O repentino anúncio
do presidente Donald Trump na quarta-feira de retirar as forças americanas da
Síria chocou a mídia mundial trazendo-a a um novo nível de histeria. Mas já em
abril Trump prometera retornar os 2 mil soldados para casa, após terem cumprido
o mandato especifico do Congresso de erradicar o Estado Islâmico. Quando seu
anúncio provocou oposição interna e dos principais aliados, Trump deu seis
meses ao Pentágono para completar a missão. E após este prazo, como esperado, Trump
cumpriu o prometido.
A decisão do
presidente americano terá muitas consequências negativas longamente explicadas
nos programas de política internacional. Mas menos faladas são as consequências
positivas. Mas é importante falar de ambas para concluirmos se esta foi ou não
apenas mais uma decisão aparentemente impulsiva de Trump.
Do lado
negativo, as vítimas mais imediatas são os curdos, as únicas forças leais aos
Estados Unidos contra o Estado Islâmico na Síria.
Esta parceria
com os curdos colocou as forças americanas na linha de fogo da Turquia que quer
simplesmente erradicar esta minoria que há tantos anos procura sua
independência. Como disse a revista Newsweek em julho, Erdogan fez sua campanha
demonizando os curdos porque eles são um empecilho para ele recriar o Império
Otomano. Só na semana passada, o ditador turco, prometeu uma larga ofensiva
militar dentro da Síria. Mas aí Trump falou com ele na segunda-feira e Trump
fez o anúncio da retirada das forças na terça. De acordo com a mídia, Trump
estaria abandonando os curdos à sua sorte. Pode ser, a não ser que os Estados
Unidos tenham deixado claro a Erdogan que irão armar e dar assistência aos
curdos. Se isso não acontecer, no entanto, os curdos sírios terão que enfrentar
a Turquia sozinhos ou procurar proteção da Rússia ou pior, dos iranianos que
irá sem dúvida complicar a situação na região.
Apesar de
pequenas, as forças dos EUA, estacionadas na fronteira entre a Síria, o Iraque
e a Jordânia, tiveram um enorme impacto estratégico bloqueando o avanço do Irã
e protegendo a Jordânia de infiltrações e ataques dos xiitas iranianos.
E aí temos a
Rússia. Desde janeiro a Síria concordou em transferir o controle do petróleo e
gás da Síria para a Rússia. Um mês depois, a Rússia tentou tomar um campo da
empresa Conoco que está em território curdo. As forças americanas e curdas
evitaram a ofensiva.
Para Israel,
a presença dos EUA na Síria serviu como impedimento contra agressões diretas da
Hezbollah e do Irã. Ninguém queria o envolvimento americano numa ofensiva
contra Israel especialmente a Rússia que limitou sua aliança com o Irã na Síria,
coordenando com Israel as ações militares contra a Hezbollah.
Assim, o
anúncio da retirada das tropas americanas da Síria por Trump pode realmente aumentar
as expectativas de uma possível guerra entre Israel, o Líbano, a Síria, a
Hezbollah e o Irã.
Isso, então, nos leva às implicações positivas da
decisão de Trump.
Do ponto de
vista dos EUA, é bastante claro que, se uma guerra total irromper entre Israel e
a Hezbollah/Irã no Líbano e na Síria, os 2 mil soldados americanos não farão qualquer
diferença para Israel. Ao contrario, haveria pressão sobre Israel para não
escalar sua ofensiva para não colocar estas tropas em perigo.
Como Trump
não quer ser sugado numa guerra que colocaria os EUA em conflito direto com a
Rússia, manter as forças americanas na região é problemático. E ele tem suas
razões. O Pentágono e outras agências do governo americano, continuam a ser
gerenciados por membros nomeados por Obama que efetivamente impedem a ampliação
do mandato das forças americanas na Síria.
O mesmo ocorre
com o Líbano. Apesar de estar escancarado o fato da Hezbollah controlar tanto o
governo libanês quanto as Forças Armadas Libanesas (LAF), o Pentágono continua
a se opor ao fim do apoio dos EUA ao exército libanês apesar de repetidos
pedidos de Israel. E assim, nos últimos dois anos, a administração Trump
continuou a financiar e treinar o exército e a apoiar o governo libanês.
Parece que a
única solução para Trump se livrar da política pró-iraniana de Obama na Síria é
sair completamente do país. O problema é que ele não tem aparentemente nenhuma
alternativa para combater o crescente poder e influência do Irã na região.
Conforme
noticiado na mídia israelense, autoridades americanas informaram Israel na
quarta-feira, que se a Hezbollah assegurar uma posição mais poderosa no próximo
governo libanês, os EUA terminarão seu apoio ao exército e pedirão um embargo
econômico do governo libanês. Ao que parece, na quinta-feira a Hezbollah já
havia arrebatado os ministérios com os maiores orçamentos do Líbano. Agora é
esperar para ver o que Trump irá fazer com isso.
Do ponto de
vista de Israel, o apoio contínuo dos EUA ao governo e às forças armadas
libanesas, controlado pelo Hezbollah, tem sido uma grande preocupação. Em 2006,
devido ao apoio do governo Bush ao governo libanês, a então secretária de
Estado, Condoleezza Rice, proibiu Israel de atacar a infra-estrutura do Líbano
e outros recursos críticos para o esforço de guerra da Hezbollah.
A vantagem
que Israel ganha se os Estados Unidos deixarem de apoiar o governo libanês e
seu exército, é muito maior que o impacto da retirada de 2 mil soldados da
Siria. Ela dará à Israel a possiblidade de derrotar decisivamente a Hezbollah,
o de facto exército do Irã no Líbano, numa próxima guerra.
Comentando
sobre o anúncio de Trump na quinta-feira, o primeiro-ministro israelense
Benjamin Netanyahu disse: “Continuaremos a agir na Síria para evitar que o Irã
se fortaleça militarmente contra nós. Não estamos reduzindo nossos esforços,
vamos aumentar nossos esforços”.
E acrescentou: "Sei que o fazemos com o total
apoio e suporte dos EUA".
O tempo dirá se a decisão de Trump de remover as
forças dos EUA da Síria foi um desastre para seus aliados, ou não. Mas sem
dúvida, ao se distanciar das políticas pró-Irã de Obama na Síria e no Líbano e
ao dar seu completo apoio a Israel para que ela derrote seus inimigos, a
administração Trump está de fato fazendo Israel mais forte e mais segura.
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