Como lemos a cada
ano na Pascoa, a cada geração alguém se levanta para nos destruir. Na Páscoa de
2023, recitamos este verso como algo passé. Claro, Israel vive cercada
por inimigos, mas até outubro de 2023, parecia algo gerenciável.
E aí tivemos
a Páscoa de 2024. E nos demos conta que esta geração, é a de agora.
A diferença, desta
vez, é ver se conseguimos identificar quem é este “alguém” que se levantou para
nos destruir. Isso porque esta geração está sofrendo ataques de dois lados opostos,
tentando erradicar o Judaísmo – sim porque não é uma questão de raça, de crença
ou território, mas é o mesmo antissemitismo milenar que se levantou novamente
com o rótulo de antissionismo e a identificação de qualquer judeu do mundo com
o Estado judeu: o primeiro ataque é uma tentativa de destruição física vindo do
Irã, não só de Israel, mas dos judeus.
Neste final
de semana recebemos a terrível notícia do assassinato do rabino Zvi Kogan, um emissário
do Chabad nos Emirados Árabes a mando do Irã. Quanta coragem estes mulás precisaram
para sequestrar um religioso e matá-lo? Como o quê? Como retaliação contra
Israel pela destruição dos seus depósitos de mísseis? Seria engraçado se não
fosse tão trágico. Sim, eles podem matar judeus aqui e lá, mas não poderão
erradicar o Judaísmo.
Mas o segundo
ataque, é muito mais perigoso e ameaça a própria existência do Judaísmo no
Ocidente. E ele é feito não através de guerras ou ataques físicos, mas através
de uma ideologia perniciosa e indiciamentos.
Enquanto
Israel tem os instrumentos, decisão, e criatividade para lidar com os ataques
físicos, ela ignora os ataques ideológicos. Mas o que está acontecendo nos
quatro cantos do mundo, da Austrália para as Américas, passando pela Europa e
Asia, é uma tentativa do Ocidente de deslegitimar a ideia do Estado Judeu e por
tabela, negar a ideia do Judaísmo.
Com a decisão
esta semana da Corte Internacional de Justiça, um organismo que tenho
dificuldade de chamar de Corte, o inimaginável há apenas um ano, a prisão em
massa de judeus na Europa, está tomando forma. Além do primeiro-ministro
Benjamin Netanyahu e o ex-ministro da Defesa, Yoav Galant, estes “promotores”
que nunca foram para Israel ou Gaza, que nunca entrevistaram ou interrogaram
qualquer pessoa, e que tomam a palavra do Hamas como verdade absoluta, emitiram
mandados de prisão velados também contra judeus que serviram no exército de
Israel, aqueles que vivem ou trabalham na Judeia e Samaria e aqueles que, vejam
bem, “apoiam os crimes de guerra” dos judeus descritos acima – em suma, todos
os judeus de Israel e provavelmente uma grande parte dos que vivem na diáspora.
É claro que é
preciso ter a opinião pública do seu lado para justificar uma ação antijudaica
tão chocante. Mas do mesmo modo que isso foi feito na década de 1920, o mundo
está repetindo exatamente o roteiro, e culpando os próprios judeus por estas
medidas.
Em que mundo
um país democrático, com um governo eleito democraticamente, aonde todas as
etnias são representadas, que está em guerra, sendo atacado impiedosamente em 7
frentes todos os dias com centenas de mísseis, drones e veículos aéreos não-tripulados,
tem seu primeiro-ministro e seu ministro da defesa indiciados por crimes de
guerra sem qualquer investigação?
E países
iluminados e que se dizem “amigos de Israel” como a França, a Bélgica e outros,
já anunciaram que irão obedecer o mandado de prisão contra Netanyahu, Galant e
qualquer outro judeu que estiver na lista. O primeiro-ministro do Canadá,
Justin Trudeau, continua a doutrinar sua população e quem está disposto a
ouvi-lo. Ele diz que os judeus de Israel matam mulheres, crianças e bebês. O
presidente Biden deu carta-branca ao seu Departamento do Tesouro e de Estado
para impor sanções contra judeus que vivem na Judeia e Samaria. E até o Papa pediu
uma investigação para determinar se os ataques militares de Israel em Gaza
constituem genocídio.
