Terça feira passada a Jordânia submeteu uma resolução no Conselho de
Segurança da ONU para declarar o Estado da Palestina. Como
era esperado, a resolução não passou. O interessante é que se Mahmoud Abbas tivesse esperado apenas 2 dias,
quando os membros do Conselho mudaram, ele teria os nove votos necessários o
que forçaria os Estados Unidos a exercer seu poder de veto. A pressa para que a votação acontecesse antes do
final de 2014 não teve lógica a não ser que Abbas propositalmente não queria
ver a resolução ser aprovada.
Mas independentemente disso, o jornal The New York Times, em seu
editorial de quinta-feira disse que “aos quase 80 anos, Abbas tem que estar
cansado e profundamente frustrado com os fracassos dos anos de negociação de
paz com Israel para alcançar o sonho de um estado palestino independente”.
Nenhuma palavra neste editorial sobre a responsabilidade de Abbas ou dos
palestinos por estes fracassos, mas uma abundância sobre os “políticos israelenses
de direita que se opõem a um estado palestino e o governo israelense de
Benjamin Netanyahu que continua a expandir assentamentos, tornando a criação de
um estado palestino viável, algo mais difícil”.
Imediatamente após a derrota da resolução, Abbas anunciou que pediria
para a Palestina se tornar membro da Corte Penal Internacional como ameaça aos
soldados israelenses. Mas até o New York Times reconheceu que esta
decisão de Abbas, irá “certamente piorar a situação, retrocedendo a causa do
seu estado ainda mais”. O jornal continuou dizendo que “ao tomar este passo
antes das eleições israelenses de 17 de março, Abbas deu nova munição aos radicais
israelenses para atacar os palestinos e rejeitar as negociações de paz”.
Assim, de acordo com o The New York Times, os palestinos deveriam
ter esperado até depois das eleições para tentar criminalizar Israel. Tudo isso
para não dar argumentos para a Direita. O jornal ainda disse que é possível que
a crise criada por Abbas “poderá trazer novas considerações sobre os
compromissos que ambos os lados têm que fazer para permitir seus povos a viver
em paz”. Em outras palavras, o Times acha que Abbas está forçando o eleitorado
israelense a pensar longamente antes de votar em Março. O que vemos é que este
como tantos outros jornais de prestígio no ocidente não entendem nada sobre Israel
ou seu eleitorado.
Alguém conhece algum israelense, face a ameaças políticas como estas
dizer “nossa, este Abbas está genuinamente interessado na paz e na
reconciliação”? “Puxa, precisamos aproveitar e correr para fazer a paz com este
chapa.”
Em contraste, o Departamento de Estado Americano entende a situação. Ele
declarou a iniciativa palestina “contra produtiva” e que “prejudica seriamente
a atmosfera com aqueles com as quais os palestinos precisam negociar e ao final
fazer a paz”.
A ameaça palestina de levar os soldados de Israel para a Corte Penal
Internacional não é algo que levará o público a apoiar a continuação das
negociações com Abbas, seu sucessor ou qualquer outro interlocutor mas irá
trazer mais votos para a posição da direita pois é prova que Abbas não quer
negociações, reconciliação ou a paz.
Então porque Abbas trouxe a resolução para o voto dois dias antes da
mudança dos membros do Conselho de Segurança? Afinal, no dia 1º de janeiro o
Conselho admitiu a Malasia e a Venezuela que nem têm relações diplomáticas com
Israel.
Porque Abbas sabia que mesmo com a maioria dos votos, os Estados Unidos
seriam forçados a exercerem seu poder de veto. Bem ou mal, a Autoridade
Palestina depende dos milhões de dólares que a América lhe envia direta ou
indiretamente para suas ONGs e instituições de caridade. Abbas decidiu que não seria
sábio colocar aquele que enche seu prato numa situação desconfortável.
Por outro lado, a França tentou submeter uma versão da resolução mais
conciliadora, reconhecendo o direito de Israel de existir e sua preocupação com
a segurança. Esta versão foi completamente rejeitada pelos palestinos. Mesmo
assim, a França, votou a favor desta resolução numa mal-guiada suposição de que
isso forçará Israel a voltar à mesa de negociações. Como se os palestinos já estivessem
sentados nela...
Os únicos países com coragem suficiente para declarar que uma solução
não pode ser imposta de fora para dentro num conflito desta magnitude e
complicação foram os Estados Unidos e a Austrália. A Inglaterra, Rwanda,
Nigeria, Lituania e a Coréia do Sul se abstiveram.
Sobre o pedido dos palestinos para se juntarem à Corte Penal
Internacional, Netanyahu corretamente disse que os palestinos têm muito mais a
perder que Israel. Primeiro, a Corte só pode ser acionada se o país em questão,
neste caso, Israel, não investigar os incidentes de guerra. Ora, o exército de Israel
é conhecido por não deixar passar nenhum incidente e de ser extra-agressivo com
qualquer conduta inapropriada ou ilegal de seus soldados. Colocar este governo
de união da Autoridade Palestina e o Hamas que sim, comete crimes de guerra
inescrupulosamente, sob a jurisdição da Corte Penal Internacional deveria
preocupar Abbas.
Mas como disse o The New York Times, Abbas tem quase 80 anos. Ele
está pensando em sua aposentadoria para gozar dos milhões de dólares acumulados
em bancos ao redor do mundo. Agora seu objetivo é deixar um legado. Um legado
que diz que ele tentou criar a Palestina mas o mundo lhe negou. Que ele fez o
tinha que fazer para trazer Israel ao julgamento na Corte Internacional. Se
isso terá consequências para seu próprio povo, ele pode repetir a famosa frase
de Luis XV: depois de mim o dilúvio.
A verdade é que esta situação é confortável para Abbas. Ele sente que o
momentum da comunidade internacional está com ele, contra Israel. Se ele
continuar com estes esforços de ser aceito nas maiores organizações
internacionais ele acha que uma solução acabará por ser imposta a Israel sem
qualquer concessão palestina.
Mas estes esforços também provam ao mundo o que ele se recusa a ver: que
os palestinos não querem negociações.
Isto levará Netanyahu a uma grande vitória em Março. Talvez seja isso o
que Mahmoud Abbas espera para lançar uma terceira intifada ou outra guerra
junto com o Hamas e acabar seu termo como o grande defensor da causa palestina.
Esta é a única explicação razoável para suas ações.
Se não for isso, estamos falando do Oriente Médio. Numa região aonde a
lógica, como a conhecemos, não existe. É aonde a opressão, a escravidão e a violência
reinam. Aonde a idéia de um Estado Islâmico bárbaro é atraente para milhares. Aonde
um oásis de democracia tem que batalhar sozinho dia-a-dia para sobreviver.
No comments:
Post a Comment