Sunday, April 2, 2017

Israel e a Estratégia de Trump para o Oriente Médio - 02/04/2017

O encontro anual do AIPAC, o lobby pró Israel que aconteceu em Washington na última semana não poderia ter sido mais bem sucedido. Parecia um show de rock.

O encontro contou com mais de 19 mil americanos, mais de 2/3 dos membros do Congresso, 275 delegações de instituições judaicas e 283 presidentes de centros acadêmicos de todos os 50 estados americanos.

Um momento muito especial ocorreu na abertura da conferência.

Nas telas gigantes do estádio foi mostrado um filme sobre Amnon Weinstein, um fabricante de violinos especializado em renovar e restaurar violinos que sobreviveram o holocausto e chegaram em Israel. Muitos dos sobreviventes que levaram seus violinos para Weinstein não os queriam de volta. Não conseguiam joga-los fora, mas era muito doloroso guarda-los por sua carga de lembranças sobre as famílias mortas, suas comunidades massacradas, a chama de suas vidas e musicas apagada. Num ponto do filme, o famoso violinista israelense Hagai Shaham apareceu na tela tocando em um daqueles violinos. De repente, do escuro do palco, ele apareceu ao vivo continuando a melodia no momento exato do filme. O publico ficou em silencio. Mas aí Shaham começou a tocar a Hatikva, o hino nacional de Israel, e em uníssono, a audiência se levantou e começou a cantar o hino.

Ninguém fez sinal para que os milhares se levantassem. Aconteceu espontaneamente, alguns momentos antes do vice-presidente Mike Pence fazer seu discurso. Foi realmente uma incomparável demonstração de amor e apoio a Israel que não pode ser desconsiderada, por mais que organizações como o JStreet e Vozes Pela Paz o queiram.

Donald Trump não foi para a conferência o que era esperado. No ano passado, o AIPAC teve que enviar um pedido de desculpas para o presidente Barack Obama depois que os ataques do candidato Trump foram aplaudidos de pé pela audiência. Mas a presença do presidente se fez sentir em todos os programas.

As discussões do AIPAC se focaram em como Trump pensa concretizar um acordo entre Israel e os palestinos. Ele afirmou que este seria o grande negócio da sua vida, mas ninguém tem ainda uma ideia clara de como ele pensa faze-lo.

O diálogo entre Israel e os Estados Unidos parece se centrar em dois tópicos: os assentamentos na Judeia e Samaria e o Irã.

Com Obama, o diálogo começava e terminava nos assentamentos, como se a disputa com os palestinos fosse uma diferença sobre territórios. Nós sabemos que não o é e por duas razões simples: nunca antes de Obama foram os assentamentos designados pelos palestinos como causa do impasse e o fato da própria OLP ter explicitamente excluído a Judeia e Samaria dos territórios a serem “libertados” em 1964, pois estavam nas mãos da Jordânia.

Netanyahu nomeou Ron Dermer, o ex-embaixador de Israel nos Estados Unidos como negociador-chefe sobre os assentamentos e seu papel é de novamente retirá-los da agenda.

O segundo tópico, o Irã, é substancialmente mais complicado e mais amplo. Mas também é uma oportunidade para Israel ajudar os Estados Unidos a elaborarem sua política em relação aos mulás. Uma política que deverá conter o perigo da implantação de bases iranianas na Síria, incluindo próximo da fronteira com Israel, o contínuo patrocínio de grupos terroristas ao redor do mundo e claro, o acordo nuclear.

Devido à genuína amizade entre Trump e Netanyahu, Israel tem uma oportunidade única para no mínimo, influenciar do modo significativo a política americana com relação ao Irã.

Muitos comentaristas israelenses tomaram a posição de que seria aconselhável para Israel aceitar um congelamento da construção judaica na Judeia e Samaria, inclusive proibir a construção de uma nova comunidade para os residentes evacuados de Amona e concentrar no Irã. Afinal, poucas casas em assentamentos não valem toda uma estratégia contra os iranianos.

O que eles não veem é que os dois tópicos são lados da mesma moeda.

As comunidades israelenses na Judeia e Samaria se situam nos altos da cadeia montanhosa da região. Os vilarejos árabes estão nos vales, aonde há água e melhores condições para a agricultura e pasto. A única vantagem das comunidades judaicas é terem uma visão panorâmica e, portanto serem as primeiras a detectarem movimentos contra Israel vindos do norte, do sul, da Jordânia e dos próprios árabes locais.

Hoje, o Irã já exerce uma influência preocupante entre os árabes, diretamente ou através do Hamas que ele patrocina. Se houvessem eleições na Autoridade Palestina hoje, o Hamas ganharia de longe. E é por isso que Abbas nem convoca eleições, nem corta a coordenação de segurança com o exército de Israel, pois é só isso que o separa de uma tomada de governo pelo Hamas em Ramallah.

O Irã já domina o Líbano através da Hezbollah, está se solidificando na Síria, está em Gaza com o Hamas e está tentando penetrar na Judéia e Samaria.

Deste modo, as comunidades judaicas da Judeia e Samaria constituem a linha de frente de defesa de Israel. Com milhões de refugiados sírios, a desestabilização e radicalização do país, e uma paz sendo constantemente questionada, Israel tem que estar preparada para uma quebra no status quo com a Jordânia.

E é esta mensagem que Israel tem que passar para a administração Trump. A solução para o conflito com os palestinos não resta na criação de mais um estado árabe antissemita e propenso ao terrorismo e à destruição de Israel. A solução está em exigir que a liderança palestina tome passos concretos e genuínos para preparar sua população para a paz, acabando com a incitação na mídia, escolas, universidades, mesquitas e instituições governamentais. Eles têm que suspender a glorificação e o pagamento dos ridículos salários aos terroristas e suas famílias. Têm que usar o dinheiro da ajuda internacional para construir os fundamentos de um estado como rede de tratamento de esgotos, água, eletricidade, hospitais e indústria para gerar empregos.

Os palestinos exigem um estado soberano em todo o território adquirido em 1967 e livre de judeus, deixando Israel sem profundidade estratégica para se defender. Os palestinos querem um estado com todas as liberdades inerentes à ele como a de formação de um exercito, fábrica de mísseis, etc.. Querem ser soberanos para isso, mas querem continuar a receber água, eletricidade, permissões de trabalho e outros benefícios de Israel.

Os palestinos não estão preparados para um estado e Israel só poderá se defender efetivamente de seus inimigos, incluindo o Irã, fortalecendo as comunidades judaicas da Judeia e Samaria.


Até que o povo palestino esteja pronto a aceitar um estado judeu como vizinho, não há porque levar à frente esta ideia asinina de dois estados para dois povos. 

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