De novo, só
para deixar claro. Quando Israel tomou Gaza em 1967, a população árabe era de
60 mil. Hoje é mais de 2 milhões. Se isso é genocídio, Israel é bem
incompetente.
O que estamos
vendo é uma mentalidade de aceitação da culpabilidade judaica. Como na Idade Média
quando todos aceitavam que eram os judeus que haviam provocado a peste negra
envenenando os poços de água. Somente se o judaismo e Israel desaparecessem,
nada disso estaria acontecendo com eles. Sim. Já vimos este filme antes e esta
é uma reprise. Que judeu será o próximo?
Desta vez o
ataque aos judeus é mais sofisticado do que na década de 1920. Há 100 anos, os
judeus foram acusados de contaminar a humanidade com a sua sub-raça, de ocupar
a Europa, apesar de representarem um pouco mais que 1.5% da população total, e
de corromper o tecido da sociedade europeia com suas ações malignas. Isso foi
suficiente para recrutar a maioria da população europeia e até americanas. Não
podemos esquecer que Hitler foi escolhido o Homem do Ano pela revista Time em
1938. A consequência foi a eliminação de 1/3 de todos os judeus do mundo.
Hoje, os
judeus são novamente acusados de cometerem crimes contra a humanidade, de
ocupar Gaza, de ocupar a Palestina (do rio ao mar) e de desestabilizarem o
mundo. E do mesmo modo que em 1920 os judeus foram acusados de causar a primeira
guerra mundial, hoje somos acusados de sermos a causa de uma possível terceira
guerra mundial com nossas ações contra o Líbano, Gaza, a Síria, o Iêmen, o
Iraque e o Irã.
A diferença
entre o antissemitismo das décadas de 1920 e 2020 é que hoje ela é mais difundida
pela mídia social e pior, é sancionada por organismos como a ONU, a União
Europeia, a Corte Internacional de Justiça e principalmente na mídia
tradicional.
E apesar de
isso estar escancarado para todos verem, e ser inclusive o tema do livro de Gol
Kalev “O ataque ao judaísmo: a ameaça existencial que vem do Ocidente”,
muito pouca atenção está sendo dada a este problema.
Isto é devido
em parte ao fato de muitos judeus na diáspora sentirem que isso não é com eles.
É só com os judeus de Israel. Igualzinho como os judeus alemães que se
consideravam primeiro bons alemães e que o problema era com os judeus russos.
Mas quando
levantamos este problema, a resposta é invariavelmente que temos mísseis
atacando o território de Israel todos os dias, os reféns ainda estão em Gaza, famílias
separadas morando em hotéis por mais de um ano, seus negócios e trabalhos
fechados, e filhos, pais, irmãos, maridos, noivos no exército, todos os dias algum
deles dando a vida para defender o país.
Então o foco
está na luta física, na guerra contra o Irã e seus proxies.
Mas o veneno
já permeou o Ocidente. As passeatas em favor do Hamas dois dias após o massacre
de 7 de outubro; os acampamentos nas universidades mais prestigiosas da América
e da Europa; o pogrom em Amsterdã; os ataques diários a judeus nos Estados
Unidos, de Nova Iorque à California; hotéis na Itália que recusam reservas de
judeus e israelenses; ataques em escolas desde o fundamental até o ensino
superior. E, como nos anos 1920 e 30, os judeus estão relegados mais uma vez a
esconderem sua origem e sua crença judaica.
A lição do
século passado é não esperar até ser tarde demais. Tenho certeza que Israel irá
atrás de quem matou o rabino Zvi Kogan nos Emirados mas e os outros tantos
ataques mundo afora que ficarão impunes? Quem pensaria que os loucos anos 20,
dos filmes, do jazz, trariam o Holocausto, que erradicaria a maioria dos judeus
europeus, apenas 20 anos mais tarde?
Hoje não
precisamos imaginar. Está claro demais. O ataque ideológico ao judaísmo está se
expandindo rapidamente e se tornando cada vez mais “normalizado”. Mas para combatê-lo
precisamos tomar o primeiro passo: reconhecer que ele existe.