun. A Liga Árabe chamou-o um
“crime hediondo”. O primeiro ministro libanês Saad Hariri culpou o mundo por “deixar
este regime fazer o que quer”. Hariri representa a minoria sunita do Líbano e é
um que teme a isolação que seu país sofrerá com tal cinto xiita atravessando a
Síria.
Assad por seu lado achou que
poderia continuar atirando impunemente usando a Rússia como escudo no âmbito
internacional para, como disse, criar uma pequena Síria xiita a serviço do Irã.
Isto parece aos menos avisados, reverter os objetivos de seu pai, Hafez al Assad.
O velho Assad sonhava criar a grande Síria, que incluiria o Líbano, a Jordânia
e Israel impondo o domínio xiita sobre a maioria sunita da região.
Hoje não há dúvida que a criação
da Pequena Síria é apenas o primeiro passo do Irã para alcançar a Grande Síria.
Obama achou que governar e eliminar
o uso de armas químicas era fazer negociatas e composições como o fizera como
um organizador comunitário. Na sexta-feira, o jornal The New York Times
publicou um artigo perguntando “As Armas Químicas da Síria Não Haviam Sido
Destruídas? É Complicado”.
Isto porque em 2014, ao se
dirigir à nação, o então presidente Barack Obama havia declarado que a “diplomacia
americana, apoiada sobre a ameaça de uso de força, é a razão da eliminação das
armas químicas da Síria”. Alguns meses mais tarde, John Kerry declarou sua
missão cumprida: “Nós fizemos um acordo e conseguimos a eliminação de 100% das
armas químicas”.
Com os corpos empilhados em
Khan Sheikhoun, vemos que a verdade é outra e realmente bem mais complicada.
Donald Trump não traçou linhas
vermelhas imaginárias como ameaças. E apesar de ter sido consistentemente contra
o envolvimento americano na guerra civil síria durante sua campanha, na quarta-feira
ele deixou claro que não permitiria este tipo de atrocidade. Em vez de linhas
vermelhas, Trump lançou 59 mísseis tomahawks contra a base aérea de onde a Síria
lançou o ataque químico.
Isto colou um grande aviso na
cara dos ditadores do mundo. O silêncio do Irã, a reação confusa da Rússia que
não usou seu sistema de defesa antiaéreo e a histeria vinda da Coreia do Norte
mostra que houve um grande erro de cálculo sobre quem é Trump. Todos acharam
que teriam um Obama ponto dois e de repente, oh, oh...
A reação do povo americano em
geral foi de alegria, elogios e alivio ao ver seu país voltar ao normal: para o
lado correto da história. Apesar do desespero da mídia esquerdista.
Assad testou Obama e nada
aconteceu. Assad testou Trump e ao que parece, não o fará tão cedo novamente.
Trump compreendeu que ao tomar o leme ele tem que mostrar quem manda.
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